Desfile

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O relógio marcava duas da tarde e a grande área externa do Copacabana Palace estava sendo projetada para o desfile. O palco, porém, já estava montado. Isso porque foi a ordem que correu desde às sete da manhã pelas rádios pessoais da equipe da A.R.C. | JEWELRY.

Pietro era o único que estava pelas redondezas, completamente trajado com suas vestes tipicamente sociais, apesar de estar fazendo um calor infernal no Rio de Janeiro. Ele havia dito claramente que não abria mão, ao menos, de sua camisa social branca — mesmo com suas mangas arregaçadas até o meio do antebraço, nem mesmo da sua calça preta ou dos seus sapatos sociais. Básico, mas elegante, afirmou.

Mademoiselle, erga a cabeça. Isso. Agora cruze bem essas pernas e linha reta! Olha a linha reta. — Ele bateu a bengala dourada no palco — Mon Dieu! Erga a postura. Parfait.

— Meu amigo, se esse cara continuar com essas ordens, eu juro por Deus que pego essa bengala e enfio no c-...

— Lara. — Juliette chamou a atenção da amiga com um olhar repreensivo — Você está externando meus pensamentos e isso não é legal.

Elas riram juntas, bebendo mais um copo de água na sequência.

— Juliette, mon cher. Suba até aqui.

Juliette suspirou, largando o copo em cima da caixa térmica.

— Oui? — Ironizou, observando um sorriso curto enfeitar a boca do francês.

— Vejo que está melhorando no francês. Me surpreende, mademoiselle.

— Pietro, estou cansada. Vai direto no ponto, por favor.

Je sais. Darei um descanso para vocês agora mesmo, mas o assunto que preciso tratar contigo é outro.

— Que seria? — Ela estreitou os olhos na direção do homem.

— Eu não posso falar disso aqui, seria deveras... Deveras algo. Poderia vir comigo?

— Pietro, Pietro. — Juliette analisou seu rosto por um instante — Tá, vai. Mas saiba que não confio em você.

— Você é cercada de gays, mademoiselle. Qual a diferença de mais um em seu encalço?

— Muita diferença, Pietro.

— Uh, eu prometo não tentar nada com você. É só uma... opinião.

— Logo, Pietro. — Juliette disparou na frente, ainda de braços cruzados.

— A tarde está livre para descanso. Tenham todos um bom desfile! — Anunciou, batendo a bengala no chão.

O francês seguiu Juliette em passos rápidos. Não sabia que uma brasileira como ela podia ser tão intensa e tão calma ao mesmo tempo, uma vez que estava acostumado apenas com pessoas delicadas e que não costumam se impor em relação a ele. Ambos entraram no elevador e Pietro apertou o botão que dava acesso ao seu andar, permanecendo em silêncio enquanto não chegava neste.

— Por que trouxeram isso para o Brasil?

Pietro olhou de canto para a mais baixa, que definitivamente não encarava seu rosto.

— Sabemos do prestígio brasileiro. É um lugar de ótima energia e reconhecimento.

— Sabemos? — Juliette se virou, buscando algo a mais em seus olhos.

— Somos uma equipe, oui? Foram meses de pesquisas.

— E por que chamar uma pessoa famosa, mesmo que ela não seja modelo? — Juliette indagou novamente — Digo, têm muitas pessoas famosas e que estão nesse ramo, sabe?

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora