Dean e Sam Winchester estão atrás do pai. Eles investigam seu último paradeiro: a pequena cidade de Jericho, e acabam conhecendo uma jovem simpática durante a tentativa de resolver um caso.
Com os cartazes nesse estado, eu não posso espalhá-los por aí. Então bebo meu café gelado com caramelo e chantilly e volto para casa.
Eu realmente não gostaria de voltar. Em um domingo bonito como esse, eu preferiria mil vezes estar por aí. Bem longe. Mas não tenho para onde ir, então me conformo com minha casa. Pelo menos posso me trancar em meu quarto para ouvir música. Que seja.
Destranco a porta e entro em casa. As paredes claras refletem bastante luz do sol, o que para mim é a definição de aconchegante. Tudo que essa casa não é, graças a uma pessoa em específico.
Olho ao redor e me deparo com a bagunça. Resmungo com um suspiro profundo e logo jogo os cartazes manchados no lixo. Começo e recolher as coisas espalhadas pelo chão: um casaco sujo aqui e ali, carteiras de cigarro vazias em cima das bancadas e inúmeras garrafas de cerveja também vazias.
O cheiro de cigarro entra profundamente em meus pulmões. Minha mãe desce as escadas, com os olhos meio inchados. De choro, suponho. Não muito diferente de mim.
Ela tem traços físicos bem parecidos com os meus. Os cabelos longos de cor castanha, como a terra molhada; o tom de pele bem parecida, clara mas suavemente bronzeada; olhos marrons amendoados e um rosto em formato de coração.
A única coisa que tenho a mais, é a mandíbula bem marcada que herdei de meu pai. Digamos que noventa por cento de meus traços herdei de minha mãe. Inclusive os lábios bem carnudos.
Ela está com seu roupão e o cabelo preso em um coque, me olhando com cansaço.
ᴄʀᴜᴇʟ ᴇ ᴇꜱᴛᴜ́ᴘɪᴅᴏ! Ele está em casa? —— sussurro. —— Não... —— Que bom! É menos pior quando ele está fora. —— digo, jogando as coisas no lixo —— Essa casa fede a ele!
—— É melhor limparmos isso logo. Ele deve estar em algum bar... Vai chegar bêbado. E você já sabe como é.
—— Você devia largar dele logo! Essa casa é um inferno, mãe. —— Eu sei. Mas ele não vai aceitar isso fácil.
—— Mas precisamos tentar! Isso não é vida! Apanhar igual saco de pancada... Esse homem é um louco.
—— Ele não vai aceitar, minha filha. —— Estou cansada dele. De tudo isso. Vamos denunciar e sumir! Ele apaga quando chega bêbado. Podemos sair e a polícia faz o restante.
—— Eu ainda amo o seu pai... —— Mãe! Como pode amar um homem que faz da sua vida um inferno? —— pergunto, com descrença.
—— Eu não sei... Ele não era assim quando casamos. —— Mas agora ele é assim. Aceite que você não pode mudar as pessoas... Ele escolhe ser assim. Isso não é vida! Eu estou cansada! Nós devíamos...
—— Vamos limpar isso logo. —— ela diz, pegando uma vassoura e sumindo de minha visão —— Ele deve chegar até o anoitecer. Fiz sanduíches, tem um na geladeira se você quiser.
Limpo as lágrimas que escorreram em minhas bochechas. Eu me sinto tão impotente! Tão fraca, tão idiota!
Eu devia fazer algo quanto a isso, mas não posso. O único motivo de eu ainda estar de baixo desse teto é minha mãe. Querendo ou não, é minha única pessoa. Ela que cuida de mim. Sempre cuidou. Me sinto covarde de abandoná-la aqui com esse homem.
Mas eu estava decidida, isso iria acabar essa semana ainda. Eu vou convencer minha mãe. Esse nojento vai chegar em casa, deitar para dormir e nós iremos dar o fora, para bem longe! E eu irei denunciar.
(...)
Assim que terminamos de limpar, eu me apresso em comer o sanduíche. Pego uma muda de roupas em meu quarto e vou direto ao chuveiro.
Deixo a água quente cair por meus ombros, relaxando. Massageio os hematomas dos braços, na esperança de que sumam mais rápido.
Sorte minha estar de mangas longas quando aquele policial me encontrou. Ou azar... Quem sabe, se ele tivesse visto, esse problema já estivesse resolvido...
Ele parecia ser um cara legal. Tem olhos lindos e um sorriso bem atraente. Estalo a língua, negando com a cabeça. Pare com isso, Ellie.
De banho tomado e vestindo um pijama leve, penteio o cabelo e escovo os dentes. Vou direto até meu quarto e tranco a porta assim que entro.
Encaro o papelzinho com o número do policial em cima de minha cabeceira. Penso se deveria ou não pedir ajuda.
Eu sinto tanta vontade de contar tudo. Mesmo não o conhecendo, sinto que esse homem pode me ajudar. E se eu pedisse ajuda?
Balanço a cabeça, deixando esse assunto de lado e me deitando em minha cama. Não quero incomodar.
Coloco meus fones e pego um livro. Desde pequena, é assim que faço para fugir da realidade. Da infância até a adolescência funcionou bastante, uma pena que agora eu não consigo me distrair tanto quanto antes.
Mergulho na leitura enquanto escuto as clássicas da banda Metallica. Mas meu momento de paz infelizmente não dura muito. Logo escuto o estrondo alto da porta da frente batendo e gritos.
Puxo os fones e largo o livro, ficando atenta. Isso já é rotina aqui em casa, mas mesmo assim eu não consigo simplesmente ignorar. Algo de vidro é arremessado no chão e posso ouvir estilhaçar.
Imagino que ele possa estar prestes a bater em minha mãe, então resolvo sair do quarto.
—— Mãe? —— chamo, caminhando em passos hesitantes até a sala.
Ele estava agarrando seu cabelo, a mantendo presa. Chego bem a tempo de assistir ao tapa forte que ele deposita em seu rosto.
—— Eu estou bem. —— ela se apressa em dizer, com a mão na bochecha.
—— Suma daqui. —— Joe diz para mim. Posso sentir daqui o cheiro de álcool, seu olhar possui desprezo.
Eu que deveria sentir desprezo. Estou trancada dentro de casa com um velho cruel e estúpido.
—— Solta ela. —— peço. A última coisa que eu gostaria nesse momento, era pedinchar algo a ele. Mas a situação é séria. Ele está mais agressivo que o normal hoje.
Geralmente, ele procura uma desculpa antes de fazer qualquer coisa. Hoje ele sequer esperou oportunidades, apenas chegou fazendo o que faz de melhor: o inferno na minha vida.
—— Eu disse para sumir da minha frente. —— E eu disse para soltar ela! Ou eu vou chamar a polícia! —— digo, tentando soar firme, mas me encontro trêmula.
Ele a solta e se vira em minha direção. Essa última frase foi uma péssima ideia —— penso. Prendo o ar e dou alguns passos para trás.
—— Polícia? —— ele questiona, com um sorrisinho travesso, avançando alguns passos até mim, enquanto recuo.
—— Ela não vai. Deixe ela, por favor. —— a mais velha choraminga. —— Calada, mulher.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Mais um capítulo entregue. Espero que estejam gostando da história!