Capítulo IX

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UTAHIME 

— Vocês estão brincando, não é? — Ieiri rir, e como não rio de volta ela fica séria. Olha para Gojo e depois para mim, e faz isso algumas vezes até solta um palavrão.

— Vocês fizeram sexo? — Mei pergunta soltando uma risada. Pelo menos alguém estava achando essa situação engraçada. — Isso é inesperado pra cacete, vocês percebem? Essa dinâmica de "a gente se odeia" era tudo uma farsa? 

— Cala a boca Mei!

— Eu? Quem fodeu tudo foram esses dois aí, literalmente. — e rir mais um pouco.

Eu normalmente gosto de Mei, mas não hoje, principalmente quando uma leve dor de cabeça estava começando a me irritar.

— Porquê não me disse que Gojo era o pai?

— Não fique surpresa, ela também não me conta muita coisa.

Ieiri olha pra Gojo e parece pensativa. 

— Por isso você perguntou sobre o sexo do bebê. — ele concorda.

— Ieiri, eu ia lhe contar. — digo inútilmente. 

— Sério, Utahime? Passei meses ajudando você com esse lance de ser mãe solteira e você nem pra confiar em mim para dizer quem era o pai do bebê arco-íris, você confiou. 

— Bebê arco-íris? — Gojo pergunta mas é ignorado.

— Ieiri... — tento falar mas ela me interrompe. 

— Eu sinceramente estou com pena dessa criança, os pais são dois idiotas imaturas que não sabem resolver nada com a porra de uma conversa. Vocês se tocaram que terão um filho juntos? Utahime você não é invencível caralho, eu mais do que ninguém sei disso, e Gojo, por causa de atitudes como essa de hoje que ninguém acha que você é capaz de ser responsável por alguém.

Suas palavras dói, dói pois eu sei que é verdade.

Ieiri tirar um cigarro do bolso e o acende, posso ver sua mão tremendo enquanto o leva a boca. 

— Você precisa se acalmar. — Geto se aproximar de Ieiri, tenta pegar o cigarro de seus lábios, ela resiste um pouco mas acaba cedendo, soltando a fumaça pelo nariz.

— Eles são dois imbecis. — Ela diz olhando somente para ele.

— Eu sei.

— Dois imbecis que fizeram um bebê. 

— Eu sei. — Geto faz carinho em seus braços tentando deixá-la calma. 

— Eu quero mandar eles se foder.

— A gente ainda tá aqui caso você não tenha percebido. — Gojo abre a boca, infelizmente. 

Sim, ainda estou aqui, parada pateticamente dando entretenimento de uma novela mexicana para todos presentes, juntando isso com minha dor de cabeça.

— Me leva daqui. — Ieiri diz para Geto ignorando totalmente eu e Gojo.

— Tudo bem. — Geto virá Ieiri em direção a saída do terraço que dá direto para fora da casa, mas antes de começar a andar ele vira pro amigo e meio sussurra, meio fala alto: — Resolve isso logo, Gojo.

Gojo não responde e ambos vão embora, o silêncio é doloroso, e quando até Mei não se pronuncia, limpo a garganta e me viro para Sofie e Nanami dando um sorriso forçado. 

— Me desculpem por isso, o jantar foi maravilhoso mas não estou me sentindo muito bem então vou indo.

— Deixa eu te examinar antes de você ir. — Nanami faz menção de se levantar, mas eu balanço a cabeça negando. 

— É só uma dor de cabeça, já vai passar. 

Dou um rápido tchau e vou embora pelo mesmo local que Ieiri e Geto saíram, não os vejo e deduzo que já foram embora e só quando estou no meio fio que percebo que estou sem carro e sem carona. Suspiro em derrota, não vou entrar novamente e muito menos pedir carona pra alguém, minha dignidade (e vergonha) não me permitem isso. Estou abrindo o aplicativo para pedir um carro para me buscar quando um Jeep Commander preto para em minha frente. Sei quem é o dono antes mesmo dele descer do carro.

— Não tô afim de conversar agora.

— Muito menos eu — Gojo da a volta pelo carro e abre a porta do passageiro para mim — mas levando em conta que sua carona foi embora e já tá tarde pra você pedir um carro, não vejo porquê negar.

Penso em dizer que prefiro tentar a sorte com o aplicativo mas desisto, estou cansada demais para estender ainda mais essa noite.

— Certo. 

Gojo parece surpreso por eu ter concordado tão rápido mas não diz nada, passo por ele e entro no carro e só quando coloco o cinto de segurança que fecha a porta. 

Passamos a metade do trajeto para minha casa em um completo silêncio e achei que seria assim até o final, mas achei errado pois Gojo começar a falar. 

— Eu vou falar e você não precisa responder se não quiser, apenas me escute, por favor. 

Olho em sua direção. 

— Me desculpe.

— Oi?

— Eu não queria ter terminado a noite assim, tinha planejado todo um discurso mas o tiro saiu pela culatra. 

Eu sei bem como é isso.

— O que tinha planejado?

Gojo fica em silêncio olhando a rua, tenho a impressão que ele parece um pouco nervoso mas é apenas impressão. 

— Eu quero.

Como ele não acrescenta mais nada, acabo perguntando.

— O que?

— O bebê, no caso ela, eu quero ser pai dela. Não sei o que preciso fazer pois estou totalmente perdido, por isso comprei uns livros e espero encontrar respostas neles.

Estou surpresa demais para comentar algo. Gojo que ser pai?

— Quero visitar o bebê, digo, a bebê, quando nascer, e quando ela estiver maior, eu, se você concordar, quero que tenhamos a guarda compartilhada, só se você concordar, ou só passar o final de semana comigo, por mim já tá bom também. Vou procurar um apartamento bom que possa acomodar uma criança, e prometo para com minhas... é... libertinagem? 

Ai meu Deus.

Meu Deus.

Gojo realmente, realmente, quer ser pai!

— Eu... — não sei o que dizer então solto apenas a primeira coisa que vem em minha mente que é: Tá bom. 

— Tá bom?

— Sim.

Vejo que paramos em frente a minha casa e apenas de ver a arquitetura vitoriana já me sinto melhor. 

— Não discorda de nenhuma das coisas ditas?

— Olha, Gojo, estou muito cansada para opinar em alguma coisa agora mas tudo o que você disse parece plausível pra mim.

— Nossa, quem diria que conversar civilizadamente dava certo.

— Ieiri vai ficar orgulhosa da gente — tiro o cinto e abro a porta — Aliás, se ela estiver no apartamento de vocês, e eu acredito que esteja, não deixe ela dirigir bêbada.

— Certo. 

Saio do carro e me viro pronta para agradecer pela carona, mas sou surpreendida pelos olhos arregalados de Gojo olhando para mim assustado.

— O que foi?

— Você está sangrando. 

Olho para meu vestido e vejo a mancha vermelha de sangue, e isso só poderia significar uma coisa. Eu estava perdendo o meu bebê. 

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