CAPÍTULO 10 - Afeto

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Lorde Samiton os recebeu em sua luxuosa propriedade que ficava há cerca de uma hora de carruagem da casa dos pais de Brethen. Mesmo com a chegada de surpresa do príncipe e sua pequena comitiva, o Lorde e sua família receberam o grupo com uma refeição farta e camas feitas.

Na manhã seguinte, mais uma vez, o grupo partiu antes dos primeiros raios de sol. Seriam cerca de sete horas até a casa de Basken e, como Brethen havia imaginado, já ter visitado os pais tinha diminuído drasticamente sua ansiedade.

Ela ainda não entendia totalmente o motivo de a família não ter entrado em contato enquanto ela estava em Bastat, mas, com certeza, tinha a ver com o ressentimento de seu pai. Ele sempre viu Brethen como um fardo, e ela havia partido sem dar nada em troca.

O que a inquietava mais, porém, era o motivo de Basken nunca ter escrito. Ele, certamente, teria agido pelas costas do pai, se tivesse tido a oportunidade. Brethen tinha algumas teorias, mas teria que perguntar pessoalmente.

A previsão era de chegarem à casa de Basken pouco depois do meio-dia, mas uma árvore caída no meio da estrada atrasou o trajeto em quase duas horas. A temperatura tinha aumentado drasticamente ao longo da última noite, depois de uma intensa ventania que começou logo depois que eles chegaram à casa de Lorde Samiton. O tempo seco e fresco dos últimos meses foi substituído por um clima abafado.

Quando finalmente chegaram à vila de Almania, uma pacata comunidade litorânea construída à beira de um penhasco, o horizonte estava escuro, indicando a aproximação de uma chuva torrencial. Com a orientação de alguns moradores da vila, foi fácil encontrar a casa de Basken.

Era uma casa de tijolos vermelhos, um pouco maior que a dos pais. Ficava no fim de uma estradinha margeada por outras casas semelhantes, todas simples, porém charmosas. As casas eram espaçadas, cercadas de gramados vastos e muitas árvores, e a casa de Basken era a última de todas, ao pé de uma colina coberta por uma mata densa. A casinha quase sumia dentre a vegetação.

Mais uma vez, a carruagem parou antes do portão do terreno, e Brethen e Arian desceram. Quando se aproximaram da entrada, um garotinho apareceu no fim do caminho de pedras que levava até a casa. Ele tinha por volta de cinco anos, a pele clara e a cabeça coroada por cachos escuros. Brethen acenou para o garotinho, que os encarou por alguns segundos antes de disparar porta adentro.

– Se importa de esperar aqui outra vez? – Brethen pediu a Arian. Ele assentiu e apertou a mão dela de forma reconfortante.

O portão estava aberto, então Brethen empurrou e entrou. O caminhozinho de pedras tinha formato de S e acabava bem na porta da casinha. Antes mesmo que ela pudesse bater, a porta se abriu.

E lá estava ele. Basken, a mesma figura alta, de cabelos escuros e pele bronzeada que Brethen se lembrava. Antes mesmo de algum deles dizer qualquer coisa, Brethen sentiu as lágrimas arderem em sua garganta.

– Brethen? – Basken perguntou, com os olhos escuros arregalados e a boca entreaberta.

Brethen não confiava nas próprias palavras, então deu um passo adiante e abraçou o irmão, passando os braços pela cintura dele como costumava fazer quando criança. E ele retribuiu o gesto no mesmo instante.

– Eu não acredito – ele disse contra o cabelo dela, e Brethen desistiu de segurar as lágrimas.

– Eu senti tantas saudades – ela soluçou, e Basken a abraçou mais forte.

– Eu também, pequena – ele disse – Eu também.

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Basken contou a Brethen que se afastou da família pouco depois da partida de Brethen. Depois da morte de Suzania, ele sentiu que precisava começar a vida em um lugar novo, longe do olhar constante do pai.

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora