CAPÍTULO 7 - Revelações

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 – Você está muito quieta.

A voz de Arian trouxe Brethen de volta de um transe. Eles estavam na sala secreta. Ela deitada no sofá de veludo com as pernas para o alto. Ele diante da bancada de trabalho, cabelos presos, mangas dobradas e óculos escorregando pelo nariz, como se nada tivesse mudado – ou estivesse prestes a mudar.

– Só estou cansada –Brethen mentiu. – Falta muito aí?

Durante a manhã, Arian e Belinda foram cavalgar às margens do rio, na companhia de outros jovens da nobreza. Brethen, claro, acompanhou o grupo, tanto como amiga quanto como Campeã do príncipe, mas sua mente estava em outro lugar.

Quando voltaram ao palácio, Arian disse que precisava procurar algo e que era para Brethen encontrá-lo na sala secreta em duas horas. E lá estavam eles.

– É um feitiço delicado – Arian respondeu. –, precisa ser feito com calma.

Diante dele, sobre a bancada, estava uma espada antiga e enferrujada. Para qualquer um que olhasse, não havia nada de extraordinário na espada, fora sua evidente idade. Mas logo Arian explicou que ela era muito mais do que isso.

– Esta lâmina pertenceu a um dos líderes da antiga Maré Sombria, Jon Moster. Ele usou esta espada para lutar contra os guardas que foram capturá-lo, pouco antes do fim definitivo da organização – Arian fez uma pausa. – Bem, talvez não definitivo.

– E esta espada estava simplesmente por aí?

– Estava na sala de relíquias – ele havia dito, como se fosse resposta o bastante.

– E o que vai fazer com ela? – Brethen tinha perguntado, e Arian explicou que achava que conseguiria fazer um feitiços para acessar memórias do antigo dono gravadas no objeto.

– É semelhante ao que eu fiz com aquela pedra ontem à noite – ele disse. –, só que um pouco mais complexo.

– Um pouco? –Brethen duvidou.

– Talvez não um pouco, mas, se der certo, vai nos ajudar a entender muita coisa.

– E os efeitos? –ela perguntou, preocupada.

– Não tenho mais compromissos hoje. Belinda vai tomar chá com as damas da corte, o que pode durar o dia todo.

Então Arian começou a trabalhar no feitiço e Brethen se deitou no sofá, onde já estava há mais de duas horas.

– Mais algumas marcações e vai estar pronto – Arian disse. Com um pincel fino, ele desenhava pequenas runas por toda a superfície da espada. – Depois é só recitar o feitiço.

– E se não der certo?

– Aí não veremos nada, e vamos continuar exatamente como estamos agora. Pode pegar um pouco de água para mim?

Com um grunhido, Brethen ficou de pé e foi até a jarra de água. Serviu um copo e levou até Arian. Ele deu alguns goles segurando o copo com uma mão e trabalhando nas runas com a outra, e o devolveu para Brethen, ainda meio cheio. Ela bebeu o resto e voltou para o sofá.

Assim que ela fechou os olhos para descansar um pouco, Arian disse:

– Pronto. Venha cá.

– Por que?

– Para você ver também.

Brethen já tinha feito parte das magias de Arian outras vezes, mas aquilo sempre a deixava com uma sensação... estranha, pra dizer o mínimo.

– Preciso mesmo? –ela perguntou.

– Pode ser que você consiga enxergar coisas que eu não vou.

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora