Brethen não se lembrava da última vez que tinha dormido tão pesado na vida. E o fato de ela ter conseguido tal feito espremida entre o corpo de Arian e o encosto do sofá, sem mal ter se movido, só provava esse fato.
O braço dela estava dormente, preso em uma posição estranha, mas ela não queria se mover e acordar Arian. Com o rosto aninhado entre o pescoço e o ombro dele, ela podia sentí-lo respirar lentamente, ainda em sono profundo.
Uma manta cobria os corpos entrelaçados dos dois, e Brethen começou a sentir calor. Pela forma com que a luz entrava pelas cortinas entreabertas, Brethen concluiu que o sol tinha acabado de nascer. A sala foi tomada por um brilho alaranjado que refletia dos diversos frascos de vidro sobre a bancada, criando feixes de luz através da poeira flutuando no ar.
Ela sabia que era a coisa mais clichê do mundo mas, deitada ali tão perto de Arian, ela entendeu o impulso que tomava conta dos personagens das histórias de amor, e os dedos dela flutuaram diante do rosto de Arian, tentados a traçar cada detalhe do rosto dele, mas ainda tremendo que o toque fosse acordá-lo. Ela se sentia como uma adolescente embriagada por seu primeiro amor.
Brethen tinha tido outros amantes. Aos quinze anos ela se apaixonou por um rapaz um ano mais velho que ela, chamado Eri. Eles namoraram por alguns meses, mantendo o relacionamento em segredo, a pedido dele, até descobrir que ela não era a única namorada que Eri mantinha em segredo.
Um ano depois, Brethen se apaixonou por uma mulher pela primeira vez. Ela se chamava Garla e, assim como Eri, estava algumas turmas à frente de Brethen na academia. Foi com Garla que Brethen se abriu intimamente pela primeira vez. Porém, poucos meses depois, Garla se formou na academia e a distância acabou sendo mais forte que o amor.
Já vivendo no palácio, Brethen se relacionou por um tempo com um guarda chamado Favio. Era algo casual, ao menos por parte dele. Brethen logo percebeu que os sentimentos dela não eram correspondidos, e achou melhor se afastar.
Pelos anos seguintes, Brethen teve alguns encontros casuais que nunca evoluíram para nada mais sério. Foi durante aquele período que, pela primeira vez, ela se deu conta de que talvez tivesse sentimentos por Arian, sentimentos que não deveriam existir. Foi também nesse período que Arian viveu algumas de suas próprias paixões e desilusões, e Brethen conseguiu empurrar seus sentimentos para o fundo, onde achava que eles ficariam escondidos para sempre.
Serafine foi um respiro em meio a isso tudo. Durante os preparativos para o casamento de Amina e com a notícia da chegada de Belinda ao palácio para oficializar seu noivado com Arian, Serafine confidenciou a Brethen sobre sua falta de interesse em homens e a pressão para casar e ter filhos. A revelação surpreendeu Brethen, mas nas semanas seguintes, elas se aproximaram, transformando a amizade em algo mais. Um breve, simples e, ao mesmo tempo, um pouco confuso capítulo que acabou como acabou.
E, agora, Serafine estava de volta. Aquele primeiro reencontro tinha pego Brethen de surpresa. Ver Serafine ali, com os cachos escapando do coque baixo, as gotículas de chuva em seus ombros e aquele olhar que fez companhia a Brethen em tantas noites solitárias, tinha sido um choque, e Brethen não soube como agir. Ela pensou, mais do que sentiu, que o reencontro viria acompanhado de uma onda de sentimentos confusos. Se imaginou revirando na cama tentando entender o que sentia por Serafine, temendo o próximo encontro e a conversa que viria com ele.
Mas, agora, deitada nos braços de Arian, sentindo as batidas do coração dele contra a pele dela, não havia dúvidas nem temores. Brethen estava certa do que sentia e do que queria, e sabia exatamente o que diria a Serafine quando chegasse a hora. A mão dela ainda flutuava a milímetros de distância do rosto de Arian quando ele se moveu, e o nariz dele tocou nos dedos dela. Arian abriu os olhos lentamente, e um sorriso preguiçoso brotou nos lábios dele.
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A Maré Sombria
FantasíaBrethen não tem medo de nada. Ou, ao menos, de muito pouco. Treinada desde a adolescência em uma academia de guerreiros e assassinos, ela foi selecionada a dedo pelo príncipe Arian para ser sua Campeã. A partir daquele dia, Brethen se tornou a somb...