Quando Brethen voltou para o próprio quarto, encontrou Sabina de joelhos dentro dcloset, organizando uma pilha de roupas limpas.
– Está tarde, Sabina – Brethen disse. – Deixe isso para amanhã.
– Joguei fora aquelas roupas sujas de sangue – Sabina continuou sua tarefa, sem olhar para Brethen – Espero que você não tenha nenhum apego a elas.
Brethen não tinha viajado de uniforme – não que suas outras roupas fossem muito diferentes disso. Eram sempre calças simples e confortáveis, botas e uma túnica ou paletó. E ela nem se lembrava de que roupas estava usando no dia anterior.
– Troquei suas roupas de cama também – Sabina ficou de pé e bateu os joelhos – Você precisa parar de esconder as adagas embaixo dos travesseiros.
A mulher mais velha estava prestes a sair do closet, mas Brethen se colocou no caminho dela.
– Sabina – ela disse. –, você gosta do seu trabalho?
– O que deu em você, menina?
– Diga a verdade, por favor. Se pudesse fazer outra coisa, você faria?
Sabina deu um tapinha brincalhão no braço de Brethen e se espremeu para passar pela porta.
– Este trabalho me encontrou em um momento de dificuldade, não o contrário – ela disse. – e é uma honra cuidar de você. Não me imagino fazendo outra coisa.
Brethen sentiu um repetindo nó na garganta e deu um passo adiante para abraçar Sabina. A mulher passou os braços ao redor dela e deu tapinhas nas costas de Brethen.
– Quer que eu penteie seu cabelo? – Sabine perguntou, e Brethen fez que sim com a cabeça. Ela estava prestes a se deitar e seu cabelo estava perfeitamente arrumado, mas não faria mal sentir um pouco de afeto.
Quando foi para a cama, a exaustão a dominou rapidamente, e ela teve sonhos agitados, cheios de ondas e montanhas. Acordou de repente, com o som de um sino. Era um dos alarmes do quarto de Arian.
Brethen saltou da cama já pegando uma adaga – que Sabina havia colocado de volta no lugar, apesar da reclamação de mais cedo – e disparou em direção à passagem secreta entre os quartos.
A cena que encontrou no quarto de Arian a fez se perguntar se ainda estava sonhando. Ou melhor, se estava tendo um pesadelo.
Arian estava sozinho no quarto, mas o alívio terminou por aí. O príncipe estava sobre a cama, porém não deitado nela. Ele flutuava a cerca de um metro de altura, com os braços pendendo para baixo ao lado do corpo, a cabeça para trás. Enormes tentáculos feitos de sombra se debatiam pelo quarto, saindo do peito do príncipe. Os olhos dele estavam fechados, a boca entreaberta.
– Arian! – ela gritou da porta, mas o som parecia abafado e distante – Arian!
O quarto – iluminado apenas pela luz da lua que entrava pelas janelas – parecia ter, ao mesmo tempo, encolhido e dobrado de tamanho. Brethen temeu o que aconteceria se algum daqueles tentáculos a tocassem, mas precisava fazer alguma coisa. Então correu.
O primeiro tentáculo a acertou pelo lado, na altura das costelas, e Brethen caiu. Mas logo se levantou e continuou correndo, desviando de mais dois tentáculos antes de ser acertada novamente, dessa vez pelas costas. Ela caiu de frente, com o peito na quina da cama de Arian, e dor emanou por todo o seu corpo, mas ao menos ela estava mais perto agora.
– Arian! – ela gritou novamente, mas parecia que sua voz estava abafada, distante.
Ela subiu na cama, rolou para baixo de Arian, passou os braços pela barriga dele e o puxou com tudo. Os tentáculos desapareceram e ele caiu em cima dela, tirando todo o ar dos pulmões de Brethen.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Maré Sombria
FantasíaBrethen não tem medo de nada. Ou, ao menos, de muito pouco. Treinada desde a adolescência em uma academia de guerreiros e assassinos, ela foi selecionada a dedo pelo príncipe Arian para ser sua Campeã. A partir daquele dia, Brethen se tornou a somb...