CAPÍTULO 4 - Truque

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A passagem estava aberta.

Como aquilo era possível, ninguém soube explicar. As pedras pareciam ter sido removidas uma a uma, usando cinzel e martelo para separar as pedras do cimento que as unia, até abrir um espaço grande o bastante para caber um homem adulto agachado. Um trabalho meticuloso que teria levado semanas, meses, talvez. Como seria possível alguém fazer aquilo sem ser visto?

– A não ser que o trabalho tenha sido feito pelo lado de dentro. – Arian disse, e Brethen tinha chegado à mesma conclusão.

A passagem secreta ficava sob a ponte, oculta pela própria estrutura. Aquilo teria facilitado que o trabalho fosse feito às escondidas. Mas, ainda assim, a entrada ficava dentro dos muros do palácio, e o assassino precisou entrar de alguma forma. Até agora, tudo apontava que ele teve ajuda.

– Vamos investigar isso – disse Capitã Alma. Os guardas dela cercavam toda a região, buscando por mais pistas dentro e fora do túnel.

A Capitã garantiu a Arian que faria uma investigação profunda no palácio para encontrar o responsável por ajudar o invasor, se realmente houvesse alguém. Então Brethen e ele seguiram com o dia, indo cavalgar e jogar cartas como combinado. Mas a verdade é que nenhum dos dois realmente estava com a cabeça naquelas atividades.

Brethen tinha visto o corpo do invasor na noite anterior. Ele era alto e esguio. Tinha os cabelos e barba longos, a pele clara. A julgar pela aparência, ele poderia ser de qualquer lugar dentro de Pretória ou de algum reino vizinho. O anel utilizado para armazenar o veneno que o matou era feito de metal simples, sem adornos. A tatuagem do símbolo da Maré Sombria não era recente.

– Existem feitiços de identificação, –Arian havia dito –Posso tentar conseguir mais informações do corpo.

Mas o rei Gavin foi veemente ao dizer que queria o filho fora daquele assunto, e mais ainda no que envolvia o uso de magia. Um feitiço daquele nível deixaria marcas maiores do que apenas manchas nas mãos que poderiam ser facilmente cobertas com luvas. Com a chegada iminente de Belinda ao palácio, todos os olhares estariam nela e em Arian, e o rei não queria correr riscos.

Mais de uma vez ao longo do dia, em meio a galopes e jogadas de baralho, Arian sugeriu que Brethen o ajudasse a entrar na sala fria onde o corpo ainda estava aguardando para ser cremado. Ela negou, não por não concordar que a magia dele seria útil no caso, mas porque o corpo estava sendo guardado vinte e quatro horas por dia, e os guardas tinham ordens de não deixar o príncipe entrar.

À noite, porém, Brethen acordou com um barulho. Era um som abafado, uma pancada, vindo da passagem oculta que unia o quarto dela ao do príncipe e que levava aos túneis secretos. Ela saltou da cama na mesma hora, pegando a adaga que deixava escondida na mesa de cabeceira, e se esgueirou pela passagem. Não havia ninguém no corredor secreto, e a porta oculta que levava ao quarto do príncipe estava fechada, mas ela ainda ouvia sons vindos de lá.

Brethen se apressou e empurrou a porta com tudo, temendo o que iria encontrar do outro lado. Mas seu desespero acabou se mostrando infundado.

Arian estava de pé, sozinho no quarto, ainda com as roupas do dia.

–Brethen! – ele disse, surpreso em vê-la ali de camisola e com uma adaga na mão.

–Arian, eu ouvi um barulho e...

–Era só eu.

Arian estava simplesmente parado ali, com as mãos atrás do corpo. O comportamento dele era bastante estranho – ou mais estranho que o usual. Os olhos de Brethen rastrearam o quarto, tentando entender aquilo, mas tudo parecia estar em seu devido lugar.

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora