LeãoEnrolei tanto pra ir pra casa, que quando cheguei, a Jessica tinha almoçado e voltado pro trabalho. Nem vi ela. Não peguei meu celular, mas podia imaginar que ela tava me mandando mensagem pra caralho.
Só tomei banho e fui direto pro quarto, nem tava afim de comer ou de fazer qualquer outra parada.
Fiquei por um tempo olhando pro teto e pensando na minha conversa com a Bruna. Por mais que eu pensasse no nosso papo, não era isso que rondava a minha mente.
Fiquei pensando na Pétala. Na gente. O pior é que eu tinha ido pra casa justamente pra tentar esquecer essa história, mas lembranças de nós dois vinham na minha mente o tempo inteiro.
Era impossível esquecer.
No papo mais limpo, eu achei que fosse morrer sem aquela mulher na minha vida. Tudo o que eu queria, era que ela voltasse e agora ela tava aqui, de novo.
Era muito bizarro o jeito que ela me deixava, mesmo depois de tanto tempo. Mesmo depois de tanta coisa.
A nossa conexão era tão forte, que eu ainda sentia o toque dela quando fechava os olhos. E isso deixava eu ainda mais perdido do que já tava.
Por todo o tempo que a gente ficou separado, eu não procurei saber dela por rede social, porque tinha um medo da porra do que ia encontrar. Medo de ver ela feliz... de ver e ela com outro. Mas pior do que ver no celular, era saber que eu ia ver tudo pessoalmente.
Tirei o celular do bolso. Ignorei as mensagens da Jessica, da Sarah e do Black, entrando direito no Instagram.
Pétala Borges.
O destino era tão filho da puta que não me deu o tempo de pensar melhor e desistir. O nome dela foi o primeiro a aparecer na tela e eu logo abri o perfil. Parei na primeira foto, porque tava com medo de infartar se continuasse descendo, de tão rápido que meu coração começou a bater.
Pela dor que senti, parecia que ela tinha me deixado ontem. Parecia que eu tinha voltado a anos atrás, lá nos primeiros dias sem ela, e cheguei a sentir o gosto amargo da culpa preso na minha garganta.
A Pétala sempre fez com que me sentisse eu mermo, tá ligado? Ela fazia parecer que eu era indestrutível, mas quando ela foi embora, eu fiquei completamente destruído.
Ela fazia eu escrever música, pô. Música. Era meu sonho, e ela sabia. Dizia que eu era o melhor que ela já tinha escutado, e era tudo que importava pra mim.
Quando acabou, e ela foi embora, joguei tudo o que eu era fora. Tudo o que ela gostava fora. Porque não queria ser mais o mesmo, sem ela. E também porque pensava que de uma forma ou de outra, ela ia voltar correndo pra me concertar, pra tapar os buracos que a sua falta me deixou, e jurei que um dia nós dois ia se reconstruir juntos.
A minha cabeça tava a mil por hora, mas mesmo assim não acompanhava as batidas do meu coração.
Fechei os olhos quando fui bombardeado de lembranças.
Pétala: Eu te amo - sussurrou, quando eu beijei o pescoço dela, sentindo suas unhas arranhando a minha nuca - Eu confio em você.
Foi a primeira vez que ela se entregou pra mim, um mês depois que a gente começou a ficar sério. Fui o homem mais feliz do mundo naquele dia. Tinha me sentido completo, de uma forma que eu nunca senti na minha vida.
Nem antes, e nem depois.
Ela ainda me tocava, e seu corpo pegava fogo de uma forma tão intensa, que eu só tinha vontade de foder com força... mas era a Pétala. Era a primeira vez dela e eu queria que muito que ela tivesse a melhor lembrança desse dia.
Mas as lembranças ficaram comigo.
Do corpo dela, do rosto dela, respiração acelerada e do jeito que ela apertava os olhos cada vez que eu tentava encurtar ainda mais a distância do nossos corpos e tornar aquela mulher minha de uma vez por todas.
Sentei na minha cama tão rápido que me assustei, afastando todo tipo de lembrança daquela noite da minha cabeça, e logo de cara voltei a ver a foto no celular, que continuava em minha mão.
Impossível explicar a sensação de ver uma foto dela depois de tanto tempo. Mesmo mais madura, mais mulher, ainda parecia ser exatamente a menina por quem eu me apaixonei.
@petalaborgs: deixe o seu sorriso aberto. É por ele que o amor costuma entrar.
Ignorei os comentários. Tava com medo mermo, vou mentir não. Eu precisava colocar tudo isso pra fora e tentar ao menos organizar as vozes da minha cabeça.
Deixei o celular encima da cama, e fui até o meu guarda-roupa, onde a Jessica não mexia porque achava que ficavam as coisas de trabalho do Leão. Eu peguei o caderno esquecido a muitos anos, e procurei por uma caneta em qualquer lugar.
Nem precisei de cigarro. Uma caneta, um papel e uma foto da Pétala, me levavam pra longe.
Escrevi por umas duas horas.
Eu ainda via ela em cada parte da minha vida, em cada parte de mim, do meu dia, do meu pensamento, por mais difícil que fosse, eu tinha que admitir.
O que eu ia fazer? Tentar voltar no tempo? Correr atrás dela?
Esquecer não era uma opção. Tinha tentado por anos e o resultado foi ter virado a minha vida de cabeça pra baixo.
Ainda com o caderno na mão, folheei até a última página, sabendo o que eu encontraria ali. A Pétala escreveu na última folha do caderno, quando eu tava trabalhando de motoboy e tinha desistido do sonho de cantar. Pra me incentivar, ela dizia que toda vez que eu pensasse em desanimar, eu deveria voltar até a última página.
"Para o amor da minha vida,
Seus sonhos são o que me motivam a sonhar todos os dias. Sempre que eu vejo o brilho nos seus olhos depois de compor uma música nova, sinto como se fosse um novo ano e chove esperança no meu peito.
Eu te quero pra sempre. Não desiste da gente. Não desiste de você. Te amo até o fim.
Sua Pétala."
Ler aquela mensagem agora, era como ler ela pela primeira vez.
Meu coração ficou apertado.
Eu não podia ter desistido da gente, porque no dia que fiz isso, também desisti de mim.