Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Leão
Chegando no plantão nem teve caô. Os cana não tinham aparecido de novo depois do que rolou de madrugada. Mas o Mendonça mandou convocar reunião com os cara da maior confiança dele, para dar um aviso.
O bagulho tava muito louco e os cara não estavam dispostos a desistir. Não sem pegar o chefe. Agora a atenção tinha que ser redobrada. A gente sabia que ia ter outra tentativa, só não sabia quando, e por isso não dava pra ficar bobeando.
O toque de recolher continuaria até o fim de semana, mas se sentisse necessidade, o Mendonça disse que ia esticar por mais um tempo.
Black: É, mas aí nem é maneiro - falou, atraindo a atenção toda pra ele - Os cara do comércio já tão reclamando do toque de recolher. Tão deixando de ganhar dinheiro e isso vai dar dor de cabeça para o nosso lado.
Mendonça: Tão reclamando porque tá fechando as dez da noite? Quem que tá reclamando? Só se for os cara do bar e puteiro, né? - o Black concordou - Aí o problema é deles, manda abrir mais cedo. Não quero saber. Não tem hora pra beber e comer buceta, é só os cara se organizar.
Pato: A gente resolve essa parada.
O Mendonça concordou, depois disse que ia pra casa descansar. Porque com todo o rolo que deu, ele nem tinha dormido, e até pra dormir, tinha que ser com o olho bem aberto.
Leão: Ae, Black - chamei, quando nós colocou o pé pra fora da sala do Mendonça.
Não era sempre que nós caia junto no plantão, mas toda vez que tentavam invadir, o Mendonça pedia pra nós ficar na madrugada.
Black: Fala, meu parceiro - parou de andar e me olhou.
Apressei o passo até parar do lado dele e cruzei os braços.
Leão: Qual que foi da parada com a Pétala? - ele jogou a cabeça pro lado - Hum?
Black: A tua namoradinha tava só sendo ela mesma. Esquentada do caralho. Como sempre, ela veio falar merda na minha cara e eu cansei de deixar a Pétala ficar me tirando pra nada toda vez.
Leão: Como que começou a discussão?
Black: Ela viu tirando uma foto dela e da tua filha - estreitei os olhos - Eu ia mandar pra tu. Pra tu saber que elas tinham chegado.
Leão: Tá fazendo dois dias desse rolo, eu ainda não recebi essa foto. E nem te pedi pra ficar tirando foto delas, pedi?
Ele soltou uma risada, desviando o olhar.
Black: Tu sempre cai no papo dela, né? Puta que pariu.
Leão: Papo nenhum pra cair não, meu parceiro. Eu nunca me meti nas briguinha de vocês, porque achei que fosse só implicância, mas eu vi tu partindo além do que devia - ele me encarou, sem expressão - Qual tua ideia sobre isso? Ficar metendo mão em mulher dos outros?
Black: A minha ideia é que tu é um pau mandado pra essa garota que quer ficar te colocando debaixo do pé dela o tempo inteiro - falou, chegando mais perto de mim - Ela vai embora, te deixa todo fodido, e na primeira semana que a garota tá de volta, tu se esquece de quem teve do teu lado.
Leão: Não esqueço porra nenhuma. A treta de vocês dois é bem antiga, e nem por isso eu deixei de ser teu parceiro. Mas tu passou dos limites e tá ligado nessa parada!
Pato: Ih, que que tá rolando aqui hein? - perguntou, se aproximando de nós dois.
Nem eu e nem o Black desviamos o olhar.
Black: Não tá rolando porra nenhuma, ingratidão da porra - ele apontou o dedo pra minha cara. Eu continuei imóvel, porque se me mexesse, podia sair do controle - Ela vai te dar um pé na bunda de novo, e eu vou ficar aqui pra falar que te avisei!
Leão: Não precisa ficar não, pode ir direto pra casa do caralho, pô - ele abaixou a mão. Vi a mão do Pato no braço do Black, impedindo que ele fizesse merda - Ingratidão do caralho é meu pau, parceiro. Se fosse ingrato, como tu tá dizendo, eu levava essas ideia pro Mendonça antes de querer saber da tua boca o que rolou.
Black: Ah, ele vai falar pro Mendonça - debochou - Vai chorar pro Mendonça do memo jeito que a Pétala foi chorar pra tu?
Respirei fundo, bem fundo. Não queria perder a razão, na boa memo.
O Black e eu crescemos juntos, tá ligado? Sempre foi parceiro um do outro, sempre. Mas o ponto fraco da nossa amizade sempre foi a Pétala, nas antigas, e de novo agora.
Eu não queria deixar ele numa posição ruim com o Mendonça. Porque se eu levasse as ideia pra frente, ele ia ser cobrado da pior forma.
Meter a mão na tua mulher, dentro do morro, já não era aceito a muito tempo. E meter a mão em mulher que nem tua é, era pior ainda. O rolo era bem maior. Não sei o que deu na cabeça daquele maluco pra se meter nessa bagunça.
Leão: Não vou falar, pro teu próprio bem. Sou tão ingrato, que eu não vou falar nada pra ele. Mas eu não preciso do Mendonça pra cobrar nada. Tô só te avisando, se eu ver de novo, vai dar merda. Só finge que ela não existe... e pode fingir que eu não existo também, valeu?
Ele riu.
Black: Cobrar o que, moleque? Tudo que tu sabe na caminhada fui eu que te ensinei.
Leão: E mermo assim eu faço melhor que tu sem nem me esforçar.
Ele perdeu toda a linha e avançou mais um passo na minha direção, mas o Pato foi bem mais rápido e se meteu na minha frente. Eu virei as costas, saindo daquele lugar ouvindo o cara me xingando de todo nome possível.
Eu não queria, pô, mas sentia que isso ainda ia me render dor de cabeça.
O restante da noite foi só plantão. Tava doidão pra queimar uma ponta, a última vez que eu fumei, foi no dia que fiquei sabendo que a Pétala tinha voltado. Mas não dava pra marcar bobeira na contenção, tive que ficar puro até o dia amanhecer.
