Trabalho

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— Nossa! Você chegou, amor. Não foi lá em cima?

Sarah negou, compenetrada nas próprias anotações.

— Sarah. — Juliette chamou pacientemente, sentando-se ao seu lado na mesa — Dá pra olhar para mim?

— Desculpe. — Um suspiro saiu dos seus lábios, assim como o óculos de grau — Estou cansada.

Não era a primeira vez que Juliette ouvia isso na fração de três meses.
Quando receberam a notícia que a morena estava grávida, isso em dezembro, foi a maior alegria de suas vidas. Todas as noites elas conversavam com os pequenos bebês que ainda se formavam gradativamente no ventre da paraibana. Porém, foi no mês de Março que tudo começou a desandar. Juliette tinha decidido, enfim, dar uma pausa na carreira. Não apenas nos shows, como havia comentado com a brasiliense, mas com tudo.

Elas haviam ido ao médico na semana seguinte e o que escutaram dos seus lábios foi o ponto necessário para tomarem essa decisão. Era uma gravidez delicada. Exigia cuidados e o máximo de repouso possível. Qualquer stress ou sobrecarga poderia ser fatal. Logo, todos os seus compromissos foram devidamente cancelados. O que restou para a empresária prosseguir lidando com suas vidas profissionais. Ela tinha uma empresa para tocar, além dos seus negócios bem instalados no Rio de Janeiro e em São Paulo que deram um retorno positivo. Além disso, também estava vistoriando a empresa da sua noiva. E como um todo, precisava participar de reuniões e estar presente em compromissos inadiáveis, mesmo sob a promessa que tentaria estar em casa o quanto pudesse.

Mas aí que estava a coisa.
Por mais que Sarah estivesse em casa e tivesse trocado o presencial para o home office - quando assim dava, a brasiliense parecia estar sempre no trabalho. Vivia trancada no escritório e no pouco que passava fora dele, apenas ouvia, sem dizer muitas coisas. Juliette definitivamente a admirava muitíssimo, mas sentia saudades do seu amor. Não que tivesse seus beijos a noite, seu colo ou ainda, o sexo maravilhoso que faziam constantemente. Não. Isso ela tinha. O que realmente estava faltando era a atenção dela, das conversas, dos seus momentos que pareciam ter sido aniquilados pelo trabalho.

— Por que não subiu?

A camisa branca estava amassada e os três primeiros botões abertos. Debaixo dos olhos da sua mulher, era possível notar algumas olheiras perversas que insistiam em aparecer. Além disso, seus cabelos morenos estavam rebeldes. A xícara de café permanecia intacta ao seu lado, assim como os ovos e a taça de frutas.

— Precisei terminar de analisar o relatório de algumas finanças. Desculpe mesmo, eu deveria ter subido. Também não quis te acordar.

Juliette suspirou e assentiu lentamente, puxando a taça de salada de frutas que era da sua namorada.

— Está chateada?

— Estou preocupada. — Ela levou uma garfada de morango e manga à boca — Você lembra do que combinamos de fazer hoje?

Sarah ficou em silêncio. Sua cabeça processava números, contas, aquisições, compromissos e um grande vazio em seguida. Ela puxou os lábios com os dentes e mordeu. O que tinha pra hoje, além de suas reuniões?

— Íamos começar a organizar o quarto dos nossos filhos.

Graças a tecnologia, Sarah e Juliette haviam adiantado um ponto muitíssimo importante para elas. Não era um, mas dois. Eram gêmeos. E a probabilidade de nascerem um com os óvulos de Juliette e outro com os óvulos de Sarah eram imensas.

— Ah! Sim, claro. O quarto. Lembrei! — Ela massageou as próprias têmporas e encarou a namorada — Desculpa, eu não lembrei. De novo.

— Admiro tanto você, Sah. Mas esse trabalho, ou melhor, essa tua dedicação exclusiva ao trabalho está acabando com a gente.

Irreplaceable | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora