Pétala
Estar de volta no Rio de Janeiro dava uma sensação boa de liberdade, de nostalgia. Mas confessava que rolava um frio na barriga, um nervosismo sem uma boa explicação.
A minha volta pro Rio foi justamente pra enfrentar os problemas do meu passado, mas também para tentar uma qualidade de vida melhor. Afinal, não tinha só a mim para me preocupar.
Jade: Mãe, a gente pode ir na praia amanhã?
Neguei com a cabeça, me ajeitando no banco do Uber, para que pudesse olhar melhor pra minha pequena.
Pétala: Amanhã você vai começar na escola nova - ela ficou chateada, e cruzou os bracinhos pequenos - Acha que esse bico vai me comprar, mocinha? Não temos como ir à praia amanhã. Você tem aula e eu tenho que ir trabalhar.
Jade: Eu posso pedir pra tia Bruna me levar?
Pétala: Não! - falei, encostando no nariz dela com a pontinha do meu dedo - No fim de semana prometo que vamos à praia a hora que a mudança acabar.
Ela se animou um pouco, porém não muito. Estava cansada da viagem, e até que chegássemos no morro já tinha se encostado em mim e cochilado.
A Jade tinha cinco anos e era toda a minha vida. E eu juro que faria qualquer coisa no mundo pra ver o sorriso no rosto da minha filha.
Fui mãe nova demais, com dezessete anos, e fui mãe sozinha. Foi um caos. Nada na minha gravidez foi tranquilo. Lidar com a morte da minha mãe, com a minha mudança total de vida, e com uma gravidez na adolescência foi puro caos.
Descobri minha gestação quando já passava dos cinco meses. Eu nunca desconfiei de nada, porque sempre tomei remédios, então não existia um fluxo regrado. Engordei muito pouco nos primeiros meses, e quando eu soube, minha primeira reação foi contar pra Bruna do que tava acontecendo.
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Pétala: Eu tomei uma decisão - falei pra ela, por ligação.
Era intervalo da escola, eu estava no último ano do ensino médio.
Tinha passado a noite inteira em claro, depois de ver o teste que apontava ter um bebê dentro de mim. Eu pensei por horas, não sabia o que fazer, mas quando tive coragem de lidar com isso de frente, a primeira pessoa a saber foi a Bru.
Bruna: Aí aí, eu não tô gostando desse tom.
Pétala: Eu vou fugir da minha Vó, Bruna. Já falta muito pouco pra eu fazer dezoito. Eu fujo, conto pra ele sobre a gravidez, a gente casa... quer dizer, era o que ele queria antes, não pode ter mudado de ideia tão rápido assim - ela continuou em silêncio - Eu vou amanhã cedinho. Eu vou pegar o primeiro ônibus da madrugada!