Cap. 3 - Febre

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                                                          "Febre de amor não passa

                                                        Queima por dentro o coração

                                                           Fico sem ar, eu já nem sei

                                                             Se o que é real é ilusão"


Diego saiu cedo de casa naquele dia, o que dizia muito da ansiedade que ele estava.

Ao chegar no Projac, viu Amaury descendo do carro, todo de preto, um ator de teatro, em essência.

Ao contrário dele, vestia um jeans rasgado e um cropped branco.

Os dois eram polos bastante opostos, mas a Química na escola já nos ensina que polos opostos se atraem, inevitavelmente.

Diego estava treinando determinados maneirismos no andar e gestualidade nas mãos, Kelvin estava chegando forte no seu corpo e coração.

Impulsionado pelo estudo do personagem, ele deixou a voz mais aguda, colocou uma mão na cintura e a outra acenou, os pés em meia ponta:

— Ramiro? Oiê!

Amaury virou prontamente, fechou a cara, olhou pros lados, levou as mãos a cintura como se segurasse um cinto.

— Que é que ocê quer, rapaiz?

Se aproximou e pegou no antebraço dele com força e falou baixinho num tom de advertência:

— Ocê não grita assim eu no meio da rua que a peonada pode ver.

— Tão gato, bravo!

— Cê não me chama de gato, não!

— Chamo do quê, então? — Diego colou uma mão na altura do coração dele e mordeu o lábio inferior.

Amaury quebrou, sorriu.

— Como que o Ramiro sai disso?

Diego soltou uma gargalhada, enquanto Amaury o puxava para um abraço.

Stella vinha andando devagar e via a cena de camarote, bateu palmas, gritando:

— Puta que pariu! Meu casal, porra!

Se incluiu no abraço também e os levou para a sala de ensaio.

— Que vibe boa de vocês, minha gente. — ela jogou a bolsa em cima da mesa, colocou som de relógios tibetanos para estabelecer sinergia e pediu — Podem tirar o tênis, fiquem confortáveis.

Ela direcionou alongamento de corpo e breve aquecimento vocal.

E então iniciou o trabalho de preparação, pediu que se sentassem de frente um pro outro, eles sentaram ambos de joelhos cruzados e com posturas alinhadas, a preparadora orientou que apenas se olhassem, sem desviar o olhar, eles mergulharam um nos olhos do outro.

Stella sorriu marcando tempo no relógio, era como se uma cortina tivesse se fechado, eles estavam conectados um no outro, ia explorar, foi direcionando:

— O que o Ramiro pensa quando vê o Kelvin? O que o Kelvin pensa quando vê o Ramiro? Não respondam, deixa a emoção preencher, internalizar, ressoar. Se precisa de contato, estabelece contato, se precisar falar, vai falando, pode ser f ala do roteiro, pode ser improviso, naveguem. A única regra é permanecer perto e sentado, vamos internalizar e jogar pra só depois deixar o corpo livre no espaço cênico.

Duas vezes vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora