CAPÍTULO 35 - Chegada

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– Vamos receber uma hospéde hoje – Arian disse enquanto abotoava o colete.

– Senhor? – Gael, secretário do agora rei, franziu o cenho atraz dele no espelho. Brethen se ajeitou na poltrona onde estava, inquieta com a notícia inesperada.

– Quem? – ela perguntou.

– Ela se chama Dona Sirvi e é minha tia avó, tia de minha mãe. – ele passou as mãos pelo colete, desfazendo rugas inexistentes, e se virou para Brethen – Uma experiente praticante de magia, que tomou gosto pela arte por influência da minha falecida avó, irmã dela. Ela aceitou vir para o palácio aliviar um pouco do meu fardo de ser mago e rei.

– Isso é ótimo – Brethen ficou de pé e foi até ele – Mas por que não me contou antes?

– Não sabia se ela iria aceitar. Recebi uma mensagem ontem a noite informando que ela já estava a caminho.

Os olhos de Gael saltavam entre Brethen para Arian.

– Ahm... Devo preparar os aposentos na ala norte, senhor? – o secretário perguntou.

– Não. Dê a ela os aposentos que eram da minha avó. Acho que ela vai gostar.

-

Dona Sirvi era uma senhora cuja idade só era denunciada pelas rugas em sua pele. Ela era alta e magra, com a coluna ereta e cabelos longos tingidos de vermelho profundo. Arian havia dito que a avó dele era mais de quinze anos mais velha do que a irmã, o que significava que Dona Sirvi estava na casa dos setenta anos, talvez beirando os oitenta.

– Majestade. – a mulher se curvou sem dificuldades – É uma honra estar em sua presença.

– Titia, por favor. – Arian a puxou para ficar de pé e a abraçou – Nada de formalidades.

Dona Sirvi riu e abraçou o sobrinho neto.

– Você era só um garoto quando te vi pela última vez e agora é rei. É difícil acreditar.

A senhora olhou para Brethen sobre o ombro de Arian, então se afastou.

– E que é esta bela jovem? – ela perguntou.

– Esta é minha Campeã, Brethen Acadia. – ele apresentou, e Dona Sirvi se aproximou dela, esticando as mãos. Mãos cobertas de manchas escuras.

–Ah! É um prazer enorme, querida. – ela apertou as mãos de Brethen, e os dedos dela eram gelados como os de Arian – Obrigada por manter meu sobrinho vivo.

–A honra é minha, senhora.

Dona Sirvi se afastou, apertou os braços de Brethen, a olhando de cima a baixo e, por fim, deu um passo para trás.

– Gael vai te acompanhar até seus aposentos – Arian disse. – A senhora deve estar exausta da viagem. Tire algumas horas para descançar e conversamos mais tarde.

Gael, de pé no canto da sala, se aproximou. Dois criados estavam perto dele, segurando as malas de Dona Sirvi.

– Eu estou é faminta – a senhora sorriu. – Ouvi dizer que o chef de vocês é excelente.

– Vou pedir que entreguem algo para comer, senhora – Gael meneou a cabeça. – Se puder me acompanhar.

– Claro, claro – Dona Sirvi enlaçou o braço no de Gael, surpreendendo o secretário, que trocou um breve olhar com Arian antes de sair para o corredor, seguido pelos criados com as malas.

Arian e Brethen os observaram se afastar, de pé no centro do hall de entrada do palácio. Quando os passos já ecoavam ao longo, Brethen inclinou a cabeça em direção a Arian.

– Teve tempo de pensar no assunto que conversamos ontem? – ela perguntou.

– Qual deles?

– Os dois.

Arian olhou para o chão com um leve sorriso nos lábios e as mãos cruzadas nas costas, então disse:

– Acho que preciso de um pouco mais de tempo.

– E por que não me contou sobre ela? – Brethen apontou com o queixo em direção à porta por onde Dona Sirvi tinha saído.

– Eu me esqueci. – Arian deu de ombros.

Brethen se virou para ele, franzindo o cenho.

– Se esqueceu?

– Sim, acontece às vezes. Muitas coisas para lembrar.

– Você confia nela?

– Claro que confio.– A expressão no rosto dele insicava que ele achava a pergunta absurda. – Ela é da família. Preciso de um favor.

A subta mudança de assunto tirou Brethen do eixo, mas ela tentou não demonstrar. Ela conhecia os padrões de Arian. Ele se tornava centrado e disciplinado quando estava certo de algo ou do que precisava ser feito, porém errático e imprevisível quando tinha algo perturbando sua mente. Tais mudanças podiam acontecer de um minuto para o outro.

– O que? – Brethen perguntou.

Arian tirou um pedaço de papel dobrado e entregou para Brethen. Um dos cantos da folha estava rasgado, como se tivesse sido arrancado de um caderno.

– Vou preparar poções da verdade com Dona Sirvi – ele ofereceu o papel para Brethen e, quando ela pegou, ele segurou os dedos dela. Então a puxou para perto para falar mais baixo. – Preciso que compre os ingredientes com Vande Sarne no Corcel Alado. Eu iria pessoalmente mas... Você sabe.

A última visita de Arian ao Corcel Alado para encontrar com Vande, o principal fornecedor de ingredientes e ítens mágicos da cidade, não havia acabado bem. E tinha sobrado para Brethen resolver o problema.

– Não acho que ele vai gostar de me ver por lá – ela disse.

– Mostre o dinheiro e ele vai ser incapaz de dizer não. – Arian soltou os dedos de Brethen, deixando o papel na mão dela, mas não se afastou. – A lista está aí e preciso que ele entregue rápido. Diga que eu pago extra pela agilidade e discrição dele.

Brethen respirou fundo e guardou o papel no bolso sem olhar o que estava escrito ali. Ela não entenderia mesmo se tentasse.

– Quando quer que eu vá?

– Agora, por favor. – Arian sussurrou. – Me encontre na sala secreta quando voltar.

– Tudo bem.

Arian sustentou o olhar de Brethen e apertou a mão dela por um breve segundo antes de se afastar. Brethen o assistiu partir, se sentindo muito mais distante do que aquele espaço entre eles.

Aquela não era a primeira vez que ela via Arian se fechar e agir daquele jeito peculiar quando passava por um momento turbulento. Mas nunca, desde o dia em que ela o conheçou, a causa da turbulência tinha sido ela.

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