Lady Belinda da Casa Justis, herdeira da província de Rivena, chegou ao palácio minutos depois da décima primeira badalada do relógio. Ela e os membros de sua comitiva – quatro guardas, cinco criados e quatro damas de companhia – atravessaram Pratória de barco ao longo de uma semana, até atracarem no porto da Sabinia naquela manhã, e seguirem por mais duas horas de carruagem até o Palácio.
Toda a família real, agregados e outros nobres habitantes do palácio, esperava por ela no Salão Dourado. Belinda tinha a pele oliva, usava os cabelos castanhos presos em um coque volumoso, e um vestido roxo coberto de brocados. Ela atravessou o salão em passos determinados, parando a poucos metros de Arian, onde fez uma reverência.
Brethen observou todo o ritual com atenção, enquanto Arian retribuiu a cortesia e beijou a mão de Belinda que, em seguida, se ajoelhou e beijou as mãos do rei e da rainha.
– Bem-vinda ao seu novo lar, senhorita Justis. –disse o rei.
– É uma honra inigualável, Majestade.
Os boatos sobre a beleza de Belinda eram reais. Ela tinha o rosto oval, olhos amendoados e lábios carnudos, e se portava de forma elegante, sempre com um sorriso charmoso. Ela e Arian fariam um belo casal, ao menos nas pinturas.
Mais cedo, antes da chegada de Belinda, Brethen tinha acompanhado Arian até o escritório do rei, onde ele entregou o pedaço de papel com a descrição da pessoa que teria ajudado o invasor.
– É só isso – disse Arian diante do olhar desaprovador do pai. –, não vou me meter mais.
Gavin não discutiu e guardou a pequena lista para entregar a Alma. Haviam centenas de criados no palácio, sem contar os moradores e visitantes. Mas, se o homem que ajudou o invasor ainda estivesse por lá, Alma o encontraria.
Com esse assunto resolvido, Arian estava livre para dedicar sua total atenção a Belinda.
No começo da tarde, Arian convidou Belinda para um passeio nos jardins. Os dois caminharam de braços dados, rindo e conversando, enquanto Brethen acompanhava a certa distância para dar privacidade ao casal, mas ainda perto o bastante para ficar de olho no príncipe.
–Sobre o que acha que eles estão conversando? –uma voz sussurrou atrás de Brethen, que se virou para encontrar Lady Amina Caelix caminhando à sombra de seu próprio guarda-sol. Amina era herdeira de uma das maiores casas de Pratória e, um dia, faria parte do conselho do rei. Recém casada com o Duque de Samin, primo de Arian, a bela jovem de pele clara, cabelos loiros e olhos azuis tinha tudo para ser a criatura mais sofrível de todo o palácio. Felizmente, ela estava longe de ser isso.
–O que duas pessoas que mal se conhecem e estão prestes a se casar têm para conversar? –Brethen rebateu, e Amina encaixou um braço no cotovelo dela, levantando mais o guarda-sol para cobrir as duas.
–Várias coisas. –ela disse. –O clima é um excelente tópico. Mas também podem conversar sobre seus livros favoritos, hobbies e até política, se forem mais ousados.
– Eles têm trocado cartas há um ano. Aposto que já esgotaram todos esses assuntos.
– Cartas são traiçoeiras. –Amina apertou o braço de Brethen e se inclinou para sussurrar – Podem fazer alguém parecer bem mais interessante do que realmente é.
– Aposto que estão relembrando momentos da adolescência. Ouvi dizer que a Lady Belinda vinha muito aqui.
– Ah, sim. Me lembro dela dessa época. Nunca fomos próximas, mas ela era gentil, sempre muito educada. Sei que ela foi estudar no exterior e voltou há poucos meses.
As duas caminharam de braços dados por mais algum tempo enquanto Arian e Belinda faziam o mesmo mais adiante. Brethen prestou atenção no príncipe, na postura dele. Estava muito mais ereta do que o normal, o braço livre atrás do corpo, a cabeça levemente tombada dando um ar de curiosidade enquanto ele ouvia Belinda falar.
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A Maré Sombria
FantasíaBrethen não tem medo de nada. Ou, ao menos, de muito pouco. Treinada desde a adolescência em uma academia de guerreiros e assassinos, ela foi selecionada a dedo pelo príncipe Arian para ser sua Campeã. A partir daquele dia, Brethen se tornou a somb...