37 - Fundo do poço

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"Enquanto a terra cai aos pedaços... Oh garota, é com você com quem eu me deito. E enquanto a bomba atômica trava, é com você que eu assisto Tv."
As the world caves in - Matt Maltese
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Adrien's pov:

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- É isso...

Marinette encara-me em estado de choque.

É exatamente por isso que nunca contei essas memórias para alguém antes.

- Adrien... isso é terrível. - é só o que ela consegue dizer.

Assinto.

Eu sei que era terrível.

Ela parecia um pouco sem reação, como se assimilasse tudo que eu lhe contei. Então, junta meu corpo do dela e me abraça.

- Eu sinto muito por tudo isso. - ela sibila.

Com a cabeça em seu ombro, tenho a impressão que ela chorava.

- Eu nem sei o que dizer... - ao afastar seu rosto do meu, percebo que a azulada realmente tinha lágrimas em sua face. - Eu quero te ajudar.

- Não é necessário. - sibilo, com ternura. - Tô esperando meu pai voltar do trabalho... Ele com certeza vai me dar uma bela bronca.

Seu rosto ganha um ar de desespero.

- Ele não vai me machucar. - asseguro-a, adivinhando seu pensamento. - Depois daquela vez... A Nathalie sempre fica por perto.

- Seu pai é um monstro... - ela sibila.

Como se tivesse deixado alguma informação vazar, ela cobre a boca com as mãos.

- Desculpa... - diz, sem graça. - Não foi o que eu quis dizer.

Solto um riso anasalado.

- Eu concordo que ele não é a pessoa mais sensata do mundo, mas... é meu pai. Eu o amo, independentemente.

A garota encara a parede como se estivesse se esforçando para não dizer alguma coisa.
Não faço ideia do que poderia ser.

- Você gosta disso? - ela pergunta, um pouco ressentida. - De ser modelo e tal...

Preciso até pensar na resposta por uns segundos.

Era a primeira vez que me perguntavam isso. Quer dizer, a primeira vez que perguntavam de verdade.

Não sei se mentia ou...

- Não é essa a questão... - tento desconversar. - Eu sou um modelo.

- E você gosta disso? - ela insiste.

Suspiro e então ela acaricia meu ombro.

- Não. - confesso, finalmente. - Eu odeio.

Algumas lágrimas caem do meu rosto de forma desenfreada.

Minha namorada continua a me confortar.

- Eu... - solto um riso abafado e entre dentes. - Eu acho que só to indo com a correnteza.

E o meu pai era o mar.

Não disse isso em voz alta, porém parece que ela leu nas entrelinhas.

- Você é filho dele, Adrien. - ela diz, com os olhos nos meus, cheios de lamúria. - Não propriedade.

Lamento.
Por mais óbvio que isso fosse, eu não me sentia livre nesse quesito.
Talvez no fundo eu realmente fosse sua propriedade.

Sempre foi você || (Marichat-Adrienette-Miraculous)Onde histórias criam vida. Descubra agora