Capítulo 22

344 47 13
                                    

Choque.

Irene ouviu a frase sair da boca de Antônio, mas não conseguia acreditar e entender o que estava acontecendo. Não fazia sentido. Eles brigaram, ela saiu de casa e ele foi buscá-la, e agora ela estava ali, em sua frente, ouvindo sair da boca dele a palavra divórcio e vendo ele chorar.

Ela conhecia ele perfeitamente para entender que algo estava errado, as peças não se encaixavam, mas ela também tinha um coração ferido e abalado, que não suportaria viver longe dele.

Não quando a iniciativa do divórcio vem dele e vem dessa forma. Antônio estava enfeitiçado por Agatha, sempre estivera, mas pedir o divórcio quando eles estavam tão bem, não fazia o menor sentido. Ela ainda estava estática quando viu ele agir de forma estranha, dizendo e agindo como se aquilo doesse mais nele do que nela, e ela não entendia. Afinal, se ele queria o divórcio por que parecia sofrer? Por que estava chorando, não o viu assim nem quando eles perderam Daniel.

- Eu vou fazer as minhas malas enquanto o Silvério não chega

- O que que o Silvério vem fazer aqui? - Irene mal teve forças para perguntar.

- Eu pedi pra ele... Tá trazendo a papelada que precisamos assinar. - Engoliu em seco antes de completar - Do nosso divórcio.

Irene o encarava. Antônio fugia do seu olhar e mantinha o dele em qualquer canto daquele quarto, menos nela. Irene levantou e foi em sua direção e só começou a falar quando ele retribuiu o olhar.

- O que que é te faz falta? Eu juro que eu não sei, por que eu sempre Antônio, sempre te dei carinho e muito muito amor. Nós somos imbatíveis juntos, nessa cidade. E dentro do nosso quarto, na nossa cama, nesses últimos 30 anos nós fomos cúmplices. Brigamos com todo o mundo, e ganhamos sempre. Nessa cama, nós somos imbatíveis. Nela e fora dela. Tivemos filhos, os criamos para serem fortes como nós somos. Nós perdemos o nosso filho, perdemos o Daniel. Ganhamos um neto e vamos ganhar mais com os filhos da Petra. E mesmo assim depois de tudo o que vivemos você quer me abandonar e me trocar por aquela vagabunda.

Antônio derramou outra lágrima, quando viu os olhos dela cheios e molhados, Irene dizia tudo aquilo com a voz falhando e com o coração sendo partido em muitos pedaços, que ela sabia que não seria capaz de reconstruir depois.

- Quando eu ameacei e sai daqui você foi me buscar, me deu falsas esperanças e agora, de uma hora pra outra, você já pediu ao Silvério que fizesse a papelada do divórcio.

Antônio abaixou o olhar novamente e mal conseguia respirar, o ar não chegava aos seus pulmões, a única coisa que o mantinha firme era que estava protegendo ela e Petra, ele poderia sofrer sem estar casado com ela, mas era infinitamente menos sofrido do que saber que ela e a filha podiam morrer por sua culpa.

- Eu já tentei me enganar... olha pra mim quando eu tiver falando com você! - Ela só continuou quando o viu focar em seus olhos - Eu já tentei me enganar, eu quis acreditar que você não faz falta na minha vida. Eu já disse pra mim mesma, que eu tinha que me amar em primeiro lugar, que eu tenho que pensar somente em mim, viver a minha vida sem você. Mas infelizmente eu não sei arrancar você de dentro do meu peito, você está enraizado no meu coração e neste momento eu te odeio ainda mais por isso. Por me fazer te amar tanto nesses 30 anos e só ser capaz de me dar migalhas do seu amor.

- Eu também amo você...

- NÃO MINTA PRA MIM! - Irene conteve sua fúria - É assim que você me ama? Pedindo o divórcio? Se afastando de mim quando eu estou ferida, depois de ter sofrido uma tentativa de assassinato pela mulher que você tanto ama, aquela maldita que você faz questão de endeusar?

- Você pode não acreditar nisso agora, mas eu só peço que você nunca esqueça. Eu te amo.

- Você não tem o direito se me pedir absolutamente nada. Você devia se envergonhar de ser um homem tão fraco e tão mesquinho. Esse homem na minha frente não é, definitivamente, o Antônio La Selva com quem eu me casei.

- Você tem razão. Eu não sou mais aquele homem. Eu sou o homem que é capaz de fazer o que for preciso pra proteger a sua família.

- Do que é que você está falando? - Ela o encarava confusa e desconfiada, mordaz - Seja homem, e seja sincero comigo pelo menos uma vez na sua vida Antônio. - Irene gritou exaltada.

- Eu já te disse tudo o que tinha que dizer. - Os olhos vermelhos dele e a voz molhada do choro a fizeram ficar ainda mais confusa - Quando o Silvério chegar, eu estarei no meu escritório.

- Você não vai sair desse quarto enquanto não explicar o que quis dizer Antônio.

- Depois a Angelina faz as minhas malas... - Ele ignorava os questionamentos dela e seguia.

- Quem vai embora sou eu. - Ele apontou o dedo na cara dela e se aproximou para bradar.

- Você não vai sair dessa fazenda. Eu quero você e a Petra aqui dentro. Isso não está em discussão.

- Lógico que está em discussão. Eu vou embora dessa fazenda. Isso se eu não for embora da cidade pra nunca mais ter que cruzar o seu caminho.

- Eu já disse que você não vai embora dessa casa, você e a Petra não saem daqui de jeito nenhum, isso não é um pedido é uma ordem.

- Eu já te disse uma vez, mas pelo visto você não presta atenção mesmo nas coisas que eu digo, mas eu posso repetir: tá pra nascer o homem que vai mandar em mim.

- Você fica nessa casa nem que eu tenha que te amarrar no pé da nossa cama ouviu bem?! E não duvide de que eu seja capaz de fazer isso Irene. Não duvide.

Antes que pudesse rebater, Antônio virou as costas e saiu do quarto bufando e ainda mais irritado. Manter a esposa e a filha na fazenda era a única coisa que o manteria mais tranquilo. Chamou Ramiro e mandou que ele aumentasse a quantidade de capangas em volta da casa, Ramiro não entendeu nada, mas não ousou questionar o patrão que lhe gritava ordens como se um ataque pudesse acontecer a qualquer momento.

Depois de passar um tempo em seu escritório, se segurando para não ir até a esposa e contar toda a verdade, teve seus pensamento interrompidos por Angelina, que avisará que Silvério o esperava na sala. Antônio pediu que ela chamasse Irene, a empregada foi correndo, na tentativa de entender o que o patrão pretendia para poder informar a Agatha.

- Fez tudo o que eu mandei Silvério?

- Sim, está feito. Ela não vai desconfiar de nada, eu lhe asseguro.

A breve conversa foi interrompida pelo som dos passos de Irene, que desceu as escadas encarando a dupla e tendo Angelina em seu encalço.

- O que você quer de mim Silvério? Não está aqui pra ter uma reunião com esse desgraçado? O que eu tenho a ver com isso?

Antônio engoliu em seco e Silvério a cumprimentou temeroso.

- Veio aqui trazer os papéis do divórcio?

- Sim senhora, trouxe o acordo e gostaria que a senhora assinasse o quanto antes.

- Ah jura? Ainda por cima ele tem pressa - Irene respondeu ácida e sarcástica

- Quero que você leia com atenção e assine, por favor Irene...

- Não me dirija a palavra Antônio. Eu não preciso ler nada, se você não quer me ter como esposa mais, é isso que você terá, em breve eu vou embora dessa cidade e nunca mais quero ouvir falar do seu nome, muito menos estar em sua presença. Onde eu assino?

Silvério lhe deu os papéis, Irene não leu nada, assinou na linha pontilhada onde o advogado indicou e não voltou a cruzar o olhar com Antônio, não viu o alívio que tomou o seu rosto quando a viu assinar todos aqueles papéis. Subiu as escadas pisando duro e se trancou em seu quarto, a tempo de cruzar com Angelina pelo corredor e ver que a maldita fofoqueira escutava toda a conversa e claramente contaria a Agatha.

Ela tinha vencido. Pelo menos por enquanto.

Antônio acompanhou Silvério até o carro e o pediu que seguisse com o combinado, Silvério ainda achava tudo muito arriscado, mas era a escolha de Antônio fazer tudo daquela forma. Era o mal necessário.


I NEED YOUOnde histórias criam vida. Descubra agora