Capítulo X

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GOJO

A mão de Utahime estava gelada porém firme enquanto segurava a minha, as lágrimas não paravam de descer pelo seu rosto e seus soluços eram de partir o coração.

Quando percebemos a mancha de sangue em seu vestido ela retornou a entrar no carro e mandou eu ir para o pronto socorro mais próximo, e eu nunca ultrapassei tantos sinais como hoje. Utahime passou o trajeto até o hospital sussurrando palavras para a barriga, a maioria eu não conseguia escutar, mas a que ela mais repetia era "Por favor, não me deixe". Quando chegamos no hospital eu saí do carro rápido e a peguei no colo que não protestou, na verdade ela segurou meu moletom chorando e sussurrou em angústia.

— Não posso perder ela, Gojo.

— E você não vai, eu prometo.

Depois disso tudo pareceu um borrão, assim que entrei no hospital com ela no colo, os enfermeiros se aproximaram e tentaram pegá-la para colocá-la em uma cadeira mas eu a segurei firme e não deixei.

— Precisamos levá-la, enquanto isso o senhor vai na recepção da os dados da paciente.

— Utahime, trinta e um anos, está grávida e sangrando.

— Senhor, precisamos que você...

— Eu não vou sair do lado dela, ou você me mostra onde eu devo levá-la ou podemos passar o resto da noite aqui.

Vendo que eu estava falando sério, desistiram de tentar tirá-la de mim e os segui para onde ela seria avaliada.

Utahime está deitada com sua barriga exposta e uma médica obstetra a examinando com precisão, e é dessa forma que vejo e escuto o coração do bebê pela primeira vez, com sua mãe chorando e eu tentando ao máximo não mostrar que estou nervoso pra caralho.

Com minha mão livre enxugo as lágrimas de Utahime que insistem em cair.

— Eu já perdi quatro bebês. — ela confessa olhando para mim.

— Sinto muito. — tiro sua franja de sua testa suada. Meu Deus, ela já passou por isso quatro vezes, o seu total desespero fazia ainda mais sentido agora.

— Eu sempre os perdia com três meses, essa é a primeira vez que cheguei tão longe.

Por impulso aproximo minha testa da sua, vejo de perto sua cicatriz que vai do nariz até a orelha, e seus olhos castanhos claro com as pupila dilatada.

— Você não vai perder esse bebê, ela vai vim a esse mundo e você vai segurá-la nos braços e ela vai crescer sabendo que tem a melhor mãe do mundo, vai vê-la dançar ballet ou qualquer coisa que desejar, você vai passar por tudo isso, eu prometo Utahime.

— V-você não pode prometer isso, meu corpo é falho.

— Você é forte, e eu odeio o fato de estar lhe dizendo isso só agora.

Ela não diz nada, apenas encara meus olhos e pergunta:

— Você está nervoso?

— Pra caralho.

— Sinto sua mão tremendo segurando a minha.

— Desculpa — percebo que não soltei sua mão desde quando entramos no quarto e faço menção de soltar mas ela aperta me impedindo.

— N-não. — sussurra, sua voz já levemente rouca devido ao choro.

E assim ficamos até a médica nos informar o que aconteceu.

— Você sofreu um leve descolamento de placenta, identifiquei o local e não será preciso encaminhá-la para uma cesárea vendo que os batimentos cardíacos do bebê estão estáveis e o oxigênio ainda está chegando para ela, mas escute bem, você comentou que sua gravidez é de risco, certo?

Utahime assenti.

— Repouso total agora, nada de sair, pegar peso ou até mesmo levantar da cama durante os próximos meses, se precisar beber água, peça alguém. — a médica olha de relance para mim — Vi aqui que você está de vinte e cinco semanas, uma cesárea com esse tempo de gestação seria complicado, as chances do bebê sobre...

— Entendemos, doutorada. — a interrompo, não deixando finalizar o que estava prestes a dizer.

— Então, quando falo em repouso, é repouso mesmo, quanto mais tempo o bebê passa na barriga da mãe mais chance dele nascer saudável, entendeu?

Utahime assenti novamente incapaz de dizer algo.

— Vou passar uma medição, mas antes de começar a tomar conversa com o seu obstetra que a está acompanhando, certo?

— C-certo.

— Vou mantê-la em observação hoje só por precaução, mas está tudo bem com o bebê.

Se eu não estivesse segurando a mão de Utahime eu teria vacilado com minhas pernas. Nunca pensei que uma mulher fosse capaz de me fazer desmaiar, ficar tão nervoso ao ponto de me fazer tremer e suar frio, mas ela foi capaz disso, e ela só tinha vinte e cinco semanas e mal tinha o tamanho de um mamão e eu farei o que tiver ao meu alcance para protegê-la, assim como sua mãe.

♧♧♧

Já passava das três horas da manhã e ainda me encontrava acordado, olhando a enfermeira aferir a pressão de Utahime que estava dormindo profundamente depois de ter chorado tanto, o sono estava tão pesado que ela não mexeu nenhuma vez enquanto eu arrastava a cadeira pesada para o lado de sua cama e a observando dormir. O laço que estava usando durante o jantar já não se encontrava mais em sua cabeça e seu vestido foi substituído por uma camisola do hospital.

Enquanto a enfermeira organizava suas coisas para sair eu tento deixar Utahime confortável, arrumo seus cabelos soltos para frente e vejo se o lençol está a cobrindo bem, mas foi fazendo isso que acabei esbarrando em um dos fios que estava em sua barriga, fios esses que estavam monitorando os batimentos do bebê.

— Não se preocupe. — a enfermeira sussurra olhando para mim com um sorriso no rosto. Ignoro o sorriso e pergunto:

— Quando eu sei que tem alguma coisa errada? Com o bebê, se algo mudar, em que momento devo chamar alguma de vocês?

— Não será necessário, vamos vê-la a cada uma hora, mas se quiser deixar o bebê acordado converse com a barriga.

Franzo a testa.

— Conversar?

— Sim, os bebês já reconhecem as vozes dos pais nessa etapa, na verdade é bem importante, já é comprovado que conversar com o bebê durante a gravidez o acalma.

Uau, eu não sabia disso.

— Se precisar de algo mais, pode me chamar. — se despede com uma piscadela que eu mais uma vez ignoro.

Olho para barriga e franzo a testa, olho para Utahime que continua dormindo, e não posso acordá-la apenas para confirmar se era verdade, até pensei em pesquisar mas esqueci meu celular em meu carro, então sem chances.

— Tudo bem. — arrasto a cadeira barulhenta um pouco mais para perto da barriga e aproximo meu rosto da mesma. — Eu vi sua mãe conversando com você quando ela estava chorando, então acredito que você pode me escutar também, não é?

Sem nenhuma resposta, obviamente.

— Se eu conversar com você e você não tiver nenhuma reação eu vou ficar bastante chateado, princesa.

Eu definitivamente estou ficando louco, mas vamos lá.

— Você tá afim de escutar a ordem cronológica dos filmes da Marvel?

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