É apenas conveniência

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POV S/n

As risadas e conversas pela a enfermaria não faziam mais barulho que os meus pensamentos, eu estava completamente aérea a tudo ao meu redor enquanto caminhava, refletindo.

Eu me sinto uma idiota por ter caído na lábia de Zulema.

Na verdade, nem sei o que eu esperava, estou num presídio feminino, e decidi me envolver justamente com a detenta mais perigosa, isso estava bem claro desde o dia que cheguei.

Assim que saí da enfermaria, sou distraída de meus pensamentos com Zulema entrando na minha frente, o que me fez dar um gritinho de susto.

– Porra, até que enfim, achei que teria que torcer meu pulso pra poder ficar lá dentro te esperando. – Ela se aproxima.

– O que está fazendo aqui?

– Você não me deu escolhas. Tenho que falar com você, agora. – Zulema me olha nos olhos, e desviei, pra ela não ver que eu tinha chorado.

Não disse nada, apenas a ignorei e continuei andando pra voltar pro pavilhão.

– Porra, fala comigo. – Ela me segue. – Dá uma explicação, pelo menos. O que tá rolando?

Decidi parar de andar por alguns instantes.

Eu não podia fazer isso comigo mesma, não podia me permitir olhar pra ela, ou sentir o cheiro dela, que eu só iria me torturar mais.

No momento, só quero me afastar até eu parar de gostar dela dessa forma, e voltar apenas ao que era antes, uma relação de trocas, nada mais.

– Zulema, no momento, eu só quero ficar sozinha, então dá pra respeitar o meu espaço? – A encaro. – Talvez amanhã eu queira conversar com você, mas hoje não. Só quero que entenda isso.

Não consegui conter minhas lágrimas, e saí de perto dela.

(~~~)

Quando cheguei na biblioteca, não escolhi um livro e nem fui para as mesas, apenas caminhei para os fundos e me sentei no chão, em um canto onde ninguém me visse ou ouvisse, escondida atrás das prateleiras.

Abracei meus joelhos e deixei o conforto do choro me dominar, talvez assim eu me sinta melhor.

Tenho certeza que se fosse apenas o beijo, ela se justificaria, eu acreditaria, e tudo voltaria ao normal depois.

E se eu não tivesse me deparado com o beijo, não acreditaria em nenhuma palavra que saiu da boca de Sandoval, mesmo com todos aqueles papéis.

Só que as duas coisas se complementam, as informações são compatíveis, e só reforçam o fato de que sou apenas uma trouxa sendo manipulada por ela.

Ao ouvir passos de alguém se aproximando, decidi olhar, e vi que era Alba.

– Ah tá, então é você. – Ela se aproxima, e fica quase do meu tamanho, já que eu estava sentada no chão. – Achei que tinha um rato preso em algum lugar por aqui, o barulho do seu choro é igual aqueles barulhinhos que eles fazem.

Não me contive, e dei uma risada.

– Nossa, sua forma de consolar as pessoas é bem específica. – Rimos.

– Que nada, não estou consolando ninguém, só vim avisar que já vamos fechar a biblioteca, então vai ter que encontrar outro cantinho de choro. – Ela explica, e eu bufo. – Amanhã se quiser, é todo seu.

– Ok, tudo bem. – Concordei e decidi me levantar, e ela me olhou por instantes.

– O que aconteceu?

Vis A Vis: Mi LibertadOnde histórias criam vida. Descubra agora