12 - Você vai pro Sainte Rose.

626 92 11
                                    

Marcos clicou sobre o documento que após alguns minutos começou a rodar o vídeo. A tela permanecia tremida enquanto filmava os tênis de um garoto caminhando. Marcos confuso continuou a assistir. O vídeo agora cortava para o mesmo menino, subindo em uma árvore conhecida por ele. 

— Gente vocês não podem acreditar, observem o que eu irei filmar! - A voz de Danilo saía no vídeo, enquanto a câmera focava em Maraisa e Gabi. 

Marcos conhecia aqueles pezinhos, eram de Maraisa, assim como o quarto do vídeo. Ele começou a ficar pálido. Pegou o mouse e adiantou dez minutos do vídeo, colocando no ponto exato em que ela e Gabi se beijavam loucamente. 

— Isso não pode ser verdade... Eu fui enganado debaixo do meu nariz? E pela minha filha?! - Começou a lhe faltar ar. 

Pausou o vídeo e gritou Almira, para que todos escutassem. Em poucos minutos a esposa apareceu pálida na sala, assustada com o grito. 

— Que foi Marco? Você me assustou! 

— Assis... Assiste isso! - Deu lugar pra ela na cadeira, enquanto ia até o canto da sala pegar água. 

Almira assistia ao vídeo com os olhos arregalados, não podia acreditar no que via. 

— Então todas as vezes que Gabriela dormia em casa, terminavam assim... - Sussurrava pra si mesma. 

As lágrimas vieram à tona, Marcos estava trêmulo. 

Os dois não acreditavam no que viam. 

— Ligue para a escola de Maraisa agora, quero ela em casa. - Marcos estava sério.

Almira assentiu pegando o telefone ainda tremendo. 

[...] 

Maraisa estava na aula de química quando a diretora a chamou para fora de sala. 

— Maraisa, seus pais ligaram. Pareciam um pouco nervosos e querem você em casa agora. 

Maraisa assentiu preocupada. Caminhou em direção ao seu armário dando de cara com Danilo que estava em sua aula vaga. 

— Seu castigo chegou, boneca. - Ele disse sorrindo malandro. 

— De que fala, pirralho? - Maraisa perguntou confusa. 

— Imagino que em casa você saberá... - Disse saindo de perto dela. 

Maraisa o fitou confusa, e agora com medo. Do que aquele menino sabia, que ela não? 

[...] 

— Papa? Mama? Cheguei! - Ela disse entrando em casa. 

— Estamos no escritório. - Marcos disse alto. 

Maraisa foi até lá preocupada, a porta estava entreaberta, ela entrou assustada, e se deparou com seus pais sérios em suas cadeiras. 

— O que significa isso? - Almira disse virando a tela do computador no vídeo pausado no exato momento do beijo. 

Os olhos de Maraisa ao verem aquilo saltaram do rosto. Seu estômago se revirava em mil, as mãos tremiam, e as primeiras gotas de suor desciam em sua testa. 

— Eu posso explic... - Dizia sendo interrompida. 

— Não, você não pode! ISSO NÃO TEM EXPLICAÇÃO, CARLA MARAISA! - Marcos gritou. 

— ESTÁ BEM! ISSO É VERDADE SIM! EU E GABI NAMORAMOS TODO ESSE TEMPO ESTÁ BEM? - Ela se entregou caindo de joelhos. 

— Como pôde? - Almira disse decepcionada.-Te demos tudo do bom e do melhor, para você virar uma lésbica de merda?! 

— E Bruno? Sabe disso? - Marcos tomou frente. 

— Primeiramente eu não sou uma lésbica de merda, eu fui muito feliz com Gabi. Segundo, tudo isso é uma mentira! EU ODEIO ESSE LUGAR, EU SÓ QUERIA VIVER EM SÃO FRANCISCO MESMO SENDO POBRE! - Ela gritou deixando as lágrimas descerem. — E terceiro, Bruno me ajudou em tudo. Ele é gay, e tem um relacionamento com Austin. 

— Meu deus! São todos uns mentirosos! Como vocês fizeram isso? - Almira colocou a mão no peito.

— Um por todos, e todos por um. À favor da nossa felicidade. - Maraisa soltou. 

As lágrimas tomavam conta daquele escritório, e Maraisa resolveu tomar a voz. 

— Tudo nesse lugar é uma mentira. Desde que viemos pra cá, só desgraças aconteceram. Não pensem que eu não ouvia as discussões dos dois de madrugada, por conta da droga de negócios. Quando morávamos em São Francisco, não havia nada disso, éramos felizes acima de tudo. Eu odeio esse lugar, eu odeio essa mansão, eu odeio toda essa necessidade de ser perfeita por ser filha dos grandes empresários Pereira, que na verdade são dois pobres. - Começou a falar em meio as lágrimas. — TUDO NESSE LUGAR É UMA MENTIRA! EU VIVO A ILUSÃO DE UMA FELICIDADE. - Disse derrubando duas jarras de enfeite no chão. 

— NÃO QUEBRE AS COISAS! - Almira gritou. 

— Há anos atrás, você jamais pagaria 600 dólares num vaso de enfeite. Até porque nós não tínhamos esse dinheiro. - Maraisa falou baixinho, aumentando o tom gradativamente. — Qual é Almira, o dinheiro e o poder subiram à sua cabeça? - Debochava. 

— Maraisa, você mentiu para nós! - Marcos disse. — Talvez se você nos contasse, tudo seria diferente. 

— Diferente como? Vocês são preconceituosos, rapidamente dariam um jeito de acabar com tudo! 

— Tomaremos providências sérias por esse seu ato, Carla. 

— E pra sua informação "Papai" - Disse debochando — Aquele dia da chuva, eu havia brigado com Gabi. Eu sabia que algo iria acontecer. Eu te odeio Danilo. - Sussurrou. 

Maraisa saiu do escritório chorando em direção ao seu quarto. Odiava a rua e a todos. Via seu quarto perfeito, o quanto tudo aquilo era desnecessário. Colocou tudo abaixo. Sei porta retratos foram arremessados ao chão, seu abajur voou pela janela. 

Pegou seu celular que vibrava sobre a cama. Era uma mensagem de Gabriela. Revirou os olhos que estavam tomados de lágrimas e abriu a mensagem. 

Gabi: Maraisa, não sei como isso aconteceu. Mas alguém enviou um vídeo íntimo nosso aos meus pais ontem à tarde. Eles surtaram completamente. Eu queria te pedir perdão por ter te magoado em nossos últimos dias juntas. Sim, últimos. Se lembra do nosso sonho de visitar Londres? Estou o cumprindo sozinha. Por obrigação, é claro. A partir de agora irei estudar num colégio interno, e depois que terminar, eles querem me enviar para a faculdade interna também. Foi ótimo estar com você todo esse tempo, eu te amo muito morena. E mais uma vez perdão por tudo. Beijos, Gabi. 

As lágrimas de Maraisa desciam com muito mais intensidade, e os soluços viam junto. Maraisa estava perdendo tudo aos poucos. Enfiou seu rosto em seu travesseiro e abafou seus gritos. Ao olhar para sua imagem eu seu enorme espelho, a raiva a dominou. Pegou uma de suas luminárias de leitura e arremessou contra ele, que se despedaçou completamente. Devido ao estrondo Marcos entrou correndo no quarto a ponto de vê-lo destruído e Maraisa caída em meio aos cacos. 

— Maraisa, levante-se daí! - A puxou com cuidado pra cima. 

— Esses cacos não formam nem a metade, dos cacos do meu coração nesse momento, papa. - Disse rancorosa. 

O nariz delicado dela, estava avermelhado, os olhos inchados. E o antebraço agora sangrava. Marcos a abraçou fortemente, não sendo correspondido. 

— Nós tomamos a melhor decisão. - Disse sério. — Se lembra que sua mãe estudou em um colégio de freiras? Ela disse que foi ótimo para construir, quem ela é hoje. 

— Você está me dizendo..? - Maraisa disse esfregando o sangue nas mãos.  

— Sim, Maraisa. Amanhã mesmo você vai pro Sainte Rose.

My sin - Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora