O Jantar

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O dia tinha sido caótico.
Ao longo de dez horas, Sarah fez apenas três pausas de cinco minutos. Todas elas por questões fisiológicas, com exceção da segunda, na qual ela precisou mesmo comer uma fruta para não desmaiar. Agora o relógio marcava cinco e meia da tarde e o tom alaranjado do fim de tarde saudava os olhos atentos e cansados da empresária. Logo mais, teria que ir pra casa e ela definitivamente não sabia como teria cabeça para lidar com a sua noiva enciumada e visivelmente chateada. A conversa de semanas atrás não tinha sido nada confortável ou fácil, se assim podemos dizer.

"Quem é a Juliette pra você, Sarah? Anda, me diz!"

Sarah virou lentamente para só então erguer o olhar em direção à Priscilla.
Sua noiva estava de pé e com braços cruzados, sua típica posição de confronto. Aquela que Sarah ainda não tinha ideia de como era, mas que estava prestes a conhecer.

"O que quer dizer com isso?"

"Exatamente o que você entendeu." Ela retrucou tão vermelha e quente quanto uma brasa "Eu quero saber quem é a Juliette pra você. Porque até então, aparentemente, eu não te conheço como deveria."

A empresária estralou o pescoço e tirou o blazer, sentando no sofá oposto. Ela não ia fugir, não era mais como antes.

"Eu vi os olhares de vocês, vi os toques, vi a conversa diária. Eu não sou idiota. Além disso, eu ainda achei vídeos de vocês. Não é um amor?" Priscilla soltou uma lufada de ar, esbravejando cada palavra em seguida: "Vocês tinham a merda de algo juntas e não me contaram nada, absolutamente nada. Oh! Espera, ainda tem mais. De uma hora para outra, tudo mudou. Até porque você não queria a merda de um contato com ela. Então, eu te pergunto, Sarah. Quem é ela? Por que mudou?"

"Sinto muito por não ter contado quem era a real Juliette da minha vida pra você, Priscila."

"Agora você sente muito. Agora. Quando eu precisei desconfiar de algo, correto?"

"Se você não se acalmar, eu irei me retirar agora mesmo e subir a escadaria acima. Eu não estou conversando com uma adolescente explosiva." Repeliu seriamente, encarando aquelas orbes verdes faiscantes: "Somos adultas e vamos conversar como tal."

Priscilla respirou fundo e caminhou em círculos pela sala de estar, até decidir ir até o deck da casa. Ela pegou uma garrafa de vinho tinto e duas taças, empurrando uma até a empresária. Abriu em um estalo e encheu ambas, voltando a sentar.

"Comece."

Sarah suspirou.

"Juliette é como o meu ex caso não resolvido." Disparou: "Eu a conheci mesmo no Big Brother, em 2021. Mas já tinha visto ela em Pipa, em um dos eventos que fui com o pessoal da época. Quando eu a vi, eu tinha certeza que ela era a mulher mais bonita do evento. Mas, bem. Era uma admiração comum, afinal, ela é mesmo bonita e eu me entendia como heterossexual." Sarah fez uma pausa, tomando um gole do vinho: "Depois, eu a encontrei naquela casa e pensa bem na minha surpresa de reencontrá-la." Ela sorriu tristemente com aquele mar de lembranças que invadiu seu peito: "Foram dias bem difíceis, mas nos aproximamos de uma maneira intensa. Era bom estar perto dela, de ganhar abraços, cafuné, tudo isso. Ela era e é muito boa para qualquer um e você sabe disso."

Priscila meneou a cabeça, ainda em silêncio.

"Mas tudo se tornou intenso demais. Eu sabia que ela estava gostando mesmo de mim e eu não sabia o que sentir em relação a ela. Eu sabia apenas que queria estar perto, queria abraçar, queria protegê-la e sentia uma saudade absurda dela. Eu a queria. E quando menos me dei conta, estava querendo beijá-la e isso, Priscilla, me assustou." Ela respirou fundo, vagando o olhar pela sala de estar: "E eu fugi dela, do sentimento e principalmente de mim."

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora