Cap. 35 - Os áudios na madrugada

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"Beijou a boca errada, lembrou da boca certa
Entrou numa gelada, lembrou da minha coberta
Sabe esse alguém perfeito que você tanto espera?
Eu era, eu era
Aí você se lembra que a gente se completa
E vai voltar pra mim, se for um pouco esperta
Porque esse alguém perfeito que você tanto espera
Eu era."


(Eu Era - Marcos e Belutti)

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Diego estava sentado no camarim com o olhar perdido... Nesse dia estava especialmente cansado.

Não veria Amaury porque ele estava gravando externas e ficaria o dia e a noite fora.

Pela primeira vez ele se questionou até quando aquela situação se sustentaria.

Sabia que era uma relação fadada a acabar, e a acabar mal, porque os dois se amavam, mas não se entendiam.

Apenas o amor é suficiente para sustentar uma relação?

Não. — concluiu, se encolhendo e deitando no sofá.

Queria aproveitar cada minuto ao lado dele, sem pensar no futuro, mas o futuro se avizinhava, um bicho esperto e à espreita.

Faltava pouco menos de um mês e meio para as gravações terminarem, o ritmo de trabalho estava insano, eles não tinham ânimo para nada após o dia de trabalho, apenas iam pra casa, tomavam banho, se alimentavam e imediatamente dormiam.

Chegavam a brincar que era mais fácil morarem dentro de algum camarim na Globo, porque a demanda de cenas deles estava insana, isso era bom porque os personagens tinham carga de gravação digna de protagonistas, pela questão do apelo popular e isso era ótimo pra visibilidade do trabalho deles, mas o preço que se pagava era alto em contrapartida.

Diego iria pra São Paulo no dia seguinte resolver algumas questões da sua drag e precisava ir até seu apartamento, durante o tempo que ficou no Rio ele o alugou para um amigo, agora o apartamento estava liberado e ele voltaria lá pra repensar a vida.

A maior parte de suas coisas permaneciam no lugar, mas ainda assim ele teria bastante coisa para levar do Rio de Janeiro pra lá.

Diego enfiou o rosto nas mãos querendo se esconder de si mesmo, sofria e de maneira aguda.

Sentia o fim antes do fim.

Era como a morte anunciada de uma pessoa com doença terminal.

O amor deles estava adoecido e ele não conseguia ver saída, já sentia saudade de Amaury ainda estando no Rio de Janeiro, ele sabia que enfrentaria meses de saudade terríveis e também se conhecia o suficiente para saber que talvez as maneiras que ele criaria para tentar esquecer não seriam as mais saudáveis, porém, sabia que acabaria fazendo mesmo assim.

Tinha 26 anos, uma vida inteira pra viver, um monte de oportunidades que chegariam no próximo ano, ele estaria errado de querer viver tudo isso e de maneira plena?

Ele sempre tinha vivido tudo de maneira tão intensa, não seria diferente agora.

Tinha certeza que jamais deixaria de amá-lo, mas tinha que pensar em sua vida, se priorizar e se colocar em primeiro lugar, coisa que não tinha feito no passado e tinha se arrependido grandemente em relacionamentos passados.

Não deixaria isso acontecer novamente.

Sabia que Amaury era um homem mais velho e mais experiente e que ele já tinha entendido o que aconteceria antes de Diego compreender a dimensão da situação, tanto que ele tinha dito semanas atrás que não dava mais pra sustentar as coisas como estavam.

Duas vezes vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora