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Seis anos atrás

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Seis anos atrás

O clima estava muito estranho, eu conseguia ver de longe uma quantidade nada comum de carros vindo em direção à comunidade. Isso não era nada bom, com certeza estava tendo alguma briga entre máfias e agora nós iriamos pagar por isso. Ninguém vem para cá, e quando veem não se importam se morremos ou vivemos. Nem o governo se importa conosco, já fechou os olhos tantas vezes para tantos massacres que aconteceram aqui. Somos irrevogavelmente invisíveis.

Teve uma época muito trevosa na comunidade onde levavam crianças como pagamento para dívidas de jogos e drogas. Nós nunca soubemos exatamente o que acontecia com essas crianças, e a maioria dos pais que perdia os filhos se matava pouco tempo depois. Eles eram viciados, e ao invés de receberem ajuda governamental recebiam o desprezo. Era como se nenhum de nós existisse nessa merda de país. Eu me sentia tão irritada ao compreender nossa insignificância.

Há seis anos meu irmão foi uma dessas vítimas, ele não era viciado, mas se empenhou para entrar e por fim trabalhar para a máfia Sloggers, e como consequência disso não durou um mês por lá. Ele não era ninguém, um mero soldado, na primeira disputa de território ele teve a vida ceifada. Mamãe chora até hoje pela morte dele, e eu sinto muita falta do meu irmão, mesmo que ele fosse um idiota ao acreditar que se associando a eles nós conseguiríamos ter uma vida melhor.

Mamãe recebia ajuda financeira de meu pai por algum tempo depois que nascemos, a nossa diferença de idade era de apenas um ano. Lembro-me de quando eu era pequena, nós não morávamos aqui. Morávamos em um bairro simples, mas tranquilo e muito melhor que esse. Porém por algum motivo que nunca fomos capazes de descobrir, meu pai parou de ajudá-la. Implorei por muito tempo para que ela me contasse quem ele era, mas mamãe nunca me deu uma única dica sobre isso. Apenas falava que ele era um homem perigoso e que se ele não quisesse cuidar de nós, ela não seria capaz de cobrar.

Aquela resposta vaga me irritava muito, mas eu sentia o seu medo. Eu sabia que se ela entrasse com um pedido na justiça, o obrigaria a nos amparar, mas também sabia que ela jamais faria isso. Em determinado momento eu desisti de perguntar. Não adiantaria de nada, apenas aceitei que nunca o conheceria e nunca poderia cobrar a ele a responsabilidade que ele deveria ter tido conosco. Talvez se ele não tivesse nos desamparado, hoje meu irmão estaria vivo. Suspirei triste ao ouvir o som dos carros cada vez mais perto e notar que as pessoas começavam a se movimentar para se esconder.

Era difícil se esconder aqui, nem todos cabiam dentro dos cortiços, algumas famílias eram tão grandes que se intercalavam para poder dormir. Magda frequentemente ficava comigo e com minha mãe para desafogar a própria casa. Às vezes o pequeno Miguel também ficava. Nossa casa era a menos populosa, mas também era a menor que havia ali. Vivíamos apenas eu e mamãe nela. Magda era a minha melhor amiga, eu faria tudo por ela.

— Eva! Estou com medo! — Ouvi a voz de Miguel um pouco longe, olhei para trás e notei que ele estava a uma distância considerada. Ele era um menino corajoso, mas estava com medo, e nessas situações ele costumava paralisar. Quem poderia julgá-lo, ele só tinha sete anos, não deveria se quer saber que esses massacres existem. Contudo essa era a nossa realidade quase diária. Olhei para ele decidida a pegá-lo e esconder ele na minha casa.

A Senhora • COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora