Leão
Não esperei nem chegar na frente da casa da Bruna pra buzinar. Eu só queria saber se aquela parada era verdade.
E se fosse, pô? Eu tava perdido.
Meu peito tava apertado, e nem sabia dizer o porquê. Eu não deveria me sentir daquele jeito. Ela não devia mexer comigo do jeito que mexia a anos atrás. Nossa história acabou.
Eu buzinei de novo, quando a Bruna não apareceu e desci da moto quando ela botou a cara na janela. Ao perceber que era eu, revirou os olhos.
Leão: Oh, desce aí!
Ela resmungou, mas saiu de dentro de casa pra me receber.
Bruna: O que você tá fazendo aqui, Lennon? - perguntou, colocando as mãos na cintura.
Eu pigarreei.
Leão: É Leão, pô - ela me deu um sorriso falso - Tô aqui pra trocar um papo contigo.
Bruna: Tô esperando.
Cruzei os braços, criando coragem pra perguntar o que eu tinha que perguntar.
Leão: A Pétala tá aí? - perguntei, apontando com o queixo pra casa dela.
Bruna: Tu tá de sacanagem com a minha cara?
Tava um clima chato da porra. Fazia anos da nossa briga, a gente não tinha motivos pra ficar se tratando mal, quando na real sempre fomos amigos antes do rolo todo. Eu tentei manter a calma, mas todo esse nervosismo já tava me deixando com dor de cabeça.
Leão: Chegou um papo no meu ouvido de que ela voltou.
A Bruna me olhou com uma cara de "E daí?". Passei as mãos na frente do meu rosto.
Bruna: O que você tem a ver com isso?
Aí me quebrou. O que eu tinha a ver com aquilo?
Leão: Ela voltou?
Bruna: Por que tu tá nervoso, hein? - perguntou, olhando para as minhas mãos que não paravam de mexer - Tua história com a Pétala acabou tem vários anos, cara.
Leão: Ela voltou mermo, né?
Bruna: Deixa ela viver. Deixa a garota seguir a vida dela, e não se mete nisso. Tô te pedindo com todo o meu coração, em nome da amizade já tivemos. Ela sofreu pra caralho quando vocês dois terminaram. Não faz ela reviver essa dor.
Muita informação pra lidar.
Ela tinha voltado, e a Bruna tava jogando encima de mim uma parada que doía mais do que tudo, que era saber que eu tinha causado mal pra ela.
Leão: Só ela sofreu? - minha voz saiu mais baixa do que queria - Só porque nós dois sofremos de formas diferentes, não quer dizer que eu não sofri.
Bruna: Eu sei, vi você se drogando dia após dia na praça. Eu vi você entrar pro corre, coisa que tu jurou pra ela que não faria - ela riu - Eu vi tu casando com a Jessica, mano. Por favor, a gente nunca trocou esse papo, mas sempre quis fazer essa pergunta. Achasse mesmo que fazendo tudo o que a Pétala odiava, ela ia voltar correndo? Tu achou que fazendo tudo isso, ia chamar atenção dela e trazer ela de volta?
Desviei o meu olhar da Bruna.
Por um tempo até pensei que se a Pétala soubesse do que tava rolando, podia voltar pra tentar "acertar" o que tava rolando. Mas isso não aconteceu, e já era tarde demais. Eu já tinha começado a me afundar naquela vida que me mantinha longe dela, e aí eu comecei a fazer por ódio mesmo.
Eu não tinha ódio dela, eu tinha ódio da vida. De ter gostado, de ter sonhado tanto, pra nada.
Leão: Tava disposto a dar o mundo por ela, Bruna. Eu amava a Pétala, e achava mermo que ia morrer sem ela - neguei com a cabeça - Mas eu descobri que ninguém morre de amor.
Bruna: Ninguém morre de amor, mas se torna essa pedra fria que só faz merda e trata outras mulheres como um objeto só pra esquecer de alguém que sabe que não tem como esquecer.
Me senti ofendido pra caralho.
Leão: Qual foi, pô? Tá doida?
Bruna: Ah, jura que você morre de amores pela Jessica? Ou então pela Sarah?
Bufei, boladão.
Leão: Não tenho nada com a Sarah, eu sou casado com a Jessica, se liga!
Eu negava até a morte.
Bruna: Vai mentir pra idiota, não precisa mentir pra mim! - retrucou - Tu jura que gosta da tua vida, e fica nesse estado de nervos só de saber que a Pétala voltou. Tu morre de amores pela tua esposa mas tá parado na porta da minha casa pra saber se a tua ex voltou pro morro, parceiro. Essa conta não fecha!
Franzi o cenho e fiquei uns segundos refletindo na parada que ela tava me falando.
Leão: Quer dar um peão? Trocar um papo? - ela negou - Pique nos velhos tempos.
Bruna: Não.
Leão: Qual foi, Bruninha. Pra que todo esse ódio com o cara?
Bruna: Pra que?! - riu - Mano, você mudou do dia pra noite. Achou que eu fosse tomar o teu partido? A Pétala fez o que tinha que fazer, e se eu soubesse que ela ia se decepcionar tanto contigo, teria dado força pra ir embora antes!
Leão: Eu gostava de ti, pô. Não precisa ficar com os teus esculachos não.
Bruna: Você falava que a minha prima era o amor da sua vida, que movia montanhas por ela, e no final fez o que fez. Eu era só tua amiga, pensa o tanto que não podia vacilar comigo? Vish... tô fora.
Leão: Tô achando que tu tá fazendo drama encima de uma parada que não te envolve.
Bruna: Drama quem fez foi você, criando um circo na vida da Pétala quando ela teve que ir embora. Ela foi embora porque a mãe dela morreu, mano - falou pausadamente, principalmente a última parte.
Leão: Tá bom, advogada. Tua prima tá te pagando quanto? - bolei com ela.
Ela soltou uma risadinha.
Bruna: Toca o teu rumo, Leão. Não puxa ela pra tua bagunça.
Concordei com a cabeça, e fiz um toque com ela, que de início titubeou antes de retribuir. Deu saudade daquela encrenqueira. Mas ela tava de um lado, e não era do meu.
Eu tinha mermo que deixar a Pétala de lado e tocar a minha vida. Cada um de nós dois tinha que seguir da maneira que escolheu. O foda era pensar como seria quando eu visse aquela mulher na minha frente.