Luzes

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Cor com G.

— Gelo.

Sarah ergueu o olhar em direção à uma Juliette de sorriso largo e sapeca. Encarava a mulher com uma das sobrancelhas erguidas, como se perguntasse silenciosamente se aquilo era sério mesmo.

Após a conversa na mesa de jantar, ambas foram bruscamente interrompidas por uma queda de energia, que disparou seus batimentos cardíacos. Sarah não esperava por aquilo, principalmente se tratando do hotel esplêndido que nunca tivera problemas com isso durante os meses que ela se hospedou nele.

Juliette desceu do seu colo apenas para tatear a mesa e sem querer, afundar a mão no prato de sopa quente, choramingando pela ardência que sentia. A empresária, porém, foi mais rápida. Retirou o celular do bolso e ligou a lanterna, soltando um suspiro enquanto a levava pacientemente até a pia do banheiro para lavar e aliviar a pequena e quase inexistente queimadura.

Logo depois, desceram juntas pela escadaria, a fim de encontrar velas e realmente encontraram. Agora, sem luz e em um calor sobrenatural, sob os sons extremos das trovoadas, elas jogavam a adedonha, numa tentativa de passar o tempo.

— Desde quando gelo é cor, Juliette?

— É, sim. — Cruzou os braços emburrada — Quer pesquisar pra ver?

— Não preciso pesquisar pra saber que não é. Eu nunca vi ninguém dizendo: "ô, me dá uma camisa cor de gelo".

Juliette riu e franziu o nariz, dando de ombros.

— Coloque zero.

— Nhe. — Ela encarou a mais alta — É cor, sim.

— Juliette... — Sarah cerrou os olhos — Coloca. Zero.

— Tsc, tsc. Não mesmo.

Em um pulo, Sarah puxou a folha sob o protesto de uma morena raivosa que a atacou, iniciando assim, uma disputa entre as duas.

— Devolve, Caroline. — Resmungava, tentando pegar a folha por cima da empresária — Oxe, aceita perder não, é?

— Ai, Juliette. — Ela ria, enquanto uma coloração vermelha se formava em suas bochechas — Coloca zero que eu devolvo.

— Tá, tá. Eu coloco. — Juliette finalmente puxou a folha, anotando um dez.

— Ei, trapaceira.

— Realista, bebê. Vai, animal com G.

— Gato.

— Gambá. — Anotou outro dez, encontrando o olhar de Sarah — O que foi?

— Por que você pensou gambá?

Dessa vez, Juliette franziu o cenho.

— Ninguém pensa em gambá. — Prosseguiu — Pensa em gato, galinha, galo, garça...

— Deve ser porque minha mente é de titânio. Sabe? — Ela se endireitou na cama — Poucos vêm com essa configuração. — Piscou um olho em sua direção.

— Você veio com muitas configurações, então.

Sarah comentou despretensiosamente, enquanto observava Juliette anotar algo. Porém, o olhar da paraibana se ergueu quando uma movimentação se fez presente na sua visão periférica. Sarah levantou e estava prestes a retirar a camisa que vestia.

— O-o que você está fazendo?

— Isso está ficando uma sauna, Juliette. — Reclamou — Tem problema se eu tirar?

Problema? Óbvio que não, CLARO que não. Juliette mordeu os lábios involuntariamente enquanto pensava.

— Não, nenhum.

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora