A Maré Sombria

CAPÍTULO 9 - Reencontro

Eles partiram em uma carruagem pouco adornada por fora, mas confortável e luxuosa por dentro. Arture convocou mais dois de seus guardas de confiança para acompanhar Arian e Brethen na jornada, e os cinco deixaram os portões do palácio enquanto o céu começava a mudar de cor, anunciando a chegada de um novo dia.

Brethen odiava o sacolejar da carruagem – preferia infinitamente cavalgar – mas a viagem correu sem imprevistos ao longo da manhã, com uma pausa para esticar as pernas e almoçar, e depois ao longo de toda a tarde. As estradas estavam movimentadas, mas nada que atrapalhasse o fluxo de viajantes. Arian garantiu que eles poderiam passar a noite na propriedade de Lorde Samiton, que ficava perto da casa dos pais de Brethen.

Ela tinha previsto uma visita rápida, provavelmente sem grandes emoções mas, ainda assim, Brethen estava nervosa. As palmas das mãos dela suavam, mesmo com o dia fresco do lado de fora da carruagem, e ela tentava a todo tempo se segurar para não sacudir a perna. Em alguns momentos ela falhou e Arian conteve o movimento frenético com uma mão enluvada sobre o joelho de Brethen.

Naqueles momentos o príncipe não precisava dizer nada. Seu olhar já dizia Vai ficar tudo bem. Estou com você. e Brethen sabia que era verdade, mas isso não ajudava muito a controlar os nervos. O constante embrulho no estômago causado pelas curvas na estrada e o balanço da carruagem não ajudavam.

A vila de Sagossa ficava no alto de uma montanha, com uma visão privilegiada do Vale dos Santos logo abaixo. O lugar, que um dia tinha sido um importante ponto de encontro de mercadores e, posteriormente, se tornou lar de uma das maiores feiras do leste de Pratória, era cercado de fazendas, desde as pequenas propriedades familiares, às grandes terras com cercas altas e dominadas por homens ricos.

Foi preciso atravessar toda a vila e sair do outro lado, então virar em uma estrada estreita, margeada por pequenas granjas e hortas, até chegar a uma bifurcação marcada por um enorme pé de manga, e pegar a direita, como um gentil mercador havia informado na cidade. Ali, no fim da estradinha estreita, ficava uma propriedade miúda e charmosa, cercada por colinas e com uma casinha de pedra construída bem no meio. Uma placa pregada ao lado da porteira exibia o nome dos donos da propriedade: ACADIA.

A carruagem parou antes da porteira, e Arian pediu que Arture e os outros guardas esperassem ali. Arian e Brethen saíram e caminharam em direção à propriedade e, lá de longe, perto da casinha, alguém os avistou. O sol já estava baixo e dificultava a visão, mas Brethen soube que era um rapaz, que saiu correndo para dentro da casa gritando:

– Pai! Tem gente lá fora!

A porteira estava presa apenas por uma corda, então Brethen tomou a liberdade de abrir passagem para ela e Arian. Enquanto eles caminhavam em direção à casa, mais figuras se juntaram ao primeiro rapaz do lado de fora. Eram quatro pessoas, e Brethen identificou cada uma delas.

– Acho melhor você esperar aqui – ela sussurrou para Arian, e ele parou onde estava, sem discutir. Brethen sustentou o olhor dele por um momento, apreciando a familiaridade que exalava do leve sorriso nos lábios do príncipe. Não importa o que acontecesse a seguir, ele estaria ali. E, então, ela seguiu em frente sozinha.

Lá estavam eles, seu pai, sua mãe e seus dois irmãos do meio. Brethen parou a alguns metros deles.

– É ela mesmo! – Benedit sussurrou para Bernart – ou ao menos Brethen supôs que não tinha trocado os nomes, já que os gêmeos eram idênticos. Benedit sempre preferiu usar os cabelos um pouco mais longos que os do irmão, e foi isso que Brethen usou para identificá-lo.

– Oi – Brethen disse, porque não sabia o que mais dizer – Mãe, pai. Há quanto tempo.

Lázaro, o pai de Brethen, foi o primeiro a se mover. Com os olhos arregalados e as sobrancelhas enrugadas – bem mais grisalhas do que ela se lembrava – ele se aproximou da filha.