A carruagem disparava pela estrada a toda velocidade, desviando de outros viajantes sempre que possível. Quando não era, Brethen gritava para que saíssem da frente, enquanto se esforçava para guiar os cavalos.
Dentro da carruagem, Arian tinha as mãos firmes sobre a ferida de Arture. Vez ou outra, Brethen olhava pela janela e via a cena: o amigo deles no chão, recostado na parede, Arian ajoelhado diante dele, dando seu melhor para se manter firme, mesmo com os trancos e viradas bruscas do veículo. E, no outro canto, um homem desacordado, com uma tatuagem da Maré Sombria no peito, amarrado nos pulsos e tornozelos, sendo sacudido de um lado para o outro.
Se seguissem o ritmo normal, seria pouco menos de duas horas de viagem desde o local do ataque até a Capital. Mas Brethen estava forçando os cavalos ao máximo, torcendo para conseguirem fazer o trajeto na metade do tempo. Só que ela sabia que não conseguiria manter aquele ritmo por muito tempo, e já notava que os cavalos começavam a desacelerar.
– Brethen – Arian gritou do lado de dentro, e ela se virou para olhar pela janela mais uma vez. –, temos um problema.
Ele não precisou se dizer do que se tratava, já que ela logo notou que o prisioneiro estava acordado e se debatendo contra as cordas.
Brethen fez os cavalos desacelerar para um trote constante e amarrou a rédea de forma a mantê-los indo em linha reta. Então, se agarrando à lateral da carruagem, abriu a porta e saltou para dentro.
Assim que a viu, o homem amarrado se desesperou e se agitou ainda mais. Brethen o agarrou pelo tecido da túnica rasgada e trouxe o rosto dele para bem perto do dela.
– Comporte-se, ou sua morte não vai ser tão gentil quanto a dos seus amigos – ela rosnou. Com uma pancada com o cabo da adaga, ela o deixou inconsciente outra vez.
Sem ela no controle, a carruagem foi perdendo mais e mais velocidade. Ainda assim, Brethen tirou um segundo para olhar para Arian. Da posição em que ele estava, ela só conseguia ver a lateral do rosto dele e as costas, mas ela notou o quanto ele estava pálido – ainda mais do que Arture, que era quem estava tendo uma hemorragia.
– Quanto tempo você aguenta? – ela perguntou.
– Só nos leve para casa, Breth – Arian rebateu.
– Arian – a voz de Brethen era rígida. – Quanto tempo?
– Brethen! – Arian virou o pescoço em um movimento rápido, e Brethen se assustou novamente com aqueles olhos completamente negros. – Vou cuidar dele por quanto tempo for preciso. Só. Nos leve. Para casa.
Brethen não rebateu. Não tinha por quê. Ela sabia que aquilo teria efeitos sérios em Arian, mas não podia deixar Arture morrer.
Ela fez o caminho de volta para o banco do cocheiro, retomou as rédeas e os levou para casa.
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Arture foi levado para a enfermaria assim que chegaram ao palácio e o prisioneiro foi arrastado para as masmorras. Mas Brethen não saiu de perto de Arian, dentro da carruagem, até que o rei e a rainha tivessem chegado e todos os guardas tivessem se afastado. Ela precisou abraçar Arian, escondendo o rosto dele, fingindo que ele tinha desmaiado por causa do susto do ataque. Tudo para que ele pudesse manter os olhos fechados.
Vários guardas insistiram que precisavam tirá-lo dali e levá-lo para a enfermaria também, e Brethen precisou ordenar, aos gritos, que eles se afastassem e a deixassem cuidar do príncipe.
Brethen sabia que Arian odiava pagar de frágil. Mas ele ficou imóvel durante todo o tempo, com a cabeça apoiada contra o ombro de Brethen. Imóvel até demais.
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A Maré Sombria
FantastikBrethen não tem medo de nada. Ou, ao menos, de muito pouco. Treinada desde a adolescência em uma academia de guerreiros e assassinos, ela foi selecionada a dedo pelo príncipe Arian para ser sua Campeã. A partir daquele dia, Brethen se tornou a somb...