Cap. 33 - Isso aqui não é um conto de fadas

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"Primeiro você me azucrina, me entorta a cabeça
Me bota na boca um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas, assim meio pedindo
Querendo ganhar um bocado de mel

Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo, reflito, estendo a mão
E assim nossa vida é um rio secando
As pedras cortando, e eu vou perguntando: até quando?"

(Grito de Alerta - Maria Bethânia - composição de Gonzaguinha).

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Amaury e Diego tinham brigado na noite passada.

Sim, isso aqui não é um conto de fadas, longe disso.

Não tinha sido uma dessas brigas corriqueiras que eles desfaziam apenas encostando um no outro, se beijando até perde todo o ar, e resolvendo na base do sexo até ficarem inconscientes.

Não, leitores, não, tinha sido acalorada e com direito a gritos e porta batida na cara.

A porta era do apartamento da Thati e foi fechada na cara do Amaury.

Diego tinha tentado de todas as formas possíveis explicar pra ele que as relações poligâmicas podiam funcionar muito bem e na base do respeito, se os acordos estivessem muito claros e bem feitos.

Amaury ouviu tudo em completo silêncio, mas depois rebateu cada argumento com obstinação, para ele era impensável dividir Diego com quem quer que fosse, ele sentia o coração parar e o sangue gelava nas veias só de pensar na possibilidade.

Ver Diego com outra pessoa o destruiria.

Diego se arrependeu até certo ponto de ter iniciado o assunto, mas tinha que retirar aquele elefante da sala, ele precisava discutir o assunto: São Paulo.

E voltar pra São Paulo após o término da novela era um fato, ele já tinha compromissos que exigiriam que ele estivesse lá, tinha sido convidado para fazer o musical "Priscilla, a rainha do deserto", um papel importante que também trazia a persona da Drag e que ele estava muito animado pra fazer, então isso só reforçava a decisão de voltar para a terra da garoa.

Diego tomou coragem para explicar que com a distância física entre eles, poderia existir a possibilidade de abrirem a relação, porque ele voltaria a frequentar seu círculo de amizade, iria para os perigos noturnos e ocasionalmente ele poderia se interessar em beijar alguma boca diferente.

Ele não pretendia se tornar nenhum santo, conhecia seu ritmo e sabia que São Paulo lhe traria outras situações inesperadas, inclusive em relações.

Precisava ser honesto e jogar a realidade para seu companheiro.

E Amaury surtou.

Como nunca Diego imaginou que ele fosse capaz de surtar.

Era como querer mover o Everest de lugar apenas com a força de dois braços humanos.

Diego se irritou e mandou ele embora com direito a um:

— Ai, cansei, sai! Sai, agora!

— A conversa ainda não acabou, Diego.

— Ah, por hoje, acabou, sim. — abriu a porta — Tô falando pra sair!

Amaury passou pela porta e quando virou pra encará-lo, Diego malhou a porta, enquanto isso Thati gritou do andar de cima:

— QUEBRA MESMO, INFERNO! EU TÔ TENTANDO DECORAR MEU TEXTO, OH, CARALHO! VÃO BRIGAR NA RUA!

— Já acabou a briga, Thati, desculpa. — devolveu, Diego, chateado.

Ao notar a voz do amigo, Thati desceu as escadas, ele estava encolhido no sofá, um bico enorme, abraçava uma almofada como uma criança perdida, os olhos enormes marejados de lágrimas e assustados.

Duas vezes vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora