CAPÍTULO 2 - Paradeiro

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Brethen acordou com uma respiração em seu pescoço. Precisou de alguns segundos para se situar no espaço e tempo, sem abrir os olhos.

Estava em seu próprio quarto, claro, nunca dormia em outro lugar, a não ser que precisasse acompanhar o príncipe em alguma viagem. A respiração em seu pescoço pertencia a Serafine, assim como o leve perfume de rosas no ar. A jovem dormia profundamente, com os braços e pernas nuas entrelaçados aos de Brethen.

Já era dia, e pela luz que entrava pelo vão entre as cortinas, Brethen havia dormido mais do que o normal. Com cuidado para não acordá-la, Brethen se soltou dos braços de Serafine e saiu da cama e se abaixou para recolher as roupas espalhadas pelo chão. Dobrou as de Serafine em uma pilha cuidadosa e deixou sobre a poltrona, então foi até o closet se vestir.

O uniforme de Brethen consistia em um par de calças vermelho escuro, um paletó preto com bordados brancos em estilo militar que ia até a metade das coxas – e era substituído por um colete sobre uma camisa de mangas curtas nos dias mais quentes – um bar de botas altas e o cinto onde levava a espada embainhada.

Brethen teve os cabelos longos a maior parte da vida, mas, nos últimos anos, optou por cortar os fios pretos e ondulados na altura dos ombros, mantendo a franja reta com a qual já estava acostumada.

Quando voltou para o quarto, viu que Serafine havia rolado na cama e agora estava deitada de bruços com quase todo o corpo de descoberto. Brethen a cobriu com cuidado antes de se esgueirar para fora dos aposentos.

E dar de cara com Arian, prestes a bater na porta.

– Ah, que bom, você está aqui – ele disse, casualmente ajeitando a lapela do casaco de Brethen.

Os quartos dos dois eram lado a lado e compartilhavam uma mesma antessala, tudo para que Brethen estivesse o mais perto possível do príncipe e pudesse agir com rapidez em casa de alguma emergência. Havia também uma porta secreta que ligava os dois quartos e levava a túneis que poderiam ser usados em uma fuga.

Brethen fechou a porta para ocultar a figura adormecida de Serafine em sua cama. Arian sabia sobre ela, claro, não havia segredos entre eles, mas Brethen gostava de preservar algum módico de privacidade.

– Precisa de mim agora? – Brethen perguntou – Queria tomar café, estou morrendo de fome.

– Não, pode comer. Mas tenho notícias.

No centro da antessala, um dos criados havia montado a mesa de café da manhã de Brethen, e ela se sentou para comer. Arian tomou a cadeira diante dela.

– Finalmente tive uma resposta da pessoa que enviei para procurando seus pais. – ele disse, e Brethen esqueceu completamente a fome que sentia.

– E? – ela se debruçou sobre a mesa.

– Eles estão vivos, assim como seus irmãos.

A respiração ficou presa na garganta de Brethen por alguns segundos antes de ela respirar, sentindo seu coração saltar no peito.

– Onde eles estão? – ela perguntou, e Arian a entregou um papel dobrado.

Lentamente, Brethen desdobrou e leu. Seu irmão, Basken, estava perto da capital. Seriam menos de seis horas de viagem a cavalo. Seus pais estavam um pouco mais longe, e seria preciso um dia inteiro para chegar até eles.

– Você vai até lá? – Arian perguntou.

Brethen dobrou o papel novamente e o colocou no bolso do paletó.

– Ainda não, sei – ela disse. – Preciso digerir isso tudo. Mas estou aliviada de saber que estão todos vivos.

Arian esticou uma mão sobre a mesa, e Brethen a apertou. Ele estava sem as luvas, os dedos frios cobertos pelas manchas negras com as quais ela já havia se acostumado.

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora