Memórias

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Nova York Central Park, 15h45.

Era possível ver o vapor do café quente subir e se perder no ar.
A mulher de cabelos negros estava com o corpo apoiado no parapeito, encarando o pequeno lago à sua frente. Havia alguns filhotes de patos nadando e seguindo a sua mãe, cena essa que arrancou um sorriso dos seus lábios. Era outono. E o Central Park não poderia ser mais bela, apesar da brisa fresca que esvoaçava seus cabelos e fazia todos se encolherem, apertando os agasalhos sobre si.

Cinco anos haviam se passado.
E quanta coisa mudou e precisou ser destruída para que aquele olhar hazel se encontrasse em paz agora.

— Caroline. — A voz doce alcançou seus ouvidos — Olha o que achei.

Ela se virou gradativamente, encontrando aquelas orbes esverdeadas como uma esmeralda. Eram brilhantes, vívidas, felizes. A mulher se aproximava com um pequeno esquilo em mãos e a mais alta ergueu uma sobrancelha em sua direção.

— Não acredito que você tirou ele do seu habitat natural.

— Não tirei. Apenas achei. — Falou com obviedade, arrancando mais um sorriso da morena.

— Meu bem, eu acho que ele definitivamente não estava perdido. — Ela tomou um gole generoso do café, limpando os lábios suavemente com a língua.

O olhar da mulher que lhe acompanhava estava grudado naquela mínima ação e até mesmo se esquecera do motivo primordial de ter chamado sua atenção.

— Acho que ele vai gostar disso. — Disse, jogando o copo vazio no lixo e se aproximando de uma pequena noz caída — Não se mexa.

Ela assentiu bravamente e abriu um pouco das mãos, afrouxando o laço que dava no esquilo. Caroline, com uma mão intacta e a noz no centro, observou o pequeno animal cheirar, rodear e finalmente agarrar a noz, colocando de uma vez na boca. Ela riu quando viu que ele claramente não conseguia engolir de uma vez e, por isso, um lado da sua bochecha tinha ficado enorme e com a perfeita silhueta da noz. O esquilo encarou a morena e rapidamente pulou da mão da mulher que lhe segurava, indo finalmente embora do convívio humano.

— Queria criar um esquilo, sabia? — Ela fez um bico e abraçou a cintura da mais alta.

— Já temos um cachorro, é melhor que um esquilo.

— Isso é verdade. — A mulher apoiou o queixo no peito da morena, observando-a atentamente — Você está linda hoje, sabia? — Umedeceu os lábios, mordendo suavemente em seguida.

E Caroline realmente estava linda. Não apenas naquele dia, mas em todos os outros.
Desde que ela saíra do Brasil, sua primeira atitude foi retirar o loiro de seus cabelos e definitivamente, era inegociável a decisão de nunca mais pintar seus cabelos novamente daquela cor. Não podia negar que seu corpo também havia mudado, deixando de lado os procedimentos estéticos e adotando uma alimentação saudável e de treinos diários, realçando e lapidando pequenos músculos na qual, sua mulher se deliciava todas as noites. Especificamente naquele dia, ela trajava um sobretudo longo de couro e roupas pretas por dentro. Seus cabelos estavam soltos e brilhantes.

Mudar, em todos os aspectos, tinha lhe feito bem.

— Só não mais que você, sabia? — Ela grunhiu baixo, girando seus corpos. Apoiou a mais baixa no parapeito e sorriu ao ver sua expressão surpresa pelo ato — O que foi?

— Ainda não me acostumei com a forma que você me olha.

— Ah, é? E como eu te olho, então?

— Hum... Como se me amasse. — Ela apertou o nariz da mais alta — E sabe? Eu acho que também te amo, sabia?

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora