Capítulo 21

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Antônio assinava os papéis que havia pedido para Silvério preparar quando saiu daquela pousada, com um peso enorme sobre os ombros e quase sufocando de angústia, o nó constante em sua garganta era horrível. Mas faria o que fosse necessário, sofreria calado, essa era a melhor chance que ele tinha no final das contas.

- Você tem certeza de que isso vai dar certo Dr. Antônio?

- Silvério isso tem que dar certo.

- Eu ainda acho que deveríamos falar primeiro com a dona Irene, eu suspeito até que ela não aprovaria essa ideia.

- Silvério, eu preciso proteger a minha mulher e a minha filha, e esse, infelizmente, é o único jeito. Vamos fazer isso, prepara a papelada como combinamos e me encontra na fazenda hoje a noite, faremos tudo isso no jantar.

- Rápido assim?

- Quanto antes eu resolver isso melhor, não quero elas em risco por muito tempo, eu já resolvi todas as outras questões.

Silvério não argumentou mais, recolheu os papéis e as procurações que Antônio assinará e bateu em retirada sabendo que tinha que ser rápido. Antônio saiu do escritório pouco tempo depois e foi direto para casa, Petra o avisará que Irene já estava de alta, e que ela a levaria para casa, Petra foi sucinta, também estava chateada com o afastamento dele, mas as circunstâncias o obrigavam a agir com rapidez e ele o fez, só rezava para que no fim de tudo, Irene o perdoasse.

Ao chegar a fazenda, viu Petra na sala o aguardando, ela levantou e se encaminhou até o pai e quando ele se aproximou para beijar-lhe a testa, ela desviou o rosto e disse seriamente.

- Por que você está fazendo isso com a minha mãe? Ela não merece sua atenção nem mesmo quando sofre um acidente?

E antes que ele pudesse responder a jovem virou as costas e subiu a escadaria da casa batendo os pés com força, o gênio da mãe gritando nela, as vezes Antônio não sabia se Petra tinha mais trejeitos dele ou de Irene.

Antônio serviu um copo de whisky antes de subir, tinha vontade de virar toda aquela garrafa para tomar coragem de enfrentar Irene e de fazer o que tinha que ser feito. Estava fraquejando, cogitou até mesmo contar a verdade sobre a chantagem de Agatha para que ela o ajudasse a pensar em outra alternativa que não fosse a que ele usaria para cuidar delas.

Depois de beber encarando os degraus em sua sala, deixou o copo sobre o aparador e subiu até seu quarto em passos lentos e totalmente pesados. Encarou a porta e deu um último suspiro antes se virar a maçaneta e seguir. Viu a esposa em sua penteadeira como sempre, linda, apesar do curativo em sua testa e de fazer movimentos com apenas um braço, a tipoia estabilizava o ombro esquerdo e por não estar presente no momento de sua alta, ele não sabia por quantos dias ela teria que usá-la. Irene o encarava através do espelho, brava, decepcionada, como tantas outras vezes estivera quando ele estava no bar da cidade e não jantando ao seu lado.

A diferença é que dessa vez o ar estava carregado demais, com a certeza que de dessa vez ele a magoaria profundamente, e ele só pedia a Deus que um dia ela fosse capaz de entender e perdoar suas atitudes.

- Eu... - A voz dele ameaçou não sair, mas ele pigarreou e prosseguiu - Fico feliz de saber que você pôde vir para a nossa casa hoje mesmo.

Ela seguiu em silêncio e ele sabia que ela não estava fazendo cena, ela queria uma explicação e estava lhe dando apenas uma chance de falar, apenas uma, e era exatamente naquele momento.

- Eu não consegui ficar com você por que eu tinha uma papelada urgente pra assinar com o Silvério e eu acabei ficando preso no escritório. - Ela deixou de encará-lo, e focou sua atenção em suas coisas, fingia arrumar os cremes e suas joias na penteadeira. - Como você está?

Ela parou e voltou a encará-lo, levantou da penteadeira e foi em sua direção, mantendo uma distância razoável.

- Se você quisesse mesmo saber como eu estou, você deveria estar ao meu lado quando o médico me examinou, mas você não estava, então eu presumo que a papelada que você tinha que assinar é bem mais importante do que a minha saúde.

- Não foi isso que eu disse.

- Mas foi o que você fez.

O silêncio novamente se fez presente e ele não tinha argumentos, e nem poderia usá-los se tivesse.

- O mais interessante disso tudo foi chegar em casa depois de sofrer um acidente, e saber através do Luigi, que ele te viu saindo da pousada hoje cedo. - Antônio gelou e apertou a mandíbula com força. - Mais uma vez você colocou a sua ex-mulher acima de mim. Me deixou naquela cama de hospital, machucada, pra ir atrás da mulher que te traiu e fugiu com outro homem.

Não podia contestar, tinha que ser um calhorda, não havia justificativa a ser usada que não o comprometesse.

- Mas eu não vou discutir sobre isso. Eu não vou discutir mais nada com você, Antônio. Eu só gostaria de entender o motivo que te fez ir atrás de mim naquela pensão, pra me prometer e jurar que me amava, e na primeira oportunidade que surgiu, você ter colocado a Agatha novamente, em primeiro lugar na sua vida.

- Ela disse que precisava de mim. - Antônio mentiu.

- E eu não precisava de você? O que precisa acontecer comigo pra que você me coloque em primeiro lugar uma vez que seja?

O silêncio dele foi suficiente, a falta de respostas também era uma resposta. Mas nesse caso Antônio teve que conter a vontade quase histérica de dizer a ela que ele estava fazendo de tudo para colocá-la em primeiro lugar, ela só não poderia saber disso, não naquele momento.

- Acredite, você está em primeiro lugar. A nossa família é a minha prioridade.

- Mentira. Você nunca me colocou em primeiro lugar na sua vida. Eu sou capaz de arriscar que as terras da Aline são mais importantes pra você que eu. Elas só não são mais importantes que a Agatha. Por que essa sim, você faz questão de colocar num altar e ter essa devoção nojenta e tóxica.

- Eu errei. - Antônio estava novamente com aquele nó em sua garganta, lutando para fazer o que era preciso. - Eu deveria ter deixado você ir embora.

O choque correu o corpo de Irene, um arrepio cortava seu corpo e a voz sumiu. O baque da afirmação dele era doía mais que tudo. Ele sempre fingiu lutar por ela, o oposto agora acontecia e ela estava estática, sem reação alguma.

- Eu devia ter aceitado o nosso divórcio quando você sugeriu... - Uma lágrima solitária escorreu na bochecha do fazendeiro e seu corpo tremia de ódio por Agatha o obrigar a mentir para Irene - Eu... Eu não te amo mais.

- Como é que é? - Irene sentia que seu corpo estava pesado, as pernas fraquejaram e ela teve que se sentar novamente em seu banco da penteadeira, para ouvir o que ela mais temia em sua vida.

- É isso mesmo que eu estou dizendo. Eu amo a... Agatha. Eu nunca devia ter me casado com você.

- Antônio

- Ela é a minha verdadeira esposa. E eu preciso... dela ao meu lado.

Irene não podia acreditar, não acreditava em uma palavra que saia da boca dele. O conhecia bem demais para saber que ele não estava sendo sincero. Tudo parecia ser uma grande loucura, que ela não entendia o motivo e o propósito.

- Eu quero me divorciar de você Irene.


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