CAPÍTULO 1 - Presságio

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CINCO ANOS DEPOIS

Este dia não vai acabar nunca?  Brethen pensou pela centésima vez apenas na última hora. Pelos olhares que Arian lançava para ela sobre o ombro de tempos em tempo, ele parecia estar se perguntando a mesma coisa.

Era dia de audições públicas na sala do trono, e toda a família real estava reunida para ouvir as solicitações e receber os presentes daqueles que vinham até o palácio. No trono mais alto, estava o rei Gavin, com sua coroa dourada sobre os cabelos castanhos claros salteados de branco. O restante da família estava sentada em tronos menores e menos adornados, mas tão luxuosos quanto. Arian se sentava à direita do pai, com Brethen de pé ao seu lado. A Rainha Prometia se sentava à esquerda do rei, com princesa Acendia na outra ponta. Fausto Matroni ocupava seu posto de pé ao lado do rei, assim como Brethen fazia com Arian.

– Foram seis ataques no último mês, majestade. – dizia o nobre de pé diante dos tronos, um homem baixinho e magro, com a careca tão lustrosa quanto seus sapatos – Sempre durante a noite, e são sempre cabeças de gado. O prejuízo tem sido enorme, além do medo na região.

Brethen já tinha ouvido aquela história. Nobres e pequenos fazendeiros criadores de gado estavam tendo seus pastos e currais atacados durante a noite. Vacas e cabras apareciam mortas, degoladas, sem qualquer motivo aparente.

– Já tomei ciência dos acontecimentos, Possos – disse o rei –, e enviei guardas de confiança para investigar. Suas terras não foram as únicas atingidas, e o culpado não ficará impune.

– Obrigada, majestade. – Possos se curvou – Tenho mais um assunto que eu gostaria de tratar.

– Vá em frente.

– Meu filho, Otavio, ele tem a idade de sua filha e...

– Princesa Acendia não está aceitando propostas de casamento ainda. – interrompeu a rainha.

Lorde Possos riu, sem graça.

– Perdoe minha ousadia, alteza. – ele olhou para a mãe no trono, então para a filha – Caso mudem de ideia, a proposta continua de pé.

O nobre se curvou mais uma vez, então se virou para sair. Dois guardas abriram as portas e as fecharam novamente atrás do homem.

– É cada coisa... – o rei Gavin esfregou a testa, parecendo tão cansado quanto o restante deles.

– Já é a terceira proposta esse mês. – disse a princesa. Acendia tinha acabado de completar dezessete anos, idade em que muitas jovens da nobreza já começavam a pensar em casamento, mas rainha Prometia vinha de uma linha de pensamento cada vez mais comum, que valorizava os estudos e independência antes de casamento.

– Vai se acostumando. – Arian descansou o queixo na mão. – É só dizer "não" e vida que segue.

– É desagradável. – Acendia rebateu.

– É a vida. – Arian debochou e trocou mais um olhar com Brethen, naquela conversa silenciosa que ela já estava tão acostumada. Me tira daqui, o olhar dizia, mas tudo que Brethen podia fazer era revirar os olhos em resposta.

O rei se ajeitou no trono, já incapaz de encontrar uma posição confortável, e se voltou para um dos guardas à porta.

– Tem mais alguém esperan...

Mas ele nunca terminou a frase, pois, naquele instante, a porta foi escancarada com um estrondo. Por ela entrou correndo Alma Garri, capitã da guarda real, arfante e com uma camada de suor cobrindo sua pele escura.

– Majestade. – ela disse em meio à respiração ofegante e se curvou.

– Alma – o rei se empertigou. –, o que houve?

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora