Um amor que transcende o tempo

Cap 48 - Confissão

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--- Ah - Ele olhou para frente - Todos os dias eu acordo no alojamento, como comidas saborosas, tomo banho e fico o dia inteiro nos muros de Gliese. Não tem muita coisa interessante.

--- Sério? - Olhei desanimada.

--- Sério... - Ele riu de minha expressão - A sua vida no castelo também parece ser rotineira e sem graça.

--- É, de uma certa forma é mesmo.

--- Hoje eu fiz uma coisa diferente... - Ele olhava para longe.

--- O que?

--- Sai com um amigo da guarda real, nós bebemos e ele me mostrou como era ótimo em galantear garotinhas ricas. - Ele riu.

--- Uau! - Eu ri da situação - Você está bebendo...

--- Sabe Aurora, quando vi o todos aqueles homens frustrados no bar, imaginei que a bebida iria me tirar da realidade deprimente que vivo, mas é tudo uma ilusão. Ela só torna as coisas piores do que elas já são - Ele tinha um olhar melancólico.

--- Joaquim... Você está chateado com algo? - Era minha chance de descobrir o motivo de sua tristeza.

--- Estou chateado com minha vida, Aurora, não vejo motivos para viver. - Ele tinha o olhar baixo - Tenho momentos felizes, mas eles são insuficientes, são insuficientes para me fazer querer viver.

--- Você não tem vontade de viver? Quer se matar?! - Olhei incrédula para ele.

--- Me matar não... mas se o destino quiser tirar minha vida, eu vou poupar esforços, deixarei ela me guiar ao mundo dos mortos. Talvez lá eu seja mais feliz.

--- Não diga bobagem, garoto! - Bati em seu braço - Você tem seu propósito nesse lugar, não tem?

--- Qual propósito, Aurora? Defender pessoas em vão? Você sabia que esse tempo todo pensei ter sido feito para defender as pessoas fracas da minha cidade, mas na verdade fui feito apenas para ser escudo de Gliese? Não só eu, mas muitos?

--- Joaquim, você protege as pessoas da sua cidade, você não está de todo errado.

--- Eu estou errado, sim! - Ele me olhava sério - O poder divino existe, nunca foi necessário a nossa existência. Fomos feitos apenas para ser o escudo temporário de Gliese.

--- Joaquim... não diga isso. Não baseie sua vida no que dizem ser seu propósito, seu propósito não é ser o escudo de Gliese! Você tem a força necessária para salvar as pessoas que você ama! Não é por isso que continua a viver? é isso que te faz necessário e importante. - Pus a mão em seu rosto - Eu me lembro, lembro do brilho nos seus olhos quando lutava, quando estávamos todos reunidos, mesmo nas brigas, o amor entre todos prevalecia. Você quer o bem das pessoas que você ama e pra isso, precisa lutar, não é?

Ele concordou com a cabeça.

--- Eu luto para proteger vocês, mas isso não me faz querer viver. Não é lutar, não é as pessoas que amo, não é nada disso. - Ele pôs os braços sobre os joelhos dobrados - Aurora, nada me prende nesse lugar... parece que tudo que me traz esperança e vontade de viver, me é retirado.

--- Como? - Me aproximei dele.

Ele tinha a cabeça encostada na árvore, seus cabelos caiam sobre os olhos, leves ondas formavam nos seus cabelos. Seus olhos azuis, não brilhavam mais, eram tristes e vazios.

--- Joaquim... - Passei a mão sobre seus cabelos macios - Tem algo que te trás vontade de viver que está sendo retirado de você? O que estão te retirando? Me diga, eu quero te ajudar...