Capítulo II

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UTAHIME

A última vez que meu coração havia batido tão rápido assim foi à quatro meses atrás quando me vi grávida de novo, dois meses após ter sofrido um aborto.

Fui noiva durante três anos de Ian, e nesses três anos em que estivemos juntos sofri quatro abortos. Estávamos querendo nos separar mas como fiquei grávida novamente resolvemos esperar o que meu corpo iria nos dizer, e como todas as vezes, no terceiro mês de gestação eu perdi o quarto bebê. Nos separamos depois disso, era o melhor pra gente, eu já estava na casa dos trinta e não estava ficando mais nova, e o sonho de Ian era ser pai e como estava claro que eu não era capaz de realizar esse sonho, a separação parecia o certo, e estava indo tudo bem, até eu transar com Gojo naquele maldito banheiro.

Descobri que estava grávida um mês depois do episódio no banheiro e eu entrei em desespero, eu chorei, gritei e me neguei está passando por isso novamente. Jurei a mim mesma que faria uma Laqueadura quando eu perdesse esse quinto bebê. Foram três meses esperando o pior acontecer e não aconteceu, e só foi quando eu estava entrando no quarto mês de gestação que finalmente fui procurar um obstetra.

Minha obstetra que me acompanhou em todas as minhas outras gestações estava de férias, no entanto ela me passou para o obstetra que a estava substituindo na clínica, que era nada mais nada menos que Nanami. Assim que ele me viu não demonstrou nenhum tipo de reação, olhou minha ficha médica normalmente e foi somente quando eu disse a data de concepção que ele olhou pra mim, e Nanami era inteligente, era só ele juntar um mais um que ele descobriria o genitor dessa criança.

Apesar do meu histórico de perdas, o bebê estava crescendo bem, mas eu teria que ter repouso pois a gravidez era de risco. Eu comecei a chorar e vou te dizer, não foi bonito, me xinguei e xinguei Gojo, pedi desculpas ao bebê e perguntei a Nanami se o bebê podia nascer idiota igual ao pai, e apesar de toda a cena deplorável, ele riu.

Desde então tenho feito repouso por completo, tudo acompanhado por Nanami. Tive que parar de ir para o meu estúdio de dança, que durante o dia funcionava ballet infantil e a noite era tango para adultos, e eu amo dançar, mas por essa criança que conseguiu sobreviver os três meses eu abri mão temporariamente de tudo isso. Deixei o estúdio por conta das meninas que trabalhavam comigo.

Quando contei para Ieiri que estava grávida, não contei quem era o pai, falei que foi um caso de uma noite (não especifiquei qual noite) e que por hora não queria contar pra ele, e sendo a melhor a amiga que é, não fez mais perguntas, apenas chorou com a notícia da gravidez. Era ela (e Ian) que estava sempre comigo quando eu chorava todas as minhas perdas e assim que descobriu que essa gestação era de risco pediu para morar comigo até o bebê nascer, pois segundo ela, nada de ruim vai acontecer com o nosso bebê arco-íris quando ela estiver presente. Eu aceitei.

Quando completei cinco meses anunciei minha gravidez para minha família, amigos próximos e uma foto clichê no Instagram, Ieiri fez todo mundo acreditar que foi por meio de inseminação artificial, e quando me perguntavam se era verdade eu apenas ria, não concordando e nem discordando.

A questão depois foi só o pai dessa criança. Eu passava tanto tempo olhando o instagram de Gojo, acompanhando seus stories, as festas que ia, as garotas com que estava que me vi obrigada a bloqueá-lo nas redes sociais. Se eu iria contar que ele seria pai? Sim, mas não agora, e não por direct no instagram, talvez quando bebê nascesse. Sinceramente, eu não queria me preocupar com isso, e não é como se eu precisasse da ajuda financeira de Gojo, eu sou rica, bem, meu pai é rico, e vendo que ele não se importou (muito) que sua única filha tenha engravidado de um estranho, estava tudo bem (ele gostou mais da versão da Ieiri).

E este estava sendo o meu plano, repouso total durante o resto da gravidez e depois contar, talvez, para o genito do bebê que ele teria um bebê. De novo, era um plano bom, isso até eu encontrar Nora, mãe de Gojo e minha aluna nas aulas de tango. Ela percebeu logo de cara minha gravidez, e o desespero começou a tomar conta quando percebi que era seu neto que eu estava carregando e ela não fazia a mínima ideia disso.

Não sei bem como aconteceu, mas quando dei por mim já estava cara a cara com o pai do meu filho.

— Oi gatinha.

— O-oi.

Percebo meu erro assim que respondo, eu nunca o respondia normalmente quando ele me chamava desse apelido patético, mas sério, de todas as formas que eu imaginei contando sobre o bebê não era assim, no casamento de Nanami e Sofie, e completamente sem palavras. Eu vou matar Ieiri, ela não deveria ter comentado que ele estava voltando? Eu teria me preparado melhor, eu teria...

— ...estressa, não é querida?

Pisco os olhos devagar, o que Nora acabou de dizer?

— Como? — Gojo pergunta a mãe, e mesmo ainda estando de óculos escuro posso ver seu semblante confuso.

— Está de quantos meses? Quase não dá pra ver com esse vestido. — finalizar colocando a mão na protuberância de minha barriga.

É isso, estava feito.
Sem escapatória.
Observo atentamente a reação de Gojo e ele parecia... calmo?

— Nossa, você está grávida, meus parabéns!

Hã?

— Não fiquei sabendo que você e Ian tinham reatado.

Ian? O que diabos Ian tem haver com...

— Vocês voltaram? — dessa vez é Nora que pergunta — Ian é um menino maravilhoso e vocês formam um casal tão bonito.

— É... — começo, mas eu realmente não sei o que ia dizer.

Espera, ele achava que eu estava grávida de Ian?

— Foi muito bom te rever Utahime — ele realmente está agindo como se não lembrasse daquela noite, e talvez realmente não lembre, eu pedi isso não foi? Apenas mais uma de várias. — Fico feliz por vocês, agora se me derem licença.

Gojo acena com a cabeça e se afasta, simples assim. Observamos ele caminhar até uma ruiva muito bonita que o recebe com um sorriso no rosto.

— Gojo é igual ao falecido pai dele. —
Nora balança a cabeça em desaprovação
— Por isso nos divorciamos, não conseguia ser fiel.

Então é isso, nem ao menos passou pela cabeça daquele imbecil que ele poderia ser o pai dessa criança, descartou a ideia tão rápido como a camisinha que usamos naquele banheiro, camisinha essa que era dele e com certeza estava furada.

Todo o nervosismo que eu estava sentindo é substituído por raiva e sinceramente, adoro Nora mas não estou escutando um terço do que ela está falando comigo no momento.

— Com licença Nora, mas eu não estou me sentindo muito bem, vou me sentar um pouco.

— Claro querida, carregar esse peso extra cansa mesmo.

Me afasto de Nora e me direciono a mesa que eu, Ieiri, Geto e Mei estamos compartilhando. Sento na cadeira com cuidado mas meu semblante de raiva deve ser perceptível pois Mei pergunta:

— Quem te mordeu?

— Porquê ninguém me falou que Gojo estava vindo? — solto.

— Tá explicado.

— Ele te irritou? — Geto que pergunta.

Eu não sei se é impressão minha, mas depois que Ieiri soltou sem querer que minha gravidez era de risco, Geto tem sido mais atencioso comigo, não que ele tenha sido ignorante ou coisa tipo, mas estava diferente.

— Não, só...

Olho em direção de Gojo e a ruiva, uma náusea toma conta de mim quando vejo os dois se afastando dos convidados e saindo da vista de todos. Náusea por me permitir sentir isso, eu sei como ele era e criar expectativas em cima disso foi um erro meu. Foi apenas sexo sem compromisso.

— Estou contente por meu filho ser fruto de uma inseminação, e que nunca vou precisar conhecer o pai dele.

Geto franze a testa sem entender meu comentário e Mei toma um pouco do seu champanhe balançando a cabeça em concordância.

— Na minha opinião, foi a melhor decisão que você já teve.

Sim, também acho.

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