O cheiro de álcool é o ar condicionado gelado foram as primeiras coisas que Irene sentiu, em seguida uma dor de cabeça forte, que pulsava e latejava, o aviso sonoro de algo apitava em seus ouvidos e que só fazia com que a dor piorasse. Onde estava? O que tinha acontecido com ela? Forçava sua memória a se fazer presente, e quando tentou levar a mão a cabeça, sentiu o acesso em seu braço, não sabia se sentia alívio ou desespero, definitivamente, estava no hospital. Se esforçou e conseguiu abrir os olhos, arrependendo-se imediatamente, a luz era forte demais, branca demais.
- Finalmente a senhora acordou...
Ouviu a voz de uma jovem enfermeira, que substituía o soro que corria em suas veias, tinha tantas perguntas, mas não conseguia fazer nenhuma, ainda estava perdida.
- Eu sei que é tudo muito estranho no começo, mas logo a senhora se acostuma, meu nome é Ana Carolina, sou a enfermeira que vai te acompanhar no dia de hoje, sente alguma dor?
- Minha cabeça, dói bastante...
- Você se lembra o que aconteceu? Acha que consegue me dizer o que houve?
A mente dela foi bombardeada com o desespero das lembranças, sofrera um acidente de carro, igual Daniel, seu Daniel tinha morrido daquela forma horrível e ela quase teve o mesmo fim.
- Eu bati o meu carro, mas é tudo muito confuso ainda...
- Não se preocupe, aos poucos as lembranças vão voltar, a equipe que te socorreu disse que a encontraram com a cabeça sobre o volante, você se lembra de ter batido a cabeça?
- Não, eu lembro de perder o controle do carro, mas é tudo muito confuso... - fez uma pausa, engolindo em seco, antes de completar - meu filho, meu Daniel morreu exatamente assim. Tá tudo muito embaralhado ainda...
- Como eu disse, descanse, nós temos as medicações, mas o tempo é fundamental em qualquer recuperação, eu vou pedir ao médico que venha examiná-la, qualquer coisa pode me chamar, tudo bem?
- Muito obrigada...
A enfermeira descartou o material da medicação que havia terminado e quando estava próximo a porta, a olhou novamente, quando Irene a chamou.
- Pode pedir pro meu marido vir me ver por favor... Ele se chama Antônio. Antônio La Selva.
- Eu vou verificar se ele está na sala de espera, se estiver eu peço pra ele entrar.
- Obrigada
Irene sentia-se segura, bem cuidada, mas Antônio ao seu lado faria toda a diferença queria seu marido ali com ela. Mas o tempo se passou e ele não entrava. O sono a tomava novamente, não queria dormir sem vê-lo, mas ele estava demorando muito, recusava fechar os olhos, mas o cansaço o venceu e ele não chegou. Não naquela noite.
As medicações deviam ser realmente fortes, por que Irene abriu os olhos quando os primeiros raios de sol surgiam no quarto que ocupava, teve um sonho perturbado, os flashs do acidente voltaram e ela agora lembrava de tudo. O freio que não funcionava, o volante pesado e sem controle que a fizeram se chocar contra aquela árvore ouvindo a risada daquela mulher maldita, que sempre cruzava o seu caminho.
Viu seus olhos marejarem quando percebeu que novamente acordará sozinha. Onde ele está? Por que ele não estava ao lado dela?
Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu, enxugou rápido as lágrimas que derramou, ele tinha chegado, agora sim, ela estava segura, mas não foi capaz de esconder a decepção que tomou seu corpo quando viu Petra entrando no quarto e correndo para os braços da mãe.
- Mãe, que bom te ver tão bem, eu fiquei com medo de te perder... - Disse enquanto se aproximava da cama hospitalar, com medo de tocá-la e piorar os machucados.
- Filha, tá tudo bem agora, eu estou bem
- Posso... Posso te abraçar mãe?
- Claro que sim minha filha, eu jamais vou te negar um abraço meu amor...
Petra não perdeu tempo em abraçá-la, só interrompeu o aperto com leve gemido que Irene deu devido a dor em seu ombro.
- Viu, eu sabia que eu ia te machucar, desculpa mãe...
- Não foi nada minha filha, é só o meu ombro, dói um pouco...
Petra não teve tempo de perguntar ou dizer mais nada, a porta novamente foi aberta e um médico entrou e as comprimento.
- Bom dia, eu sou o doutor Marcos, como você está dona Irene?
- Eu estou muito bem...
- Mentira, ela tá com dor no ombro.
- Petra!
- Tá com dor no ombro sim. E a cabeça dela? Vocês fizeram todos os exames? Meu pai me disse que tinha muito sangue, tem certeza que ela não corre riscos? Por que se ela tiver correndo riscos meu pai destrói esse hospital.
- Petra! Chega, que isso minha filha? Tá parecendo seu pai.
- Bom, primeiro sim, fizemos todos os exames na sua mãe, ela está bem, preciso mantê-la aqui apenas para observar o quadro já que acreditamos que bateu a cabeça no volante do carro, foi uma concussão leve, mas eu prefiro ter cautela e observar de perto.
- Eu vou ter que ficar aqui mais tempo?
- Sim, traumas na região da cabeça são, em alguns casos, traiçoeiros, eu prefiro não arriscar. E sobre o sangue, a região da face é extremamente irrigada, então qualquer corte, por mínimo que seja, pode realmente sangrar muito.
- E o ombro? Eu mal consegui abraçar a minha mãe...
- Também já era esperado que a sua tivesse dores nos ombros, é uma consequência frequente em acidentes automobilísticos, o motorista estende os braços para tentar controlar a direção e o impacto da batida pode levar a rupturas e lesões, o que felizmente não foi o caso da sua mãe.
- E vai ficar doendo por quanto tempo? Eu não gosto de sentir dor doutor.
- Eu já receitei analgésicos e relaxantes musculares, logo a dor passará e a senhora se sentira melhor.
Mãe e filha se olharam aliviadas, o doutor a examinou novamente e após sair do quarto Irene percebeu que Petra evitava falar do pai, tagarelando sobre todos em Nova Primavera, menos sobre Antônio.
- Petra.
- Oi mãe
- Cadê o seu pai?
- Eu... O meu pai? - Petra saiu de perto da cama da mãe e fingiu procurar algo em sua bolsa para não encará-la - Ah ele tá resolvendo umas coisas...
- Petra, olha pra mim.
- Mãe, eu juro.
- O seu pai está aí fora?
- Não.
- Ele esteve aí fora em algum momento desde que soube do meu acidente?
- Sim.
- E aonde ele esta agora, neste exato momento?
- Na empresa.
Irene estranhou e sua cara não escondia a estranheza de não tê-lo por perto quando ela sofrera um acidente. Tentava buscar motivos e razões para essa atitude do marido, mas não conseguia. A frustração então tomou todo o seu corpo, ele não está a lá pra ela. Ela não faria o mesmo se fosse o caso. Estaria ao lado dele até o fim, mas infelizmente o coração dele pertencia a outra, aquela sombra que atravessou a sua e só estava deixando nela lembranças que sangram demais. Como ele pode fazer isso com ela?
- Mãe, não chora por favor.
Irene só se dera conta que as lágrimas banhava o seu rosto quando a filha se aproximou e sentou ao seu lado.
- Eu tô aqui. Pra sempre.
Não soube o que responder, engoliu o amargor da decepção e assumiu novamente a expressão fria que tanto soube usar na frente de todos quando Agatha retornou.
Agatha não conseguiu matá-la dentro do carro, mas naquele momento ela se sentia morta por dentro.
- Ao que tudo indica... Ela venceu. - Petra não entendia, mas não tinha coragem de perguntar o que aquilo queria dizer. - Ela tirou ele de mim.
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I NEED YOU
Fanfic#antorene • Fanfic de que parte de uma suposta briga do casal Antônio e Irene La Selva após o retorno de Agatha e depois o reencontro na mansão. Recados: - tentei colocar as falas o mais próximo possível do que as personagens falam na novela, entã...