Capítulo 11

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Antônio e Irene viram a mulher trocar de mesa e seguir encarando o casal com ódio. Irene sentou-se ao lado do marido e disparou a deferir suas ofensas enquanto Antônio seguia olhando-a.

— Esse mulherzinha é uma descarada, vagabunda de péssimo nível, fica correndo atrás de você Antônio como se vocês ainda fossem casados, essa piranha não me desce, eu não suporto sequer estar na presença dela, sem falar nesse perfuminho barato que ela usa e enche o ambiente, que nojo desse perfume meu Deus. Sabe que eu tenho dó de quem dividia a cela com ela lá na cadeia, já pensou o cheiro/

— Escuta, será que por um acaso eu mereço pelo menos um bom dia da minha mulher? — Antônio cortou o monólogo da esposa.

— Não tô entendendo? — Irene se calou e encarando o marido completou — Por acaso eu disse alguma mentira?

— Não, nenhuma, eu só acho que merecia um beijo de bom dia da minha mulher, que saiu da nossa casa e veio aqui pra essa pousada, sem a minha autorização.

— Desde quando eu preciso da sua autoridade pra fazer alguma coisa Antônio?

— É você tem razão. Ultimamente você tem feito muitas coisas sem que eu sequer soubesse.

— Eu não tô entendendo essa discussão? O que que é Antônio, por acaso você queria que a Agatha continuasse nessa mesa com você? — Antônio fechou os olhos e não respondeu, não queria brigar, não a essa hora da manhã — O que que de tão importante você tem que dizer a ela, hein?

— Meu Deus do céu eu só queria um bom dia seu Irene. — Irene cruzou os braços na mesa e o marido seguiu — poxa que que isso?! Você saiu de casa e se meteu nessa pousada e me largou lá na fazenda da noite pro dia. 

— Você sabe muito bem por que eu saí de casa. E por falar nisso, o que que você tá fazendo aqui? — Irene o questionou abaixando o tom de voz, Agatha ainda encarava os dois — Esqueceu que o povo dessa cidade precisa acreditar que estamos separados?

— Do jeito que você tá me tratando pode apostar que eles vão acreditar...

Irene semicerrou os olhos e não queria deixar explícito o quanto odiou ver o marido e a ex-defunta sentados na mesma mesa, conversando baixo, parecendo íntimos e que o fato de estarem assim em plena luz do dia, deixava quem passasse acreditar que eles ainda tinham algo. Queria confiar em Antônio, guardava em seu íntimo o medo de uma hora para outra, ver o marido rastejando novamente atrás da ex-mulher como um cachorrinho adestrado.

Nunca confessaria, era orgulhosa demais pra confessar, que tinha medo de perder Antônio. Medo de perder toda a vida que eles construíram nos últimos 30 anos. Não era puro status, era a vida dela, o marido dela, os filhos e a família que ela e Antônio haviam construído.

Não era boba de achar que Agatha havia voltado somente para pedir perdão. Sabia que por trás daqueles malditos olhos verdes, havia uma assassina condenada que estava rondando a vida que ela constriu, querendo obter tudo o que pudesse de Antônio.

Antônio também sabia disso, mas o véu que um dia cobriu os olhos do marido em relação a Agatha era fino demais. Por mais que Antônio tenha se mostrado indignado com todos os podres que eles descobriram de Agatha, tinha medo que esse véu engrossasse e que Antônio começasse a dizer que o que ela fez nem foi tão grave assim.

Ela não era ingênua de acreditar que Antônio esqueceu completamente Agatha. Mesmo com as últimas descobertas, sabia que era recente demais. Ela levou um tempo para digerir toda a história, imagina Antônio, que passou os últimos trinta anos agindo e defendendo uma falsa Agatha. A mesma Agatha que ele sempre colocou em um pedestal. Na casa dela. A casa que ela criou seus filhos e construiu sua família ao lado de Antônio, aquela fazenda era a mesma casa que Agatha e ele viveram. A gravidez de Caio trouxe a Antônio a felicidade de ser pai pela primeira vez. Nunca mudaria isso. Nunca mudaria o fato de ter sido naquela casa, que Antônio guardou e reviveu constantemente a felicidade dos poucos meses que passou ao lado de Agatha.

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