Capítulo 2 - Cuidar de você

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Henry

Você nunca sabe como se comportar quando espera uma coisa e a vida te dá outra. Eu esperava uma simples dor de cabeça, a qual pudesse passar apenas com uso de um medicamento forte que me fizesse melhorar em alguns dias, mas em vez disso, descobri um câncer!

Agora a única solução é fazer radioterapia ou tomar aqueles milhões de remédios fortes que te fazem não conseguir sair da cama, e ainda assim não te fazem ter certeza da cura.

A minha vida estava contada, a minha data de validade estava chegando e eu descobri isso tarde demais.

Agora eu dirigia no sentido da minha casa, mas eu mal conseguia enxergar o caminho a frente do meu rosto, por conta das lágrimas que por mais que eu lutasse contra, não paravam de cair.

Parei o carro no acostamento e desliguei o próprio, afundando meu rosto no volante e chorando sem resistência dessa vez. Eu não conseguia entender a letra mas sabia que estava tocando uma música em som baixo na rádio do carro, tudo que eu conseguia ouvir eram os sons dos meus soluços se misturando com o som de alguns automóveis que passavam pelo na pista bem ao lado.

Eu queria sumir. O que eu fiz para merecer uma coisa dessas? Por que isso aconteceu comigo?

Antes que eu pudesse pensar em mais coisas, eu ouvi o toque irritante do meu celular no banco do passageiro. Peguei ele já com uma vontade grande de arremessar para longe, mas parei quando avistei o nome "Pez" na tela, meu melhor amigo, Percy. Ótimo! O que ele queria agora?

Respirei fundo e tentei falar qualquer coisa para ver como a minha voz estava. Péssima, claramente de alguém que não estava no seu melhor momento.

- Alô? - Atendi antes da ligação cair.

Henry, cadê você? E que droga de voz é essa?

Eu estava no hospital. - Falei

O que aconteceu?

A minha dor de cabeça idota, lembra?

Sim, e no que deu?

Nada. Como sempre. - Menti. - Mas, aconteceu alguma coisa para você me ligar agora?

Estava pensando em sairmos hoje, não tô afim de ficar em casa. Você topa?

Tudo bem... - Eu disse. - Seria uma boa. - Sorri de canto mesmo sabendo que ele não veria. - Para onde?

Para algum bar, a gente decide na hora.

Uhum. - murmurei. - Você passa na minha casa?

Sim, às 22 horas!

Ok, fico pronto até lá.

Ok. E arruma essa voz, você não vai conseguir pegar ninguém se passar a noite choramingando por causa de uma dor de cabeça, toma um analgésico que mais tarde você vai estar se sentindo melhor.

Tá bom. - Disse revirando os olhos e finalizando a ligação.

Seria bom se ele soubesse que eu estava com câncer, talvez pudesse me dizer algo que ajudasse de certa forma, mas eu não consegui contar. Não. O que eu menos queria nos últimos meses da minha vida era que as pessoas sentissem pena de mim.

E sim, eu vou sair hoje. E vou beber como nunca. Eu vou me divertir nos últimos meses da minha vida! E não, não vou fazer um tratamento idiota, eu quero morrer naturalmente, mesmo que seja cheio de olheiras como sempre foi por causa das minhas insônias.

{...}

Eu tinha colocado uma calça jeans preta e uma regata branca por cima, com uma bolsa pequena, transpassada e por fim um tênis branco também. No meu rosto não havia sequer um vestígio das olheiras ou noites mal dormidas, fiz uns truques de maquiagem que aprendi um tempo atrás e agradeci mentalmente ao me olhar no espelho agora enquanto passava um perfume.

Flatline (Versão Alex e Henry)Onde histórias criam vida. Descubra agora