Capítulo VI

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UTAHIME

Quando percebi o corpo de Gojo tombar para frente meu primeiro pensamento foi não deixar a cabeça se chocar contra o chão, não adiantou muito. O impacto só não foi maior pois consegui segurar a tempo.

O silêncio se estende enquanto tento assimilar os acontecimentos dos últimos cinco minutos. Fui acordada pela campainha, encontrei Gojo destruindo minha campainha, Gojo descobriu sobre o bebê, Gojo se encontra desmaiado na porta da minha casa ao receber notícia de que era o pai do bebê.

Graças a Deus ele desmaiou com mais da metade do corpo para dentro de casa, apenas suas pernas estão para fora, o problema é que ele caiu de frente e segura seu rosto estava deixando minha mão dormente, mas não queria deixar seu rosto no chão frio. Sinceramente, achei que fosse carregar só essa criança, nunca passou pela minha cabeça que teria que carregar o pai também.

— Bom dia...

Levanto a cabeça e encontro um entregador parado na porta de minha casa encarando o corpo desacordado de Gojo.

— Bom dia!

— Está tudo bem?

— Sim, apenas... — observo o físico do entregador, ele não conseguiria levar Gojo até o sofá, se Ieiri estivesse em casa, talvez, mas não sozinho, então peço o mais fácil. — Poderia me ajudar virando o corpo dele?

O rapaz parecia querer fazer perguntas mas não fez, entrou em minha casa com cuidado para não pisar em Gojo e virou seu corpo, como eu estava sentada no chão apoiou sua cabeça em minhas pernas.

— A senhora quer que eu chame a polícia?

— Não será necessário, eu conheço ele.

— Ele está bêbado?

— Acredito que não.

Gojo grunhi e olho para baixo, seus olhos ainda estão fechados mas suas pálpebras estão mexendo, isso significa que ele está acordando. Toco em seus cabelos tentando encontrar algum galo mas não acho nada, por hora.

— Utahime — ele abre os olhos brevemente mas volta a fechá-lo.

— Sim?

— Eu usei camisinha.

Ergo a cabeça para o rapaz ainda parado observando Gojo estirado no meu chão, eu definitivamente não queria ter essa conversa na frente de um desconhecido.

— Encomenda para mim?

Ele pisca os olhos parecendo voltar à realidade.

— Sim... Utahime Iori?

— Eu mesma.

Ele me entrega o pacote relativamente pesado que  acredito ser um dos vários livros que venho comprando por conta do meu repouso. Assino o papel usando meu pacote como apoio e entrego pra ele, e isso tudo aconteceu com Gojo ainda meio desacordado entre a gente. Quando vejo que o entregador não faz menção de sair, pergunto:

— Tenho que assinar mais alguma coisa?

— A senhora tem certeza que não precisa de ajuda?

— Sim, ele está assim pois acabou de descobrir que me engravidou.

— Eita.

É simples assim o entregador vai embora. Gojo ergue sua cabeça de minhas pernas sentando ereto, coloca a mão na lateral da cabeça com uma expressão de dor.

— Você acha que consegue ir para o sofá sozinho?

Assenti.

Levanto do chão com mais cuidado do sentei e me direciono até minha cozinha atrás de uma das minhas compressa de gelo, quando retorno a sala a porta da frente está fechada e Gojo está sentado em meu sofá de olhos fechados, me aproximo ficando de frente para ele.

— Acordado?

— Sim.

Não peço permissão quando mexo novamente em sua cabeça, não encontro nada mas assim que viro o seu rosto vejo o inchaço em sua têmpora, e com sua pele branca vai parecer que levou um soco.

— Está se sentindo tonto?

— Não.

— Vou colocar essa compressa em seu rosto, mas não vai fazer milagre — me inclino um pouco pra frente para ver o hematoma melhor — vai ficar roxo, mas vai sobreviver.

Coloco a compressa e me afasto para ver se coloquei certo quando sou pega de surpresa com os olhos azuis de Gojo me fitando.

— É-é, você pode levar essa pra casa, tenho várias.

Me afasto de perto dele e olho em volta caçando alguma coisa para organizar.

— Você está acostumado a desmaiar assim do nada? — pergunto.

— Só quando sou informado de que vou ser pai.

Certo, se ele queria começar por aí tudo bem, me direciono a uma minhas poltronas que fica de frente para o sofá e me sento.

— Eu ia contar que você era o genitor.

— Genitor? — ele repete a palavra com desgosto.

— Bem, eu não sei se você vai querer participar da vida do bebê.

— O que você tá querendo me dizer, Utahime?

— Que a gente não precisa de você.

Percebo o peso de minhas palavras assim que ela sai de minha boca e Gojo para de piscar me encarando. Droga! Estou fazendo tudo errado, não era assim que eu havia imaginado nossa conversa. Respiro fundo e tento novamente:

— Eu tenho dinheiro, uma casa e disponibilidade de mudar minha vida por essa criança, então eu entendo se você não quiser participar de início, se quiser entrar em contato quando ele ou ela estiver maior eu vou entender, vou entender também se você quiser abrir mão de toda responsabilidade, eu consigo ser mãe solo. Ninguém sabe que você é o pai e irá permanecer assim se desejar.

Um longo silêncio se estende, longo mesmo, Gojo colocou as duas mãos no rosto e ficou assim por muito tempo, eu também não ousei me mexer enquanto ele absorvia tudo o que eu disse. Ele dá um uma risada sem humor e tira as mãos de seus rosto.

— Você já planejou tudo não é?

Não respondo, pois seu semblante não estava muito amigável, Gojo não parecia muito feliz com minha ideia.

— Eu seria resumido como o doador de esperma da sua "inseminação artificial" é isso? — abro a boca para argumentar mas ele continua: — Não sabia que inseminação artificial era feita estilo cachorrinho.

— Você está sendo rude.

— Então tenta ser diminuído a um reles vagabundo sem credibilidade.

— Eu não...

— Você acha que eu não vou reconhecer essa criança? Sinceramente Utahime, você não me conhece.

— Eu lhe conheço já faz quinze anos Gojo, e justamente por isso que estou tentando ajudar você nessa situação, você é incapaz de ser responsável por uma criança. Foram anos vendo você fodendo mulheres, bebendo como se não houvesse o amanhã e viajando quando desse na telha!

Acabo me levantando da poltrona.

— Me desculpe se não quero fazer meu filho assistir essa libertinagem e achar normal.

— Nosso filho.

Gojo levanta do sofá e dá um passo em minha direção, dou um passo para trás me afastando, nunca o vi tão sério como agora. Ele era sempre sorrisos maliciosos ou fazendo gracinhas e ser alvo desse comportamento frio não estava me agradando.

— Estou indo embora agora, mas não vai achando que essa conversa terminou. — olha para a protuberância de minha barriga e justo nesse momento o bebê chuta, mas não esboço nenhuma reação pois Gojo continua: — E o fato de ninguém saber que eu sou o pai dessa criança não vai dura muito tempo.

E ele vai embora do mesmo jeito que chegou, me deixando totalmente atordoada.

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