Capítulo 4 - Dia ruim

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Eu tinha acabado de acordar, mas continuei deitado na minha cama fitando o teto, sem coragem de levantar do conforto que eu estava no momento.

Um edredom branco cobria o meu corpo e parava na minha garganta, deixando apenas o meu rosto de fora para que eu pudesse respirar melhor, já que nem isso eu estava conseguindo direito durante uma semana.

Eu me negava a ir para o hospital, mesmo sentindo que poderia desmaiar vez ou outra, para não chamar atenção da minha mãe ou de Percy. E de fato, eu não queria ter que encarar o doutor Claremont-Diaz. Fazia quase três semanas que eu não o via, desde aquele sábado na sua casa.

Por um lado, dei graças a Deus, se ele visse meu rosto e o meu jeito de garoto acabado, ele provavelmente voltaria ao assunto do tratamento e eu me negaria mais uma vez, cansado dessa merda de assunto.

Soltei um suspiro forte e senti os meus pulmões doerem, o que me fez soltar um gemido fraco enquanto fechava os olhos com força. Logo, relaxei o meu corpo e abri meus olhos, fitando o teto novamente.

Criei coragem e levantei da cama, sentindo cada parte do meu corpo doer como se estivesse acabado de passar um caminhão por cima. Fui até o banheiro e me olhei no espelho, não tendo um dos meus melhores reflexos: olheiras, pele seca, cabelo oleoso, todo bagunçado e cara de exausto, como se eu não dormisse a meses sendo que isso é o que eu mais tenho feito nas últimas semanas.

Abaixei o meu rosto e abri a torneira, esperando a temperatura da água esquentar, jogando uma quantidade de água morna no rosto, tentando pelo menos parecer apresentável. Sequei o meu rosto com uma pequena toalha verde e me olhei no espelho, bufando irritado quando vi que nada havia mudado: eu ainda parecia acabado.

Sem pique, saí do banheiro e fui para o quarto, abrindo a porta e vendo que a casa estava em total silêncio. Fui até a cozinha e quando entrei, a minha mãe deu um pulo:

- Misericórdia, Henry. - Ela disse colocando a mão no peito. - Você quase me mata do coração.

Eu ri pelo nariz enquanto abria a geladeira.

- Bom dia mãe. - Murmurei.

- Bom dia, querido. - Ela disse enquanto seu óculos de grau pendia no nariz, ela lia alguma coisa. - Não foi para a faculdade hoje?

- Estou cansado. - Respondi enquanto me sentava à mesa.

- Você está assim durante a semana toda, aconteceu alguma coisa?

- Não. - Respondi. - E a senhora não devia estar no trabalho?

- Resolvi trabalhar em casa hoje. - Ela respondeu enquanto voltava a olhar para os papéis. - Vai sair hoje?

- Não pretendo. - Disse, dando uma mordida no pão.

- Você passou a última semana em casa, dormindo, trancado no quarto e desanimado.. tem certeza que não quer conversar, James?

Parei um pouco, ela sempre me chamava pelo segundo nome quando assumia um tom preocupado, acho que ela também trazia isso do meu pai, ele fazia o mesmo. Não era um bom momento para lembrar dele, prefiro não ter lembranças ao invés de pensar em todas as coisas ruins... ainda mais estando nessa situação. Abri um sorriso tranquilo, apenas para tranquilizá-la, enquanto apagava aquilo da minha mente:

- Mãe, está tudo bem. - Eu disse e ela assentiu.

Continuei tomando café da manhã enquanto eu ouvia a minha mãe de vez em quando falar sobre coisas aleatórias, respondendo apenas o necessário já que eu sentia meu corpo doer o suficiente para querer apenas voltar para a cama. Mas seu eu não ficasse um tempo aqui, a dona Catherine provavelmente faria mais perguntas e isso era tudo que eu não queria.

Flatline (Versão Alex e Henry)Onde histórias criam vida. Descubra agora