48 | Bodas de Papel

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Foi um alívio ver como as palavras saíram dos meus lábios como torrentes de água

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Foi um alívio ver como as palavras saíram dos meus lábios como torrentes de água. Sem lágrimas dessa vez, sem malditas lágrimas dessa vez. A vontade de sorrir ao lembrar de todo o sangue que pinta a minha sala é quase incontrolável. Eu finalmente estava livre desse segredo, livre de carregar todo esse peso, sozinha. Noah também merecia carregá-lo consigo.

— Quando encontrei meu avô, a alegria dele por ter conseguido finalmente salvar a sua linhagem era tocante. Não que eu realmente fosse importante para ele, mas eu era tudo que ele tinha. Mesmo sabendo que os interesses dele eram os de salvar o nome Poirot, eu me afeiçoei a ele. Só tínhamos um ao outro no fim das contas. Vovô amava meu pai, e por inferência passou a me amar também. Em um dia eu não tinha mais nada e no outro eu tinha absolutamente tudo. Tudo me era possível.

Eu não contei tudo o que aconteceu a eles, mas algumas coisas foram impossíveis de esconder. Eu iniciei um tratamento para me curar, e quanto eu estava saudável George começou a me treinar. Tive instrutores de tudo que era coisa, professores de idiomas, contabilidade, estratégia, mecânica, literatura e mais uma diversidade de coisas que nem nos meus sonhos eu imaginava existir. Eu tive cinco anos para ser aquilo que eu precisaria ser. Vovô não duraria muito, ele sabia. Ele tentou me casar inúmeras vezes, para conseguir um herdeiro e conseguir negociar a manutenção do nosso nome.

Obviamente eu fiz o máximo possível para não me casar, foram diversos pretendentes, mas eu sempre arrumava uma forma de escapar. Ele se sentia culpado por eu ter crescido com tanta miséria, então era fácil manipulá-lo. Ele não sabia, mas eu estava esperando por você. Meu avô morreu antes que você retornasse. E então, você voltou. — Noah pisca algumas vezes, sua expressão está estranha, ele parece doente — o que você faria se estivesse no meu lugar?

Firme como uma rocha. Foi assim que minhas palavras saíram. Noah não se movia. Seu olhar não se movia. Ele apenas continuava lá, parado, olhando dentro dos meus olhos, como se estivesse completamente perdido em pensamentos. Estático. Havia uma distância tão estranha e perturbadora entre nós agora que eu não sabia o que esperar quando ele finalmente esboçasse alguma reação.

Foram alguns minutos até que ele começasse a piscar, como um sinal de que estava despertando para a realidade. Aguardei pacientemente até que ele absorvesse tudo. Era uma história feia a minha, uma infeliz história que não poderia ser apagada. Nem mesmo com os pedaços espalhados de Arthur na minha sala de jantar. Isso jamais seria esquecido. Eu estava tão cansada de tudo, eu só queria que essa merda toda acabasse. Eu estava decidida a dar um fim em tudo.

Noah balançou a cabeça uma vez, depois mais uma, até que sua cabeça balançasse de modo quase frenético de um lado para o outro. Eu esperava essa reação. Seu pai sempre foi muito amoroso e cuidadoso com os filhos. As meninas sempre o elogiavam com uma admiração clara de quem era amado. Deixar Arthur saber que sua vida estava em minhas mãos por tantos meses foi um deleite. Infelizmente eu não poderia assistir ao seu desespero, mas eu sabia que ele o sentia, e isso já me deixava satisfeita.

A Senhora • COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora