Cap 8-

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Joaquim quase não falava o que sentia em relação a isso, mas seu semblante não deixava passar despercebido. Toda vez que olhava para seus olhos tristes, queria abraçar- lo e contar piadas para ele sorrir, queria que ele tivesse em um mundo melhor, não só ele. Todos ali mereciam um lugar melhor, mas Joaquim parecia o único que não expressava medo, mas sim angústia, amargura e melancolia. Eu sentia que em seu coração, ele nunca iria topar sair de sua planeta natal para um melhor.
Tenho certeza que se eu pudesse fazer tal coisa e fizesse essa proposta para os outros, eles não pensariam duas vezes. Abandonariam essas terras e iriam comigo, mas com Joaquim... Acho que ele nunca abandonaria esse lugar. Ele gosta daqui, mesmo com tudo isso. Eu podia ver em seus olhos a determinação de mudar esse lugar, para um lugar melhor, de dar a alegria novamente a si e a seu povo.

--- Tudo bem - Lucas dá uns passos até a porta e fica parado por um tempo- Droga!

Olhamos pra ele sem entender.

--- Eu também tenho certeza que vi aquele maldito prefeito escondendo sua agenda aqui! - Ele entra na sala de novo e começa a jogar tudo pro alto procurando a agenda - Vamos Joaquim! Não foi você que disse que viu também a merda da agenda. Mexa suas mãos e procure - Ele Franzi a testa irritado

Nesse momento, Joaquim não pode se deixar conter seu grande sorriso. Ele começou a procurar junto com Lucas e logo em seguida, João e a Menina também começaram a procurar.
Eu não sabia como era a agenda, mas comecei a procurar também.
Vasculhamos tudo, a sala queimada estava cheia de cinza e pedaços de livros pelo chão.

--- Se ele escondia aqui, provavelmente não está num lugar tão óbvio - João para de jogar os livros da estante no chão- Me ajudem a mover essa estante

Os meninos começaram a tirar as estantes do lugar deixando as paredes livres. Tateamos toda a parede, mas nenhum sinal de que a parede era falsa.

--- Talvez no chão- Joaquim dá uma ideia

Tateamos o chão, Lucas chegou até a bater no chão, mas não havia nada.

--- Vamos ver nos móveis, talvez tenha algo falso nos móveis. - Lucas começa a vasculhar as estantes.

E nós também, eu vasculhei a mesa. Também não havia nada. Depois de muito procurar nós paramos.

--- Acho que não tem nada aqui, talvez ele tenha deixado no porão mesmo... - João parecia pensativo

--- Não pode ser. A não ser que ele soubesse que iria morrer pra colocar em um lugar diferente.

--- Como era esse prefeito? - Perguntei a eles curiosa

Lucas me lançou um olhar desconfiado, mas João, sempre gostava de contar sobre o passado.

--- Nosso prefeito se chamava Richard, o prefeito da cidade baixa. Diferente do prefeito da Capital, aquela que passamos de ônibus, nosso prefeito não era um homem muito bem visto. Ele era bem carrancudo e ditador. Ele não pediu ao povo para fazer mutação nos bebês, ele simplesmente fez na marra. Os bebês que tinham sangue de mutação- nós - tinham que viver aqui. Nós sempre víamos o prefeito quando criancinhas, por várias vezes invadimos a sala dele sem permissão para pegar livros. Não era como se ele não deixasse pegarmos livros, mas tinha que ser com a permissão dele. Vira e volta, víamos ele com esse diário, absolutamente tudo no nosso dia a dia, ele anotava na sua agenda.

--- Entendo

--- Numa dessas invasões eu e Lucas, acabamos vendo ele guardando ela na gaveta. Mas é lógico que ele devia guardar ela em outro local mais discreto- Joaquim sorri sem graça

Um amor que transcende o tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora