Capítulo 2

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O fato de retornar a mansão e ter feito Antônio se declarar para ela na frente de todos da pousada até podia fazer com que a fofoca se espalhasse e chegasse aos ouvidos de Agatha que o casamento deles havia resistido a sua volta. Mas o fato de ter havido uma briga, uma breve separação, abria um precedente, e Irene não queria que Agatha sequer cogitasse a possibilidade de acabar com o seu casamento.

Subiu com Antônio até o quarto em que estava hospedada para pegar suas coisas, em silêncio e pensativa, enquanto tinha um marido eufórico e falante ao seu lado. Antônio reagiu a resposta de Irene como uma vitória após a discussão. Era como se nada tivesse acontecido, como se nunca tivessem discutido. Para ele, seu mundo ideal estava volta. Irene a mulher que o conhecia, como ninguém e que dava sentido a sua vida atual. E Agatha, o seu grande amor do passado, que retorna à cidade com doces recordações do passado.

Depois de fechar as malas, Irene cruzou os braços e encarou o marido seriamente e aguardou que o mesmo se calasse, mas vendo que ficariam ali por horas, teve que interrompê-lo.

— Essa sua vontade toda de conversar é só por que eu to voltando pra casa, ou aconteceu algo que eu não estou sabendo Antônio?

— Que? Eu não posso ficar feliz? Você vai voltar pra mim, vamo embora logo que aquela casa ta parecendo um hospício, a Angelina parece uma alma penada, andando pra lá e pra cá atrás de você... Bora — Disse ele, dando costas e pegando a mala dela e indo em direção a porta.

— Eu disse que eu tinha as minhas condições, e eu não vou a lugar algum antes de conversarmos... — Ele estancou no lugar e deu meia volta encarando a mulher, que o encarava de volta seriamente.

— Você me prometeu que ia voltar pra casa... que que isso agora Irene?

— E você prometeu que iria me ouvir... É isso ou eu fico aqui, a decisão é sua.

— Por que você ta fazendo isso com o nosso casamento?

— Por que depois de 30 anos sendo a sua mulher eu esperava que você tivesse o mínimo de consideração por mim. — O vendo ficar em silêncio, continuou — Eu sei que o nosso casamento nunca foi perfeito, eu errei quando omiti sobre a paternidade do Daniel sim, admito, e acredito que paguei pelo meu erro quando Deus tirou a vida do meu filho prematuramente. Mas eu aguentei todas as suas traições com um bando de vagabundas e eu sempre te perdoei.

— Sim, nosso casamento nunca foi perfeito, mas eu já disse Irene, o nosso casamento é o nosso casamento, acabou o assunto.

— Acontece Antônio, que a Agatha não é uma vadia qualquer que você pega no bordel da Cândida. Ela é a mãe do Caio. É a sua primeira esposa, a mulher que você sempre usou pra me humilhar em todas as oportunidades.

— Por que você quer voltar nesse assunto? Eu achei que nós estávamos bem...

— Eu tenho que voltar nesse assunto porque eu não sei como você vai reagir se ela aparecer na sua frente de novo pedindo qualquer coisa. Que garantias eu tenho de que assim que eu voltar pra nossa casa, ela não vai aparecer e você vai sair correndo de novo atrás dela?

— Eu não vou fazer isso Irene

— Ah não? Porque você já fez isso uma vez e foi ridículo, totalmente patético. — Ele se calou, sem argumentos — Você fica enfeitiçado por essa mulher. A vontade que me dá é de mandar fazer uma coleira com o nome dela e botar no teu pescoço pra ela sair te puxando, quando você cai de quatro por ela igual um cachorrinho... Você está sendo humilhado diante de Nova Primavera inteira, é o assunto do momento, o corno do momento!

— Você ta me ofendendo

— EU QUE FICO OFENDIDA — O interrompeu furiosa — Eu fico indignada de ver o meu marido se humilhando pra mulher o que o traiu, que o abandonou com um filho nos braços e fugiu, FUGIU Antônio, com o médico que fez o parto. Ela matou um homem e passou 20 anos numa cadeia. Volta com essa cara deslavada, pedindo perdão, abraçando todo mundo e você, que é sempre tão desconfiado, não faz nada.

— O que que você quer que eu faça?

— Eu quero que você pense! Eu quero que você seja o Antônio La Selva que é casado COMIGO, o MEU marido! Questionador, desconfiado e que jamais se deixaria enganar por uma história ridícula de perdão e de pobre coitada injustiçada. — Antônio não tinha o que responder — Por exemplo, passou pela sua cabeça, por algum segundo, que a imprestável da Angelina soube todo esse tempo que ela estava viva, que ela estava presa e que NUNCA disse nada?

Antônio ouvia tudo o que Irene dizia que via seu mundo desabando aos poucos. Via que realmente tinha sido muito burro, Angelina havia sido uma serpente que estava sendo criada dentro da sua própria casa.

— Ela ouviu você dizendo para o Caio que ele foi o responsável pela morte da mãe, e nunca negou, NUNCA. A relação de vocês sempre foi péssima por isso e ela teve 30 anos a possibilidade de desmentir tudo isso e não fez. A Angelina pode ter ajudado essa cobra a forjar a morte dela, a abandonar o Caio recém-nascido nos seus braços e a fugir com o médico do parto. E sem saber, nós dois estávamos com essa mulher dentro da nossa casa, enquanto nós criávamos os nossos filhos lá dentro. — Vendo que Antônio estava atônito, mas que a entendia e que acreditava nela, Irene seguiu — Sobre o que mais a Angelina pode ter mentido? E eu posso saber qual foi a desculpa que a santa da Agatha te deu pra ter fugido?

— A Agatha me disse fugiu porque eu era muito ciumento e que acreditou que eu ia matá-la. — disse com a voz cheia de raiva, dele mesmo, entendendo o raciocínio da esposa.

— Supondo que seja verdade, SUPONDO, se ela tinha tanto medo assim que você a matasse, por que ela não pediu o divórcio depois que estava presa e condenada? — Antônio era uma confusão de pensamentos e sentimentos, sentou-se na cadeira mais próxima, achou até que ia passar mal a qualquer momento, mas Irene seguiu, não era o momento de ter piedade de Antônio — Se ela estava presa, estava segura, tinha proteção policial, você não teria como fazer nada Antônio, ela poderia ter pedido o divórcio e ter conseguido a liberdade que ela tanto queria, poderia ter brigado pela guarda do Caio. Ela teve 20 anos pra pedir isso e ela não fez. Ela não fez porque esse não é o plano dela!

— E qual será o plano dela?

— É isso que nós vamos descobrir. Mas pra descobrir o que essa mulher quer, eu preciso confiar que você não vai cair nessa conversa furada dela. Se ela tinha tanto medo de você, onde foi parar esse medo todo agora? Eu no lugar dela, se saísse da cadeia depois de inventar todo esse espetáculo de morte forjada, não apareceria na sua frente jamais...

— Isso não pode estar acontecendo comigo...

— Nós temos que agir rápido, pra te proteger, pra proteger até o Caio que já caiu que nem um bobo na lábia dela. Precisamos falar com o Silvério, você disse aquele dia que teve que arrumar uns documentos pra agilizar o nosso casamento, ela pode quer fazer algo contra você nisso também, meu Deus é tanta coisa, eu não consigo parar de pensar desde que essa mulher voltou, minha cabeça parece que vai explodir... O meu mundo ta ruindo, tudo desabando... Isso parece um pesadelo.

Irene andava pelo quarto de um lado para o outro, uma lágrima escorreu no canto de seus olhos e Antônio notou que a volta de Agatha a perturbava tanto o ou mais que a ele. Levantou-se e foi em direção a mulher, segurando em seus braços a abraçou apertado. Desabaram em um choro sincero, cada um com suas dores. Irene estava surpresa, mas feliz com a atitude do marido, apertou os braços envolta de seu pescoço e com a cabeça em seu pescoço soluçava, não queria perdê-lo, Antônio envolvia a cintura da mulher e sofria por ter sido enganado, por ter sido feito de idiota e por ter brigado com a única pessoa que esteve ao seu lado nos bons e nos maus momentos.

— Eu disse e repito, eu não sei o que seria de mim se não fosse você Irene. — Antônio disso em seu ouvido e Irene se afastou brevemente, para encará-lo. — Você tem que voltar pra casa e eu te prometo que eu não vou deixar que nada de ruim aconteça a nossa família, mas eu preciso de você ao meu lado, preciso que você esteja lá, lutando comigo. Nós dois juntos, vamos descobrir o que a Agatha planejou ou esteve planejando durante todos esses anos.

— Eu já disse mil vezes que eu nunca vou te abandonar. Eu sou a sua mulher, eu sou sua Antônio. Eu te amo.

— Eu te amo Irene La Selva.

— E então, posso contar com você pra lutar pelo nosso casamento?

— Juntos até o fim, eu não vou deixar ninguém entrar no nosso caminho Irene, ninguém. 

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