CAPÍTULO 20 - Promessa

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Respire fundo pelo nariz. Conte até três. Solte pela boca.

Estas tinham sido as orientações do médico do palácio quando Brethen foi até ele depois de três dias de dores de cabeça, enjoos e tonturas. Após descartar a possibilidade de gravidez – o que Brethen precisou repetir várias vezes que não era possível – o médico concluiu que só poderia ser um mal de origem emocional. Os eventos recentes, somados à aproximação do noivado de Arian... Os ânimos de Brethen estavam agitados e o corpo dela estava reagindo. Ele indicou alguns chás calmantes, um tônico para dor e alguns exercícios de respiração, e pediu para ela retornar em dez dias se não tivesse melhoras nos sintomas.

Respire fundo pelo nariz. Conte até três. Solte pela boca.

Brethen não tinha falado nada para Arian sobre o mal estar. Ele já tinha muito com o que se preocupar. A verdade é que os sintomas tinham piorado desde então, e estavam cada vez mais difíceis de esconder. Tudo começou no dia seguinte ao jantar no apartamento de Amina. A princípio, a bebida havia sido a clara culpada, mas quando ela não melhorou depois de um dia – ou dois, ou três – ficou claro que o problema era outro.

Respire fundo pelo nariz. Conte até três. Solte pela boca.

Com a cabeça constantemente latejando, era difícil estar completamente presente. Mesmo agora, sentada no banco diante da penteadeira enquanto Sabina enchia o cabelo dela de grampos, Brethen sentia-se desconectada de tudo. E os puxões no cabelo dela não ajudavam.

– Fique parada, Lady Brethen – Sabina pediu pela terceira vez –, ou o penteado vai ficar todo torto.

Brethen raramente usava penteados. Ela tinha cortado os cabelos na altura dos ombros justamente para ter mais praticidade no dia a dia. Mas, em datas especiais, Sabina insistia em fazer algo de diferente. E nenhuma data parecia ser mais especial do que o noivado de Arian.

No lugar do uniforme que usava todos os dias, Brethen vestia o uniforme cerimonial: um longo paletó preto, bordado com fios dourados, bem acinturado e indo até a altura dos joelhos. As calças vermelho escuro, geralmente justas para caber dentro das botas, deram lugar a uma peça que era quase uma ilusão de ótica, já que parecia uma saia quando Brethen fechava as pernas, mas era na verdade uma calça feita de tecido fluido. O cinto com a espada estava ali, como sempre, mas a lâmina do dia a dia também foi substituída por uma mais adornada, com o cabo incrustado de joias.

Sabina tinha colocado um pouco de cor nos lábios e bochechas de Brethen, delineado os olhos e modelado os cílios. O penteado escolhido para aquela noite era uma coroa de tranças com alguns fios soltos perto do rosto e orelhas, que também estavam adornadas por um par de brincos de rubi. Era o mais perto que Brethen já esteve de se parecer com uma Lady de verdade.

Respire fundo pelo nariz. Conte até três. Solte pela boca.

– Lady Brethen – a voz de Sabina era suave desta vez –, está tudo bem?

– Só uma dor de cabeça – Brethen disse, de olhos fechados.

– Devia ter me falado antes de eu fazer o penteado. Quer que busque algum remédio?

– Tem um frasco na minha mesa de cabeceira. Coloque cinco gotas em um copo de água para mim, por favor?

O frasco continha um analgésico leve prescrito pelo médico. Não resolvia o problema, mas trazia algum alívio. Brethen precisaria de algo muito mais forte para realmente aliviar as dores, mas esse tipo de remédio também a deixaria sonolenta e completamente incapaz de fazer seu trabalho.

Brethen tomou o remédio e se olhou no espelho, tentando não focar no penteado, na maquiagem ou nas jóias. Ela prestou atenção no próprio rosto, na expressão de dor que ameaçava transparecer ali.

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora