CAPÍTULO 18 - Partilha

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O prato favorito de Arture era pernil assado com molho cítrico, e foi isso que Amina serviu aquela noite para o jantar. Brethen levou uma garrafa de vinho, como prometido, e Arian levou mais duas. Fora as várias garrafas que Amina já tinha em casa.

– À saúde de Arture! – Arian anunciou, levantando sua taça de vinho no centro da mesa – já era a terceira que ele tomava naquela noite – e todos brindaram.

O clima entre Brethen e Arian ainda estava pesado. Eles não tinham conversado de novo depois da discussão na sala de música, mas fingiam estar tudo bem. Para Brethen, era muito mais fácil fingir com os outros amigos ali, levantando os ânimos e a fazendo esquecer dos problemas.

O apartamento de Amina ficava na ala leste do palácio, onde vários membros da nobreza viviam. Ela tinha se mudado para lá logo que se casou com Silas, três meses antes. Sempre que Brethen visitava a amiga, prestava atenção em pequenos detalhes da casa que não estavam ali antes. Uma tapeçaria de flores coloridas em uma parede. Uma pintura de uma cena campestre em outra. Uma pequena estatueta de madeira no formato de um cavalo em uma das prateleiras. E era tudo obra de Amina, feito pelas mãos habilidosas daquela moça que muitos viam apenas como um rostinho bonito.

Quando chegou ao palácio, há cinco anos, Brethen duvidava que faria amizades por lá. Ela andava por aqueles corredores, participava de jantares e festas, e sentia sempre que não fazia parte e que estava ali apenas porque precisava acompanhar Arian. Até conhecer Amina.

A jovem nobre ainda não morava no palácio na época, e estudava em uma prestigiosa escola na província Sul, região dominada pela casa Caelix. Ela ia frequentemente visitar a mãe já que Lady Alana Caelix, como membro do conselho, passava longas temporadas no palácio.

A primeira vez que Amina e Brethen conversaram, foi em uma das festas de aniversário de Arian. Não o baile oficial, claro, mas a festa privada que ele organizava com seus amigos mais próximos. Também foi lá que ela conheceu Arture e Serafine. Naquela noite, Amina estava usando um vestido azul celeste, e tinha tropeçado na barra da saia depois de algumas bebidas. Ela acabou trombando com as costas de Brethen, e começou a se desculpar intensamente por tê-la sujado de vinho.

Em algum momento, as duas começaram a conversar, e passaram o resto da noite sentadas lado a lado falando de seus livros favoritos, como odiavam andar de carruagem e como ambas amavam comida apimentada. Em momento algum Amina tratou Brethen diferente por não ser da aristocracia, ou fez perguntas sobre os anos dela na academia Bastat. Em vez disso, contou vários podres sobre a infância e adolescência de Arian e deu dicas sobre como lidar com alguns membros específicos na nobreza. Naquela época, Brethen já se dava bem com Arian, mas eles ainda não eram tão próximos. Amina foi quem se tornou a primeira verdadeira amiga dela por ali.

Agora, anos depois, as duas se sentavam lado a lado novamente, um pouco esparramadas no sofá, segurando taças de vinho e inclinadas contra o ombro uma da outra como se fossem cair se alguma delas saísse dalí.

– Não sei se você se lembra daquele dia em Salvan, quando fomos no lago – Amina sussurrou rodopiando o vinho dentro de sua taça.

– O dia que você pulou do alto da cachoeira eu quase morri do coração? – Brethen riu – Claro que eu lembro.

– Lembra que tinha umas frutinhas em uma árvore ali perto, que eu achei que fossem amoras?

– Lembro, e eu falei pra ninguém comer.

–Eu descobri outro dia que elas são usadas para fazer um pigmento roxo maravilhoso. Só que elas realmente são extremamente venenozas, e por isso o tal pigmento é caríssimo, porque ele passa por um processo de purificação que leva meses.

A Maré SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora