Capítulo 23

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Era óbvio que tinha algo acontecendo com Antônio, Irene não seria tola de acreditar que de uma hora pra outra, seu marido estaria pedindo o divórcio, sem motivos. Ele tinha um amor cego por Agatha, mas ele jamais mudaria de opinião tão rápido, muito menos quando ela estava internada, machucada.

É claro que ela estava borbulhando de raiva e de medo de que fosse verdade, que Antônio a largaria para reviver o passado com a ex-mulher. Mas os trinta anos de casados a fizeram conhecer Antônio muito melhor de que qualquer pessoa.

Ele não pediria o divórcio sem motivo.

Ele não a obrigaria a ficar na fazenda sem motivo.

Não teria motivos para manter Petra na fazenda também.

Ela tinha tido o ímpeto de descer as escadas e seguir brigando e gritando com ele, mas não o fez quando ouviu as ordens dadas a Ramiro para aumentarem a segurança na fazenda.

Agatha o estava ameaçando e ele não tinha coragem de admitir pra ela.

A rapidez com que ele pediu a Silvério que fizesse toda a documentação do divórcio foi totalmente sem propósito. Certo, ele poderia já ter tudo planejado, mas se esse fosse o caso, por que impedir que ela fosse embora, como ela já tinha feito anteriormente.

O que restava agora era descobrir o que estava acontecendo. Não teve nem tempo de contar a ele que Agatha era a responsável pelo seu acidente. Ou talvez ele já até soubesse, o que torna mais estranho o divórcio. Ele devia protegê-la, Antônio sempre foi cego por Agatha, mas nunca deixou de ser cuidadoso com ela, com seus filhos. Mantinha a guarda sempre alerta, quando as coisas não saiam como ele queria, Antônio surtava.

Assinou os papéis sem ler, de certa forma para mostrar ao marido que confiava nele, viu Angelina a espreita e não podia demonstrar fraqueza. Foi a pior coisa que já fizera na vida, nunca imaginou que um divórcio entre eles seria real. A única vez que isso a assustou foi quando a maldita retornou. Mas com os acontecimentos, com ele ao seu lado, isso evaporou. Seu coração estava tranquilo, até o acidente.

Não restava outra opção, tinha que tentar descobrir o que estava acontecendo com ele. E se tinha que brigar e fingir que o odiava, ela faria. Com o coração sangrando, mas ela faria.


Trancada em seu quarto, Irene não parava de caminhar um segundo, dando voltas, pensando no que Agatha tinha feito com ele? O que tinha dito? Por que ele não confiou nela pra sair disso tudo?

Tomou banho quando viu o dia clareando pela janela, o comprimido para a dor de cabeça desceu arranhando a garganta, não bebera com água. Não teve coragem de abrir a porta e enfrentar o silêncio frio daquela casa. Não queria descer e encarar a família. Encarar Antônio. Mas o fez, chegou a mesa do café e viu a filha comendo e deu bom dia, estranhando a voz rouca que saiu por estar a tanto tempo calada.

- Onde está o seu pai?

- Disse que ia pegar uns papéis antes de ir trabalhar... - Irene a encarava seriamente - Ele tá muito estranho mãe, perguntou se eu ia sair, pediu, quer dizer, gritou que eu tinha que ficar em casa hoje, disse que ia botar um capanga na minha cola se eu saísse.

- Não me peça explicações sobre o que se passa na cabeça do seu pai, se eu soubesse eu ainda seria a esposa dele.

- Como é que é? - Petra perguntou em choque

- Isso mesmo que você ouviu, seu pai me fez assinar o divórcio ontem.

- Isso não faz o menor sentido. O papai foi atrás de você naquela pousada, estava chorando e extremamente nervoso no hospital e agora você estão divorciados?

Irene sentiu um alívio ao ouvir de Petra que ele não havia estado indiferente a ela, estava agarrando qualquer sinal que o destino mandasse de que ele tinha que confiar no marido, quer dizer, no ex-marido.

- Mas se ele acha que eu vou ficar esperando por ele, ele está enganado. - Disse ela saindo da mesa, tendo seus passos interrompidos pelo chamado de Petra - Eu vou descobrir o que está acontecendo, ou eu não me chamo Irene La Selva.

Ela subiu as escadas, pegou sua bolsa e saiu em direção ao seu carro, a tipoia ainda imobilizava o seu ombro, mas ela só usava por ordens médicas, já estava se sentindo ótima, mais 5 dias e se livraria daquilo. Ramiro surgiu em seu encalço, quando viu a patroa indo em direção ao carro.

- Oh patroa, a senhora não vai sair não...

- Que isso Ramiro? Quem que você pensa que é pra dizer se eu vou sair ou não da minha casa?

- Eu num sô ninguém mesmo não, mas o patrão mandou eu gruda na senhora e eu vou gruda, vai sair não

- Ramiro, você tem duas opções. Ou você dirige pra mim, ou eu dirijo com um braço só. Qual vai ser?

- A senhora não vai sair sozinha não patroa

- Quer pagar pra ver? - Irene disse já abrindo a porta do carro e só parou quando o funcionário gritou sem escolhas

- Tá bom, tá bom... Eu dirijo. Mas se o patrão souber que eu fiz isso ele me mata, mato grosso do céu patroa - tentou dissuadi-la - fica em casa pelo amor de deus

- Eu não vou ficar trancada em casa. Anda logo que eu tô com pressa.

- Pra onde patroa? - perguntou quando se acomodou no banco do motorista, depois de ajuda-la a entrar na porsche dela.

- Pro salão de cabeleireiro

- É o que? Pelo amor de Deus patroa a senhora já tá bonitona já, fica em casa, o patrão vai me matar

- Ramiro, dirige logo. Deixa que do seu patrão cuido eu.

Ela não viu, mas Antônio ouviu o barulho do carro dela e apressou os passos em direção da varanda a tempo de ver a poeira que o carro dela deixará pela saída da fazenda, entrou irritado e gritando o nome dela, como se a buscasse. Esperançoso de que ela ainda estivesse lá, sob sua proteção.

- Eu falei pra Irene não sair de casa, ela não podia sair daqui, que raio de mulher teimosa meu deus - Gritou pela sala, sem ver que a filha e Angelina estavam na sala ao lado

- Posso saber o por que de tanta raiva matinal e tanto extinto de proteção com a sua ex-esposa.

- Que que é? Ex-esposa? Tá falando do que Petra?

- A mamãe me disse que vocês se divorciaram! - Antônio caiu em si e lembrou da papelada - Posso saber por que você tá agindo assim com a mamãe?

- Escuta aqui, eu não devo satisfações da minha vida a você Petra. Muito menos na frente dos empregados!

- Que isso Dr. Antônio, eu não sou só uma empregada, eu vi os seus filhos crescerem! - respondeu a governanta ultrajada.

- E daí? É só uma empregada sim, uma empregada fofoqueira que eu já devia ter corrido da minha casa a muito tempo, já pra cozinha, meu assunto é com a minha filha, sai daqui, vamo - Angelina saiu da sala humilhada - Eu tô indo atrás da minha mulher e você Petra, se sair de casa eu não me responsabilizo pelos meus atos, escutou? Em casa, acabou.

Petra estranhou o comportamento do pai, mas se viu sem oportunidade de rebater, o fazendeiro saiu irritado sem responder ao que ela tinha questionado, temendo que Irene estivesse ido atrás de Agatha, tirar satisfações pela batida que sofrera.

Pegou o carro e dirigiu em direção a cidade, desesperado, ele já havia esquecido como se rezava, faziam anos que ele tinha perdido qualquer vínculo que um dia tivera com um ser superior, mas naquele momento ele só sabia pedir que sua mulher estivesse bem.

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