Freire Andrade

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O sol despontava no horizonte.

O relógio marcava 4:45 da manhã e a família Freire e a família Andrade estavam de pé. Uns em seu quarto, terminando de alinhar os últimos detalhes das vestimentas. Outros, completamente ativos, ficando encarregados das comidas e bebidas, além da cerimônia.

Se os raios da manhã dissipou a escuridão, a manhã em João Pessoa indicava amor. Era dia de unir o que tinha de mais sagrado.

A mitologia antiga dizia que cada pessoa era uma só. Tinham quatro braços, quatro pernas e duas faces. Elas estavam completas, porque tinham suas almas gêmeas unidas a si e logo, não faltava mais nada. Contudo, os deuses percebendo essa completude, ordenaram que todos os habitantes fossem partidos ao meio, para que esse vazio desse espaço para a idolatria. E no fim, cada pessoa passava a vida em busca do seu amor. Da sua completude.

Era estranho pensar que demorou trinta anos para que elas se reencontrassem. E mais cinco para que ambas se acertassem e admitissem aquele amor devasso, completo, devastador, proibido, sagrado.

Ninguém diria que tudo aconteceria em um programa de televisão que batia audiência a cada instante que elas estavam juntas com seu melhor amigo. Programa esse supervisionado 24h, onde suas intimidades, verdades e mentiras, estavam expostas. Um jogo de teor milionário, mas que tinha muito mais a ver com humanidade, do que prêmio.

E quanto vale um milhão e meio de reais? Qual o esforço? Qual a perda? Qual o risco? Até que ponto você estaria disposto a arriscar por um milhão e meio de reais?

Elas souberam que não valia a pena se perder por um milhão e meio. E bingo! A vida foi generosa ao seu modo. E deu algo muito mais valioso que um milhão e meio de reais.

Ela deu a sua outra metade.

E dessa vez, ela também seria generosa com esse amor. Metaforicamente falando, o amor sem a sua completude é idolatria, confusão, dúvida. Mas quando se está com ela, com aquela pessoa, a sua pessoa, tudo assume um novo sentido. O sentido que é seu desde seus antepassados.

— Toc, toc, mulher maravilha. Posso entrar?

A empresária girou os calcanhares calmamente. Estava com ambas mãos afundadas na calça de alfaiataria branca, que combinava com seu terno. Tinha uma flor de lapela vermelha presa à ele. Seus cabelos estavam soltos e completamente lisos. Não mais castanhos, mas sim, loiros. Uma surpresa que ela tinha preparado.

— Você está perfeita, amiga. — Pietro se aproximou, tocando em suas mãos — Radiante, bela, mon cher.

— Estou nervosa, Pietro.

O francês sorriu ternamente, puxando ela para seus braços.

— É o seu dia. Fique nervosa e sinta tudo o que puder, tá bom? Só não diga não.

— Não sei se serei uma boa esposa. — Suspirou, ainda de olhos fechados — Mas eu a amo tanto.

— Você é uma boa mulher, uma boa empresária, boa amiga, boa filha. Por que não seria uma boa esposa e mãe, mon cher?

Sarah sorriu aliviada, voltando a encará-lo.

— Acho que é ansiedade. — Eles riram juntos e confirmaram em seguida — Assim como estou ansiosa agora. Nem conseguir dormir.

— Ouvi dizer que colocaram calmante na bebida da sua noiva ontem.

Mais três batidas na porta, seguida da figura de Priscila, trajando um vestido azul serentiy. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque, com apenas dois fios soltos na frente.

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora