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Alguém tentou nos parar mas foi obviamente inútil, quando me dei conta a fumaça já invadia meus pulmões causando tosse

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Alguém tentou nos parar mas foi obviamente inútil, quando me dei conta a fumaça já invadia meus pulmões causando tosse. Ainda havia alunos saindo para o gramado enquanto fazíamos caminho contrário indo diretamente ao olho do furacão.

Ao mesmo tempo que muita gritaria invadia meus ouvidos, um silêncio entre nós crescia absurdamente e eu só conseguia me questionar: o fogo não era mentira?
Uma nuvem preta saía de uma das portas, era o banheiro enfim.

— Só pode ser esse, Clara! Clara!
As mãos foram num impulso puxar a maçaneta e rapidamente recuaram com a quentura.— Ai porra!

— Vamos ter que arrombar! —Billy gritou usando a camisa para proteger o nariz.

Ao lado dele, Ian se aproximou pondo o antebraço sobre o rosto.
— Dê licença!

Foi um chute, dois e a porta se arrebentou fazendo uma nuvem ainda maior de fumaça sair de uma vez.

Os olhos ardiam e mal dava pra enxergar quando uma mão me puxava pra trás, a tosse aumentou consideravelmente e de repente os pontos soltos na sobrancelha
pareciam latejar como nunca.

— Me solta! Cof, cof!

— Saia daqui!

Já um pouco afastada da fumaça foi possível abrir os olhos, Billy voltava para o banheiro enquanto me deixava alí.
Apesar do cheiro horrível de fogo, me recusava a ficar esperando enquanto
Clara poderia estar queimando.

Queimando, aquela ideia me arrepiava da cabeça aos pés.

Girei em meu próprio eixo procurando algo que ajudasse, calor me invadia e resolvi fazer do casaco algo útil, tirei do corpo e saí abanando a nuvem cinza até conseguir um lugar mais seguro.
Não havia mais ninguém pelos corredores, corri por todos os lados a procura da única coisa que poderia ajudar, um extintor.

Meus olhos nunca procuraram tanto algo vermelho pendurado na vida, durante o que parecia uma eternidade, forcei meus pulmões aguentarem o tranco da corrida e carbono por Crist Church — Aguenta tagarela, você vai aguentar — repetia a mim mesma.

Já no segundo andar ao lado de um dos armários foi possível ver, o ponto vermelho dentro de uma caixa de vidro, acima dela um machadinho com a frase
use pra quebrar o vidro" fiz exatamente aquilo e ignorei o fato de alguns estilhaços ficarem presos no meu cabelo. Aquilo era mais pesado do que eu achava que fosse.
— Foda-se, eu aguento.

Adrenalina é um negócio muito louco, apesar do esforço e da rapidez das coisas tudo parecia muito devagar, mas quando me dei conta já  chegava ao banheiro novamente, soada, sangrando, cansada, tossindo e incrivelmente nada daquilo me afetava. Adentrando a espessa nuvem chamei por eles.

— CLARA! PROFESSORES!? — Não tive resposta e me senti uma idiota, não era possível ver nada, será que já tinham ido embora? E se Clara ainda estivesse lá dentro?

Tinha que arriscar.

Pus no chão o objeto e tirei a camisa que vestia amarrando a cabeça numa espécie de bandana enorme — Se eu entrar e vocês já estiverem aqui fora, vão ver.

Nunca vi algo tão amedrontador quanto aquilo e olha que já vivi muita coisa horrível, tudo era vermelho, laranja e quente, extremamente quente — Clara! Tá me ouvindo?— Ultrapassei a porta arrombada caída na metade da passagem, dava pra ouvir os estalos das chamas cada vez mais perto, eles não deixariam ela alí, não é?

“Laura, ele estava com raiva e com o ego ferido, ninguém mais teve acesso ao carro além dele.”

Era um péssimo momento pra aquilo, mas as falas de Peter vieram como um pesadelo do qual eu não conseguia me livrar — Clara! CLARA! PORRA ME RESPONDE! — tirei a trava de segurança e usei o extintor, foi espuma branca por toda a parte e o cheiro forte me deixava tonta apesar de relutar, dei um passo, e depois mais um em direção o fogo — CLARA! — com as costas empurrei uma das portas do banheiro, nada além da privada.

Eles tiraram ela Laura, não a deixariam aqui...
Ainda restavam mais quatro, calma.

“Vai saber o que se passa na cabeça de gente doente”

As chamas não se apagaram rápido, tinha receio de acabar com a espuma antes dele então pensei em algo, teria que agir rápido pra não me queimar. Liguei o extintor fazendo um único trajeto empurrando todas as portas.

— Arg! Merda! — O solado do sapato já grudava no chão — Cof! Cof!!

Nada dela em nenhuma das repartições.
Nada dela.

Ri, ri alto enquanto me virei gastando todo o extintor nas chamas em minha frente, não conseguia parar de gargalhar, apesar de toda a loucura alí, me sentia aliviada, eles tiraram ela, tiraram.

O fogo persistiu na mesma medida que meu corpo desistia de se esforçar, precisava sair imediatamente antes que desmaiasse e foi o que fiz, senti os pés pesarem e não soube se foi o cansaço ou o grude da borracha derretida mas, tropecei na saída ao lado da porta, caindo.
Deitada no cão sujo e quente, olhei para trás onde a chama iluminava e percebi que não, não foi o cansaço.

Clareado através da chama laranja, um tênis atrapalhava minha passagem, um tênis não, uma perna.

Como uma última faísca de energia, me ergui atordoada, sem querer acreditar. Segurei o metal quente e ao ergue-lo um pouco...

“Você vai ver que aqueles dois podem ser bem convincentes quando querem”

— CLARA!

Esteve o tempo inteiro debaixo da porta, deixei novamente que ela caísse sobre a garota, havia queimado os dedos naquela tentativa inútil, arranquei a camisa do rosto e protegi as mãos repetindo o movimento — Porra! Vamos Laura você aguenta!!

...

Ela não aguentou, tinha abusado demais do corpo pra isso e precisava de ajuda. O único problema era, se saísse talvez Clara não resistisse e se ficasse poderiam morrer as duas. Acontece que pra ela aquilo era um detalhe, e Laura Mendes não liga pra detalhes.

Não muito distante achou o extintor e o arrastou, pôs debaixo do metal fazendo a porta levantar um pouco do chão, era o suficiente. Com um pouco mais de esforço foi possível criar uma brecha entre a porta e a parede, no meio deles desacordada Laura puxou a colega de quarto.

— Vem — Cof! — a gente vai sair daqui junto, nem que seja morta.

Aos poucos, bem aos poucos, Clara estava totalmente fora da porta e então se arrastando, Laura a puxou para o corredor onde havia a densa fumaça preta, exaurida, se deixou cair ao seu lado no chão insalubre — Você ... só me dá — Cof! — trabalho...

Os óculos quebrados preso aos cabelos loiros tiravam a doçura da menina que conhecia, queria fazer mais mas, não era possível. Rodeadas de carbono a última visão de Laura foi a testa ensanguentada de Clara e então tudo se embaralhou.

Aqui! Estão aqui!

Ouviu, e apagou.

Ouviu, e apagou

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