Desavenças

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No elevador, Sarah já tinha retirado o blazer preto e apoiado no ombro, aguardando pacientemente a cabine metálica chegar em seu andar. Juliette estava ao seu lado, tentando conter um sorriso que Sarah também impedia que nascesse. Elas ficaram por duas horas no Hyde Park. Após o beijo, elas não trocaram um segundo, assim como Sarah não respondeu diretamente à Juliette.

No entanto, elas conversaram sobre suas vidas agitadas, trocaram carinhos com a ponta dos dedos e principalmente, pequenos beijos no pescoço, nos cabelos castanhos, nas bochechas rosadas. Ambas riram das lembranças e naquele momento, o que era secreto e proibido, começava a tomar um outro rumo. Elas adoraram pensar como seria se elas tivessem coragem para se assumir naquela época. Riram e se abraçaram, caminhando de volta ao hotel.

— Nos vemos mais tarde?

— Uhum. — Murmurou, olhando o corredor vazio. Rapidamente Juliette ficou na ponta dos pés e alcançou a testa da mais alta, deixando um beijo demorado nela — Boa noite, Sarará.

— Boa, Ju.

Ela esperou Juliette entrar, recebendo um beijo que a morena lançou no ar. Precisou respirar fundo antes de entrar no próprio quarto. A realidade caía de modo inexorável na sua frente. Tinha beijado Juliette estando noiva de Priscila. Sabia que tinha feito merda, principalmente porque Priscilla não merecia isso. Sarah suspirou. Como ia contar isso sem ver lágrimas abundantes em seus olhos? Ou sem quebrar seu coração? Também sabia que seria inevitável.

Ela girou a maçaneta e adentrou, ouvindo um silêncio ensurdecedor. O quarto estava completamente escuro, óbvio. Ela deveria estar dormindo nesse horário. E que displicente tinha sido Sarah em ficar beijando Juliette enquanto Priscilla estava doente. Outro suspiro longo. Sua visão noturna finalmente foi estabelecida e ela viu, ao lado de Priscilla, um balde. Seu coração quebrou no mesmo instante. E ao se aproximar, ela se abaixou um pouco e fez cafuné nos cabelos da sua noiva.

— Desculpa, meu amor. — Sussurrou de modo quase inaudível, levantando-se em seguida.

Ela estava prestes a jogar o blazer na poltrona ao lado da cama, quando de repente, o abajur foi aceso de supetão. Sarah se espantou, dando um passo pra trás ao ver a feição nada boa de uma Lara acordada e entorpecida de raiva.

— Lara?

Sarah olhava incrédula para o que seus olhos captavam naquele instante. Tudo bem que ela era cara de pau, mas Priscilla ser? E no quarto delas? Aliás, o que ela estava fazendo aqui?

— Olha, quatro da manhã, Sarah. Teve uma boa noite enquanto a sua noiva estava prestes a desmaiar aqui? — Ela esbravejou baixo, levantando-se para ficar frente a frente com Sarah.

— Mas que porra você-...

— Fala baixo, porra. — Ordenou e Sarah silenciou — Você já deve ter traído essa mulher a essas horas, não vai acabar com o único descanso que ela tem agora. Não vai mesmo.

— Cale a sua boca que você não sabe nada, absolutamente nada, sobre mim. — Rosnou, dando um passo à frente.

— Ah, não sei? Então vai me dizer que você não estava com a Juliette até agora? — Lara soltou um riso sem humor, cruzando os braços — Você é uma imbecil! Era pra você estar aqui. Você, Sarah.

A respiração de Sarah estava sôfrega e descompassada. Ela queria socar a cara de Lara, ao mesmo tempo que não conseguia, por ter perdido o que mais prezava: a própria dignidade.

— Sabe, Sarah. Eu achei que você tinha voltado uma pessoa melhor, mas me enganei. Você continua a mesma de sempre e não diga que não. Agora foi com essa mulher incrível que você chama de noiva, mas depois será com quem? Com a minha amiga?

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora