Capítulo XI

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UTAHIME

A primeira vez que acordei escutei Gojo conversando com alguém, ele parecia tão animado que fiquei me perguntando se era a enfermeira de mais cedo que deu em cima dele descaradamente, ele parecia não ter notado mas vai ver me enganei. Tento abrir meus olhos mas estão inchados e pesados demais depois de tanto chorar.

— E quando o Capitão América olhar para o lado adivinhar quem aparece? Isso mesmo, o Falcão! Lembra do Falcão né? Então, depois vários portais se abrem atrás do Steve e meu Deus princesa, essa cena é foda pra caralho.

Eu não acredito que Gojo está flertando com alguém enquanto eu estou dormindo! Estou pronta para abrir os olhos e pedi que ele e sua enfermeira saiam do quarto quando suas mãos tocam minha barriga e sinto seus lábios perto dela, o calafrio que sinto não tem nada haver com o ar condicionado.

— Essa parte é um pouco triste, o Homem de Ferro morre para salvar a humanidade.

E o bebê em meu ventre mexe, e muito, em resposta a voz de Gojo.

— Sim, fiquei indignado, perdemos a gostosa da Viúva Negra e agora o Tony Stark também? Muito injusto.

Gojo não estava flertando com a enfermeira, estava apenas conversando com o bebê, um bebê que não parava de dar pulinhos em minha barriga e como suas mãos estavam ali ele com certeza estava sentindo. Queria muito ter escutado o resto da conversa, mas acabei dormindo novamente.

Quando volto acordar, consigo abrir meus olhos dormentes, e fico surpresa com duas coisa, a primeira é em ver meu pai no canto do quarto falando no celular em voz baixa, a segunda é ver Gojo dormindo com a cabeça apoiada na cama que estou, um de seus braços ele estava fazendo de travesseiro e o outro permanecia em minha barriga. Olho em volta e percebo a luz do dia saindo pela janela e me pergunto por quanto tempo ele ficou acordado.

Uma enfermeira entra no quarto, ela é diferente da outra que flertou com Gojo e quando percebe meus olhos abertos dá um sorriso simpático.

— Bom dia. — sussurra, tento responder mas minha boca está seca e não sai nada — Vou trazer água para você, senhorita Iori.

Senhorita Iori? Isso significa que...

— Utahime! — meu pai me abraçou, tomando cuidado com Gojo dormindo ao meu lado, mas não foi tão cuidadoso assim já que o mesmo acordou no susto. — Porquê não falou que estava aqui? Quase mata o seu pai do coração querida, quando me ligaram me informaram que minha filha estava internada aqui no hospital, achei que fosse me juntar a sua mãe.

Sim, certo, meu pai era diretor do hospital em que Gojo me trouxe e ele é muito chegado ao drama. Quando falei que ele aceitou minha gravidez — até então sem um pai — de boas, ele fingiu ter um infarto com a notícia, mas já conhecendo a peça não me abalei, Ieiri que ficou preocupada e contou a história da inseminação artificial, que ele é claro, adorou.

— Você está bem? — Gojo pergunta já em pé, seus olhos estão vermelhos e uma sombra escura já está aparecendo não disfarçando suas olheiras da noite mal dormida.

Os dois homens olham com expectativas para mim.

— Água. — sussurro.

A enfermeira traz a água e conto o que aconteceu para o meu pai, digo para Gojo que estou bem e realmente estava.

— Você é o pai? — meu pai pergunta de repente pra Gojo que estava observando com atenção a enfermeira tirar os fios de minha barriga.

— Pai!

— O que foi? Você vive falando mal dele e do nada ele tá aqui dormindo com a mão sobre sua barriga como se minha neta fosse fugir daí, tinha que perguntar.

— Eu sou o pai sim. — Gojo responde.

— E decidiu assumir só agora?

Certo, hora de intervir.

— Ele descobriu há pouco menos de uma semana que era o pai, então não o cobre por algo que não sabia.

Meu pai olha pra mim e faz cara de desgosto.

— Sinceramente Utahime, você está merecendo umas palmadas.

Gojo rir mas faz cara de sério quando eu o olho, volta atenção ao meu pai.

— O senhor nunca me bateu.

— Decisão horrorosa — seu celular toca e ele desliga sem mesmo ver quem era. — Mas o que vocês vão fazer agora?

— Como assim?

— Serena me falou sobre o seu quadro, e vendo que você já estava de repouso, agora nem levantar da cama sozinha você vai poder, precisa de alguém para lhe ajudar.

— Mas eu já tenho Ieiri.

Eu acho que ainda a tenho.

— E? Ela não consegue lhe carregar.

— Pois vou contratar um enfermeiro.

— Não! — os dois homens falam em uníssono.

— Como assim "não"? —olho para ambos.

— Eu sou o pai, é o meu dever cuidar de você e do bebê.

— Vai ser meio complicado você ficar vindo todo dia para minha casa apenas para me carregar até o banheiro.

— Isso não será necessário se ele já estiver morando em sua casa.

Rio com a ideia de meu pai, mas Gojo não riu, na verdade parece pensativo. Merda, não, não, não.

— Posso morar com você nesse período em que você vai estar de repouso.

— Uma ova que vai.

— Excelente ideia!

Isso estava saindo fora do meu controle e não estou gostando nadinha do rumo que está tomando. Estou pronta para argumentar que não, não é uma boa ideia morarmos na mesma casa quando Gojo segura minhas duas mãos e se abaixar para nivelar nossos olhos e esse foi o meu erro, olhar para o seu rosto.

— Utahime eu prometo que...

— Suas sobrancelhas são brancas. — E bem cuidadas, claro, ele é modelo, mas ainda assim, são bonitas.

— Sim.

— Seus cabelos são naturais mesmo? — nunca parei para pensar nisso. Desde que conheço Gojo ele tinha os cabelos brancos e nunca me deu vontade de perguntar se eram naturais.

— É de nascença, todos os pelos em meu corpo são brancos.

— Até lá? — quando a gente transou não deu pra ver muita coisa, dando o fato que eu estava de costas.

— Sim. — ele sorri respondendo, aquele sorriso de lado que deve conquistar várias mulheres por aí.

— Que diabo de perguntas são essas? — meu pai pergunta mas eu ignoro.

— Você é albino?

— Não, meus pais fizeram vários exames e não mostrou a falta de melanina em meu organismo, apenas nasci de cabelos brancos. — seus olhos azuis observam bem o meu rosto e o que ele está olhando não é nada demais, pele branca, olhos castanhos claros e cabelos também castanhos, a única coisa de destaque em mim é minha cicatriz. — Mas porque de tantas perguntas?

— Fiquei me perguntando se tem chances da bebê nascer com essas características. — azul e castanho da que cor? — Mas tá bom.

— O que?

— Você pode morar comigo nesse período de repouso.

Sabe quando você deixa a criança fazer o que bem entende e ela lhe dá um sorriso sincero que deixa você feliz por ter tomado tal decisão mesmo que se arrependa depois? Então, Gojo está me dando esse sorriso nesse momento. Ele aperta minhas mãos e dá um beijo rápido no topo de minha cabeça e se vira para falar com meu pai. Eu sinceramente espero não me arrepender disso.

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