Capítulo 26

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Compartilhar aquele beijo era tão importante, para ambos. Poder demonstrar que eles seguiam sendo o que sempre foram um para o outro. Ela sabia que dobraria ele. Ele sabia que nunca ia conseguir esconder nada dela. Parecia calculado, mas era simplesmente companheirismo.

Estar ao lado um do outro, nesses 30 anos nunca teria sido possível se eles não confiassem um no outro. Ele tirou ela daquele bar e deu todo o respaldo para que ela jamais fosse ofendida por ninguém, muito menos pensamentos negativos sobre ela ele admitia. Ela confiou que ele seria um bom marido, se apaixonou perdidamente quando percebeu que ele a faria ser uma senhora digna. Ela jamais se orgulhou do seu passado, mas tinha muito orgulho de ter construído uma vida tão maravilhosa ao lado de Antônio.

Não eram a família perfeita, as brigas e os ressentimentos sempre eram jogados ao vento nas discussões entre eles, entre Irene e Caio, entre Antônio e os filhos que ele tanto tentava manter na linha. Linha essa que só era digna aos valores que ele pregava, não necessariamente aos valores éticos e legais.

Fora criado assim. Criou seus filhos assim. Mas Irene era a rocha daquela casa, sem ela, ele mal era capaz de escolher suas próprias roupas, a casa não funcionava, os filhos que eram problemáticos pareciam perder o rumo ainda mais.

Aquele beijo fugaz foi terminando de forma lenta e gostosa, o gemido dos dois se misturavam e tê-la em seu colo dava a Antônio a sensação de propriedade, a possessividade dos dois era irracional.

"Eu amo o Antônio, ele é meu", "Irene é minha esposa, minha mulher" eram frases ditas com tanta frequência que fora naturalizada. Mas o sentimento de pertencimento era real. Ela só se sentia protegida com ele. Ele só pensava em protegê-la. Sabia que não podia contar a ela sobre a chantagem de Agatha, mas ela inteligente demais para não ter percebido tudo, só restava contar pelo menos parte da história, e tentar controlar a situação.

- Você vai continuar me olhando sem dizer nada? Eu estou esperando você me contar tudinho o que está acontecendo...

- Adianta mentir pra você?

Ela somente balançou a cabeça em negação, enquanto encarava os lábios do marido.

- Foi a Agatha que sabotou o seu carro.

- Disso eu já sei. Ela fez questão de me ligar momentos antes da batida.

- Eu fui ao hospital, depois de ter te encontrado cheia de sangue naquele carro, e eu... surtei. - Irene levou as mãos dele que descansavam no sofá, até seu quadril, como se pedisse para que ele a tocasse, sentisse que ela estava protegida naquele momento, em seu colo - Ela... A Agatha me ligou, me chantageando.

- Antônio, você não tem por que cair na conversa dessa mulher... Eu estou bem amor


- Ela não ameaçou só você. Ela também ameaçou a Petra. - Antônio viu o corpo de Irene tensionar em seu colo.

- Se ela botar um dedo na Petra eu mato ela, eu já te disse uma vez, se ela chegar perto da minha filha eu não respondo por mim...

- Ela não vai fazer nada com vocês, eu te dou a minha palavra...

- Claro que eu confio na sua palavra, eu ouvi você pedindo pra aumentarem a segurança da fazenda... É por isso que você não quer que a gente saia de lá?!

- É, quem sai sou eu...

- Mas Antônio quem garante que essa mulher não vai atentar contra a sua vida? Como que você quer que eu fique protegida, despreocupada, com você longe? Sem saber o que essa bandida pode fazer com você...

- Irene eu não sou um homem indefeso, eu sei me cuidar!

- Antônio...

- Sobre isso não tem discussão. Eu saio de casa e pronto. Acabou!

- Antônio, nós não podemos ficar presas em casa, pra sempre. Um hora o meu embate com ela vai ter que acontecer, eu não vou abaixar a cabeça pra ela, muito menos deixar de viver a minha vida só por que ela acha que pode voltar depois de 30 anos.

- Isso não vai durar pra sempre, eu vou acabar com isso em breve.

- E enquanto isso eu fico sozinha em casa? Sem meu marido do meu lado, Antônio, eu não vou passar por isso não...

- Vai sim, ela exigiu o nosso divórcio e que eu passe meus bens pra ela, e é o que eu vou fazer.

- Você não pode estar falando sério!

- Estou. Eu nunca falei tão serio em toda a minha vida.

- Mas você me disse que nós não estamos divorciados.

- E não estamos. Mas ela não precisa saber da verdade. Você inclusive pode continuar gritando comigo, a vontade. Principalmente na frente da fofoqueira da Angelina. Aquele dia não deu tempo nem do Silvério pegar a estrada pra casa, que a Angelina já tinha passado o recado pra Agatha sobre o suposto divórcio.

- Essas duas desgraçadas, eu não acredito que ainda por cima eu vou ter que manter essa cobra na nossa casa. - Antônio assentiu, cansado.

- É só isso mesmo? - Irene encarou o marido que a olhou seriamente - Você não esta me escondendo mais nada Antônio La Selva?

- Não estou. Você só precisa confiar em mim Irene. Eu sei o que eu tô fazendo.

- Só se você me prometer uma coisa.

- Até duas...

- Promete pra mim que vai me dizer tudo o que está acontecendo com você? Eu quero todos os seus passos entendeu? Não interessa o que for, você não vai esconder de mim se ela fizer algo contra a sua vida...

- Eu prometo, te faço um relatório todo dia que tal? - Antônio aperto seus braços em volta dela e pode respirar um pouco menos aflito - Prometo te ligar se algo acontecer...

- Ligar nada, você vai me falar tudo pessoalmente, todo dia - Irene dizia contrariada levando as mãos a barba dele, fazendo o carinho que tanto agradava o marido - Vai me contar tudo, todo dia, na nossa cama

- Eu não posso ficar na nossa casa todo dia, ela vai desconfiar Irene

- Eu despacho a Angelina pra longe e você entra escondido, eu não vou ficar sem você por causa daquela empregada sem noção...

- Vamos virar amantes? - Ele disse antes de deixar selinhos na boca dela - Isso vai ser gostoso... - Antônio desceu os beijos pelo pescoço dela, que tentava manter-se séria, mas o sorriso era perceptível em sua voz...

- Eu tô falando sério Antônio, não brinca com isso

- Eu vou adorar ser seu amante...

- Bobo... - Irene completou rendida antes de deixar outro beijo em seus lábios... - Eu, confio em você pra nos proteger!

- Eu sei - Ele confirmou e tirou uma mecha de cabelo de seu rosto, a colocando atrás da orelha dela - nós vamos acabar com a Agatha. Ela nunca mais fará nada contra os La Selva.


Era isso que ele precisava, conforto. Ele não omitiu o fato de ter descoberto que Agatha havia matado Daniel a toa. Sabia que Irene poderia se cegar de ódio e acabar com as chances de minar o controle de Agatha definitivamente. Ele contaria, na hora certa.

- Tem mais uma coisa. - Disse ela cortando beijo, e o mantendo perto com a mão em seu queixo - A mais importante de todas!

- Você não disse que a gente ia se amar nesse sofá? Essa conversa tá longa demais já... - Ele dizia enquanto soltava o laço do macacão que ela usava.

- Eu tô falando sério Antônio. - Prosseguiu quando viu que ele a olhava risonho - Se eu souber que você encostou um dedo nessa vagabunda eu te mato - A risada que ele soltou quando notou o ciúmes em sua voz, a deixava ainda mais irritada - Se ela encostar em você, ou se você ousar chegar perto dela eu mesma acabo com vocês, não duvide de mim Antônio La Selva!

- Eu não seria maluco de ficar com uma arma carregada perto de você Irene La Selva, minha ciumenta...

Os beijos trocados ali já aliviaram a tensão do ambiente, mesmo sabendo que corriam risco, eles também sabiam que seriam capazes de ganhar aquela guerra. A fome agora os tomava, as mãos se tocando, suas roupas tendo o chão como destino, os gemidos que tomavam o escritório, não poderiam ser interrompidos nem se quisessem, estavam ali juntos, fazendo amor, despreocupados com a vida que corria fora daquela sala. Pensando somente em satisfazer o desejo que ardia neles por 30 anos, gozar juntos foi o auge da confiança que eles tinham um com o outro, nada ia mudar isso.

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⏰ Última atualização: Nov 24, 2023 ⏰

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