– Você está muito quieta.
A voz de Arian trouxe Brethen de volta de um transe. Eles estavam na sala secreta. Ela deitada no sofá de veludo com as pernas para o alto. Ele diante da bancada de trabalho, cabelos presos, mangas dobradas e óculos escorregando pelo nariz, como se nada tivesse mudado – ou estivesse prestes a mudar.
– Só estou cansada –Brethen mentiu. – Falta muito aí?
Durante a manhã, Arian e Belinda foram cavalgar às margens do rio, na companhia de outros jovens da nobreza. Brethen, claro, acompanhou o grupo, tanto como amiga quanto como Campeã do príncipe, mas sua mente estava em outro lugar.
Quando voltaram ao palácio, Arian disse que precisava procurar algo e que era para Brethen encontrá-lo na sala secreta em duas horas. E lá estavam eles.
– É um feitiço delicado – Arian respondeu. –, precisa ser feito com calma.
Diante dele, sobre a bancada, estava uma espada antiga e enferrujada. Para qualquer um que olhasse, não havia nada de extraordinário na espada, fora sua evidente idade. Mas logo Arian explicou que ela era muito mais do que isso.
– Esta lâmina pertenceu a um dos líderes da antiga Maré Sombria, Jon Moster. Ele usou esta espada para lutar contra os guardas que foram capturá-lo, pouco antes do fim definitivo da organização – Arian fez uma pausa. – Bem, talvez não definitivo.
– E esta espada estava simplesmente por aí?
– Estava na sala de relíquias – ele havia dito, como se fosse resposta o bastante.
– E o que vai fazer com ela? – Brethen tinha perguntado, e Arian explicou que achava que conseguiria fazer um feitiços para acessar memórias do antigo dono gravadas no objeto.
– É semelhante ao que eu fiz com aquela pedra ontem à noite – ele disse. –, só que um pouco mais complexo.
– Um pouco? –Brethen duvidou.
– Talvez não um pouco, mas, se der certo, vai nos ajudar a entender muita coisa.
– E os efeitos? –ela perguntou, preocupada.
– Não tenho mais compromissos hoje. Belinda vai tomar chá com as damas da corte, o que pode durar o dia todo.
Então Arian começou a trabalhar no feitiço e Brethen se deitou no sofá, onde já estava há mais de duas horas.
– Mais algumas marcações e vai estar pronto – Arian disse. Com um pincel fino, ele desenhava pequenas runas por toda a superfície da espada. – Depois é só recitar o feitiço.
– E se não der certo?
– Aí não veremos nada, e vamos continuar exatamente como estamos agora. Pode pegar um pouco de água para mim?
Com um grunhido, Brethen ficou de pé e foi até a jarra de água. Serviu um copo e levou até Arian. Ele deu alguns goles segurando o copo com uma mão e trabalhando nas runas com a outra, e o devolveu para Brethen, ainda meio cheio. Ela bebeu o resto e voltou para o sofá.
Assim que ela fechou os olhos para descansar um pouco, Arian disse:
– Pronto. Venha cá.
– Por que?
– Para você ver também.
Brethen já tinha feito parte das magias de Arian outras vezes, mas aquilo sempre a deixava com uma sensação... estranha, pra dizer o mínimo.
– Preciso mesmo? –ela perguntou.
– Pode ser que você consiga enxergar coisas que eu não vou.
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A Maré Sombria
FantasíaBrethen não tem medo de nada. Ou, ao menos, de muito pouco. Treinada desde a adolescência em uma academia de guerreiros e assassinos, ela foi selecionada a dedo pelo príncipe Arian para ser sua Campeã. A partir daquele dia, Brethen se tornou a somb...